O mês do
cachorro louco começa hoje e com ele as conhecidas crenças e superstições que o
envolvem. Dizer que agosto traz desgosto não é apenas uma péssima rima, mas
pode ser também uma mentira de pernas bem curtinhas.
Abriram-se as comportas da represa do azar. Uma verdadeira
boiada de má sorte e infelicidade estourou a porteira dos meses. O gato preto
atravessou de vez nosso caminho. É preciso que todos saibam que a nuvem negra
do desgosto paira, a partir de hoje, sobre as cabeças de todos nós: seres
indefesos perante as intempéries do deus maligno de agosto.
E coitados de nós, joguetes na mão do destino, sem o mínimo de
autonomia sobre nossa própria vida. Afinal, tantas foram as tragédias
acontecidas em agosto que nem Cesar Augustus (imperador de Roma do ano 8. a.C
que deu o nome para o mês) poderia se justificar. O suicídio de Getúlio Vargas,
a morte de Juscelino Kubitschek, de Elvis Presley, de Carmem Miranda, Marilyn
Monroe e da princesa Diana, além do estouro da Primeira Grande Guerra e da
devastação das cidades japonesas Hiroxima e Nagasaki, são exemplos de como o
mês de agosto pode ser nefasto e terrível.
Se a voz do povo é a voz de Deus, as várias crenças populares
envolvendo o mês de agosto nos dizem de um Deus malfazejo, estilo Jogos
Mortais, que se apraz em “jogar um jogo” com a humanidade todo ano, na mesma
esperada e temida época.
Ok, os fatos não negam: muitas mortes, assassinatos, tragédias e
suicídios aconteceram em agosto. Mas águas passadas não movem moinho, não é?
Será que associar o mês ao “tinhoso” não é demasiado exagero? Afinal, sabemos
que coisas boas e ruins acontecem em todas as épocas do ano. Parece bobagem,
mas ainda existem muitas pessoas que não fazem negócios, não compram imóveis,
não se casam, não viajam e nem se mudam em agosto. Para eles é melhor prevenir
do que remediar. Claro que cada macaco tem o seu galho de opinião. Mas será que
tanta precaução é realmente necessária?
Numerologia
É certo que o imaginário popular é repleto de crenças e
superstições. Mas quem conhece uma história verídica de alguém que comeu manga
com leite e morreu? Será que se você já comeu a última bolacha de um pacote ou
o último pedaço de um bolo e mesmo assim se casou, você realmente deve se
considerar uma pessoa de sorte?
O numerólogo Walter Prado, considerado o “numerólogo dos
famosos”, em entrevista ao DM explica como surgiu a má fama do mês de agosto no
Brasil. “O mês de agosto sempre teve uma má fama devido às circunstâncias que
envolviam a infraestrutura em todos os Estados brasileiros e ao clima quente e
seco típico dessa época do ano. Na época de nossos avós, não possuíamos saúde
adequada, o que hoje ainda é um problema. Existiam muitas ruas sem asfalto,
lixo nas ruas, moscas, os caminhões de lixo não venciam atender a demanda”.
O numerólogo continua: “O mês de agosto, devido ao clima quente,
propicia também que as cadelas entrem no cio. Daí os cachorros brigam pelas
fêmeas e, se recebem mordidas de um animal afetado com a raiva, proliferam a
doença até para as pessoas na cidade. Daí o costume de se dizer que mês de
agosto é mês do cachorro louco”.
Calor, poeira, lixo, escassez de água, cachorro louco nas ruas…
O mês de agosto tem tudo para ser péssimo, não? Claro que não! Walter
desmistifica as crenças negativas relacionadas ao mês e dá uma visão, pautada
na numerologia, bem diferente das que estão calcificadas no imaginário popular.
A numerologia, afirma Walter Prado, “nos demonstra um mês
abençoado. Representado pelo número 8, número do movimento, nos traz o clima
forte, um sol brilhante, uma luz irradiante e, com esta energia, muito mais
sucesso em tudo o que empreendermos. É o mês oito é mês do movimento em todos
os aspectos, mês de se ganhar dinheiro, empreender negócios e se fortalecer na
saúde e no amor”. E finaliza: “Mês de agosto é o mês de se ganhar dinheiro”.
"Acho que as pessoas devem parar de se preocupar com o que
dizem as crenças e simplesmente aproveitá-lo, afinal, o tempo voa", afirma
Adrielly, casada com Waldir desde agosto de 2013
“Acho que as pessoas devem parar de se preocupar com o que dizem
as crenças e simplesmente aproveitá-lo, afinal, o tempo voa”, afirma Adrielly,
casada com Waldir desde agosto de 2013
Casar em agosto traz desgosto
Há indícios de que a má fama do mês tenha origem portuguesa.
Isso porque, na época das grandes navegações, agosto era o período em que os
navios zarpavam para as grandes expedições. Devido a isso, as mulheres
portuguesas não se casavam nunca em agosto, pois isso significaria a ausência
do noivo por longo período, além de não ter lua de mel, e o grave risco de
ficar viúva.
Ainda é forte no Brasil a crença de que casamento em agosto traz
azar para o casal. Diferentemente de maio e de outros meses nos quais a demanda
aumenta expressivamente, em agosto as igrejas permanecem quase que
completamente vazias.
Josi Lobo, cerimonial de eventos de Goiânia considerada a
“queridinha das noivas”, em entrevista ao DM comenta a respeito da crença de
muitas noivas em relação a agosto: “O universo das noivas já é tão intrigante,
elas precisam pensar no vestido, na roupa do noivo (sim, porque nem isso eles
decidem), na mesa de bolo, na decoração, no coral e em outras mil coisas. Elas
precisam, além de tudo isso, pensar na data. Como se não bastasse pensar se vai
chover, se vai estar frio ou calor demais, ainda escutam das avós: ‘Não case em
agosto minha filha, dá azar!’ “.
Devido a essa má fama, apenas alguns poucos gatos pingados ousam
brincar com fogo e ignoram a “sabedoria” popular sobre o mês. É o caso de
Adrielly Gonçalves, empresária da área de eventos, que se casou com Waldir em
agosto de 2013. Em entrevista do DM, Adrielly nos conta que muitas pessoas
próximas demonstraram desconforto com a data escolhida pelo casal: “Na época em
que decidimos nos casar, muitos parentes e amigos criticaram a escolha do mês,
por dizerem ser um mês de azar, alguns até se empenharam em nos fazer mudar a
data, mas não abrimos mão do nosso dia ser neste mês”.
Apesar do preconceito de algumas pessoas, Adrielly demonstra uma
visão muito positiva sobre o mês e não se arrepende da escolha da data. “Não
ficamos com medo de nos casar em agosto, porque pra nós tudo é uma questão de
fé. Não acreditamos que qualquer coisa poderia dar errado por ser este mês,
pelo contrário, as coisas quando têm que dar certo, simplesmente dão, e quando
tendem a não dar certo, não é um mês que define isso”. E conclui: “ O mês de
agosto é um mês lindo, ensolarado, quente e pra mim, um mês de muito amor. Acho
que as pessoas devem parar de se preocupar com o que dizem as crenças e
simplesmente aproveitá-lo, afinal, o tempo voa”.
Juliana Uchoa, psicóloga, que se casará hoje com Flávio Andrade,
relata: “Escolhemos agosto por ser final de férias e os meus parentes, assim
como os parentes do meu noivo, estarem disponíveis. Ninguém até agora
demonstrou preconceito com a escolha da data, mas as pessoas comentam, me
chamam de corajosa, porque todo mundo tem muito medo do mês de agosto. Mas nós
não somos supersticiosos e acreditamos que não existe dia ou mês ruim quando
duas pessoas se amam de verdade”.
A cerimonial Josi Lobo, apesar das histórias de recusas de
noivas em se casar em agosto, possui opinião parecida e afirma: “não me sinto
no direito de entrar nessa onda de azar, acho que o amor não tem mês, não tem
data e nem horário certo para acontecer, ele acontece individualmente e de
forma muito especial para cada casal! Viva o amor em qualquer ano, em qualquer
estação, em qualquer dia, viva o amor até no mês de agosto!”.
“Agosto”de Deus
É certo que todos os meses do ano são propícios a acontecimentos
bons e ruins. Agora estar certo de que agosto é mais atraente para
“desaventuranças” do que os outros meses é o mesmo que tentar provar que deixar
o chinelo virado é realmente responsável por todas as mortes de mães do
planeta.
Não existem estatísticas de que os casos de violência e morte
acontecem com mais frequência só pelo fato de o calendário ter descartado sete
de suas doze páginas. É o que assegura o delegado Izaías Pinheiro, do Terceiro
Distrito Policial. “O mês de agosto para nós é um mês normal. Não há nada na
prática do dia a dia que evidencie um aumento de ocorrências nessa época. Não
há explicação científica para essas crenças”.
Não há explicação científica, mas as crenças envolvendo o mês,
de cunho cultural, são suficientes para alimentar a má fama de agosto. Cabe a
nós (aqueles pobres joguetes nas mãos do destino) fazer limonadas saudáveis e
refrescantes com os limões que agosto, assim como todos os meses do ano, nos
der. Isso significa assumir uma postura positiva perante a vida e o futuro, que
é sempre a atitude mais acertada, conforme nos aconselha o numerólogo Walter
Prado:
“Todos os meses são abençoados, cabe a nós vivenciarmos cada dia
com diligência, cada semana com amor e respeito a tudo a nossa volta. A
dignidade de nossos atos nos traz todos os dias respostas criadas por nós
mesmos. Sejamos felizes amanhecendo e anoitecendo agindo de forma agradecida
pela vida e pelas oportunidades que estar vivo nos permite”.
Como sabemos, as aparências enganam e nem tudo o que reluz é
ouro. Assim, mesmo com a fama de ovelha negra dos meses, agosto pode ser
sinônimo de alegria e positividade, dependendo do ângulo em que escolhermos
observá-lo.
Permita-se ser surpreendido. Feliz mês de agosto!
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