Nos jogos de futebol,
sempre aparece o gritinho, repetidas vezes, de “sou brasileiro, com muito
orgulho, com muito amor...” Até emociona, mas a cidadania orgulhosa do
brasileiro fica restrita aos estádios.
Esta euforia precisaria
ir além do futebol e alcançar ações coletivas no dia a dia. Reforça essa tese
esperta, contida na frase “o brasileiro não desiste nunca”. Isso serve para
deixar-nos contentes e para ficarmos acomodados, mesmo diante do aumento de
impostos constantes para benesses daqueles que fazem essa apologia.
Com relação à frase em
si, seria importante saber por que há o orgulho em ser brasileiro. Poderia ser
por ter um País com distribuição de renda justa, sem disparidades galácticas
entre ricos e pobres.
Poderia ser por viver
num País onde se curasse uma dor com facilidade. Todos os dias, as notícias dão
conta de pessoas morrendo nas filas de postos de saúde e de hospitais, sem
qualquer atendimento. O ápice nessa questão são pessoas com câncer sem medicamentos
e sem aparelhos para diagnosticar a doença.
Poderia ser por viver
num País tranquilo – o que é apregoado pela mídia, de modo geral, mas aqui
morrem, assassinados, mais de 50 mil a cada ano. E esses números não diminuem.
Não existe estatística aceitável sobre crime, mas se aceitássemos um quinto
desse número, ainda assim seriam mais de 10 mil, número maior do que em
centenas de partidas nos campeonatos nacionais de futebol.
Poderia ser por ter um
povo bem-educado formal e de comportamento. Hoje, o dinheiro mais desperdiçado
neste País é o investido na educação, porque ninguém está ensinando e ninguém
está aprendendo nada. Os ensinos fundamental e médio, no Brasil, são uma
vergonha.
Poderia ser o esporte a
razão de tanto orgulho. Em todos os tempos de Olimpíadas, temos poucas medalhas
de ouro a mais do que o nadador norte-americano Michael Phelps sozinho. No Pan
Americano que se realizou no Canadá, agora em 2015, o Brasil tem um feito
esplendoroso. Verdadeiro. Mas são esplendorosos com relação aos nossos
resultados anteriores. Só que os índices que nos deram mais de uma centena de
medalhas nos dariam, no máximo, umas duas em Olimpíadas.
Sobram os políticos.
Ah! Sobre eles, vale a pena mencionar que o povo não os suporta mais e vem
reagindo. O ex-ministro Guido Mantega não consegue mais ir a locais públicos. A
mídia sempre o defende e ataca a quem o hostiliza. Como outras feitas pela
mídia nacional, essa defesa também é suspeita por demais. Mas, se os políticos podem ser aplaudidos
quando deixam o povo satisfeito, a recíproca pode – e deve – ser proporcional.
Por enquanto, o orgulho
de ser brasileiro fica adstrito aos clichês futebolísticos. O amor é subjetivo,
e a Síndrome de Estocolmo pode explicar essa paixão pelo nosso País, por nós
mesmos. Tudo bem quanto a não desistir nunca, mas é preciso transformar clichês
em ações duras, constantes e solidárias.
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