A busca obsessiva da felicidade pelo homem, talvez seja a maior
causa de sua infelicidade. É curioso, mas talvez a maioria de nós possa
perceber, pelo menos intelectualmente, em si mesmo, que teríamos desde que
acordamos muitos motivos para estarmos contentes com a vida, mas tomamos estas
coisas como fatos naturais.
Por exemplo, acordamos com a temperatura amena de 23 graus de um
dia de céu de brigadeiro e tomamos o episódio como coisa, talvez nem reparemos.
Agora, basta que uma chuva surja inesperadamente para “estragar o dia”. Por que
será que aquilo que é “ruim", digamos assim, tem uma dimensão péssima e
aquilo que é bom, normal?
Mas voltando a busca obsessiva pela felicidade o que menos gosto
é sua impossibilidade tomada como incapacidade pessoal. Explico: é a tendência
que, principalmente, nós ocidentais temos de recalcar a parte daquilo que não
gostamos, fazendo de conta que existe em algum paraíso possível, somente aquilo
que gostamos.
E se não o conseguimos
não é porque é impossível, mas é porque somos incompetentes. E como ninguém
quer ser incompetente a indústria da felicidade movimenta muito dinheiro.
Vejamos alguns pontos em que a busca de uma felicidade constante
é uma falácia.
1- Se o homem fosse somente feliz ele não suportaria sua existência,
simplesmente porque se trataria de um excesso. Tanto é assim, que algumas
pessoas buscam ativamente a insatisfação quando se consideram excessivamente
satisfeitas, gozando dela.
2- Como somos sujeitos divididos entre o eu da razão e o sujeito
do desejo, em muitos momentos da vida quando um pede uma coisa (o eu da razão,
por exemplo) e luta arduamente por isso, o outro, no caso o sujeito do desejo,
já está querendo outra. Tipo: levo cinco livros para uma viagem de 12 horas de
avião. Quando chego ao aeroporto, desejo ler na viagem o outro livro que está
na vitrine da livraria e por aí vai. Porque desejo é isso mesmo, sempre
querendo aquilo que não temos.
3- O sofrimento, nos ensinou Freud, pode chegar de três formas sem
que tenhamos controle sobre nenhuma delas:
a) De nosso próprio corpo, condenado à decadência e à
dissolução, que não pode sequer dispensar o sofrimento e a angústia, como
sinais de advertência;
b) Do mundo externo, que pode voltar-se contra nós com forças de
destruição esmagadoras e impiedosas;
c) De nossos relacionamentos com os outros homens.
Do nosso relacionamento com outros homens, não podemos jamais
esquecer que somos homens e mulheres do narcisismo, ou seja, que gostamos de
ser amados e reconhecidos pelo traço que nós temos como valor para nós mesmos e
não suportamos bem quando isto não acontece. Em primeira instância machuca. O
que faz a diferença é o que cada um faz com esta dor.
Um exemplo cotidiano: posto algo no Facebook, Instagram ou
WhatsUp (esse algo já julgo importante, senão não postaria), no primeiro like a
sensação de conforto. Sou amado e reconhecido por algo que valorizo.
Exemplos que a literatura consagrou: o mito de narciso que
ficava fascinado com sua imagem no lago e o da madrasta da branca de neve, que
perguntava ao espelho:
"- espelho, espelho meu há no mundo alguém mais bela do que
eu?”
Lembrando que para nós mortais o espelho são os outros, e se por
um lado narciso acha feio aquilo que não é espelho, por outro, os outros nunca
vão nos responder a todo o momento:
- Sim és a mais bela.
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