terça-feira, 18 de agosto de 2015

PF investiga seita que usaria fiéis como 'escravos'


As doações feitas por fiéis já teriam chegado a R$ 100 milhões, que teriam sido usados por líderes para compra de casas e carros de luxo.


A seita Jesus, a Verdade que Marca, com forte atuação no sul de Minas, foi alvo nesta segunda-feira (17) da segunda operação da Polícia Federal em pouco mais de dois anos. Líderes do grupo, criado há mais de uma década, são suspeitos de convencer fiéis a fazer parte da seita, obrigá-los a doar bens e submetê-los a trabalhar em condição análoga à de escravos em fazendas que adquiriram na região.

Para a operação, chamada De Volta para Canaã, foram emitidos pela 4.ª Vara da Justiça Federal em Belo Horizonte 6 mandados de prisão, 6 de busca e apreensão, 47 de condução coercitiva e 70 de sequestros de bens em 7 cidades de Minas, 5 da Bahia e em São Paulo. Conforme levantamento da Polícia Federal, as doações feitas por fiéis já teriam chegado a R$ 100 milhões, que teriam sido usados por líderes para compra de casas e carros de luxo.

Os mandados foram cumpridos em Pouso Alegre, Poços de Caldas, Andrelândia, Minduri, São Vicente de Minas, Carrancas e Lavras (sul de Minas); nas cidades baianas de Remanso (Região de Juazeiro), Morpará, Barra e Ibotirama (Região de Barra) e Cotegipe (na região de mesmo nome); além da capital paulista. Os mandados de prisão foram cumpridos pela manhã e todos para líderes da seita foram encaminhados para a sede da Polícia Federal em Varginha. Ainda foram bloqueados judicialmente 39 imóveis e 100 carros.

Segundo Alexsander Paketoni, um dos delegados responsáveis pela operação, o esquema previa o uso da religião para enganar as pessoas. "Com base em um relatório elaborado em conjunto com o Ministério do Trabalho, nós passamos a investigar as pessoas que estão na cúpula da organização." Conforme o delegado, os líderes do grupo, que pertenciam a igrejas evangélicas, deixaram de frequentar os templos e se dedicavam exclusivamente à seita.

Paketoni disse ainda que a cúpula da organização colocava "laranjas" no comando de empresas que criava. "Ficou constatado que pessoas não tinham nenhum tipo de renda que possibilitasse a elas serem os reais donos daqueles empreendimentos", disse o delegado. Ainda conforme a PF, o início do esquema da Jesus, a Verdade que Marca na Bahia ocorreu depois que a corporação passou a investigar a seita em Minas.

Começo
Na operação anterior, realizada em 23 de abril de 2013 e batizada de Canaã, líderes da seita também haviam sido presos. Hoje, o grupo teria pelo menos 150 pessoas em cada uma das cerca de dez fazendas localizadas nas cidades mineiras onde a PF executou a operação de ontem. 

Em 2011, a seita foi alvo de Polícia Federal, Ministério do Trabalho e Ministério Público do Trabalho, que fizeram inspeções em propriedades rurais. À época, não foi constatado trabalho análogo ao de escravos, mas foi verificado que líderes estavam com cartões do Bolsa Família e de aposentadoria que não lhes pertenciam.


Ao longo das apurações foi verificada a existência "de um sofisticado esquema de exploração do trabalho humano e lavagem de dinheiro levado a cabo por dirigentes e líderes religiosos", conforme informou a Polícia Federal.

Ainda segundo as investigações da PF naquele ano, a seita teria começado suas atividades em Ribeirão Preto (SP) e expandido o esquema para outros Estados.


Comente este artigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário