O homem tenta, mas
ainda não inventou uma ferramenta de comunicação tão eficaz quanto o poste.
Nada no mundo moderno consegue derrubar a condição noticiosa dessa base de
concreto ou madeira, instalada nas quadras a cada 30, 40 metros.
Eu sou um leitor dos
postes. Cada um deles tem sua própria editoria. Existem os postes culturais,
responsáveis por divulgar os shows, os espetáculos e as apresentações
programadas para a cidade. Existem os postes de serviço, em que a gente sabe
quais as excursões que vão partir rumo a compras na Serra, descanso em um
complexo termal ou passeio turístico. Outros são destinados ao mercado,
oferecem vagas de emprego e recebem currículos, e alguns funcionam como
consultório sentimental.
Há pouco tempo o Diário
Popular publicou uma foto curiosa, com a mensagem deixada por alguém que
procurava companhia para aplacar a solidão da vida. Outra função que só os
postes oferecem, sem discriminar o autor ou exigir algo em troca. A mensagem,
engraçada e sincera, com erros de Português, tinha o seguinte conteúdo:
"Alguma solterona está afim de namoro? Eu sou nego, magrinho, humilde, não
sou bonitão. Eu gosto das mulhe que não vai para os baile".
Há alguns anos o
quadrinista paulista Laerte publicou a história do personagem que falava com os
postes da Vila Madalena. Era considerado louco pelas pessoas porque dava
bom-dia, boa-tarde e boa-noite às peças fixadas nas calçadas. Além disso,
trocava ideias sobre assuntos variados. Até presenciar a briga de um casal que
estava de mudança para o bairro, mas havia se perdido e não sabia onde ficava a
casa nova. Após subirem em um poste com o estranho, tiveram uma visão única da
cidade, lá do alto, e encontraram o futuro lar.
Os postes fazem parte
da nossa vida desde o momento em que nascemos. Na infância eles são a
referência para a brincadeira de esconde-esconde ou a trave nas partidas de
futebol de rua. Na adolescência é onde a gente costuma ficar escorado
conversando com os amigos. E na fase adulta o local para as leituras rápidas.
Fico impressionado
ainda com a atualização das informações. Como se fosse um site, os postes têm
novidades toda semana. O cartaz de hoje nunca é o mesmo de amanhã. Sempre há
algo diferente para ser observado.
Na frieza do concreto pintado de branco e
cheio de fios, existe vida intensa, o cotidiano da cidade em rápidas mensagens.
O poste é o jornal da rua, com clientes fiéis.
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