Meu pai ensinou a mim, e aos meus irmãos, desde cedo, que só
existem duas maneiras de se aprender: escutando os mais velhos ou “dando com a
cabeça na parede”.
E ele tinha razão.
Quantas e quantas vezes erramos enquanto crescemos. Durante nossa infância os
pais falam: “isto está certo” ou “não faça isto porque é errado”. Ao chegar à
adolescência, tornamo-nos “rebeldes sem causa”, filhos de pais “caretas” e
estabelecemos nossos valores e princípios junto com a “galera”.
Nossa infância e nossa
adolescência representam a “idade do erro”, aquela fase da vida onde errar é
preciso para que, ao nos tornarmos adultos, estes mesmos erros não sejam
novamente cometidos. A curiosidade, o gosto pelo desconhecido, a aventura por
coisas novas tornam-se, nesta fase da vida, um manancial de escolhas erradas
que, ao mesmo tempo, representam uma fonte inesgotável de aprendizado.
E isto está errado?
Não, claro que não.
Quando Deus criou os animais, dotou-os de instintos que lhe garantiriam sua
sobrevivência. Mas ao homem foi-lhe dado algo mais que instintos: a capacidade
de pensar, aprender e fazer escolhas. Certas ou erradas, nossas escolhas sempre
nos ensinam algo, inclusive a errar.
Errar é fundamental
para se adquirir “experiência de vida”; isto é parte do nosso crescimento como
seres humanos. E é esta “experiência de vida” e este “crescimento” que
tentaremos passar aos nossos filhos e outros jovens como um caminho, uma opção
do que poderá ser melhor para eles. Mas sempre tendo em mente que a decisão
final caberá a eles. Como pais e educadores, só poderemos torcer para que
escolham o melhor.
Deixe-me contar-lhes
um pequeno conto.
Em plena selva
africana, um feiticeiro conduz seu aprendiz por caminhos tortuosos com o
intuito de ensinar-lhe sobre os erros da vida. Embora mais velho, caminhava com
agilidade, enquanto o aprendiz escorregava e caía a todo instante. A cada
tombo, blasfemava, xingava, cuspia no chão, amaldiçoava o solo…
Depois de uma longa
caminhada, e muitos tombos e xingamentos, chegam a seu destino onde, após um
último tombo, o aprendiz reclama:
– Você não me ensinou
nada.
– Ensinei, sim. Mas
parece que você não aprendeu nada. Estou tentando lhe ensinar como lidar com os
erros da vida.
– E como lidar com
eles?
– Da mesma forma que
você deveria lidar com seus tombos. Em vez de ficar blasfemando, amaldiçoando e
xingando o lugar onde caiu, deveria procurar a causa dos seus tombos.
Ao nos fixarmos apenas
no erro, perdemos uma oportunidade precisa de crescer e aprender, pois não
paramos para avaliar os porquês, as causas, dos nossos erros. Infelizmente não
temos o hábito de despender esforços para entendê-los
e utiliza-los como uma ferramenta de aprendizado constante.
E aí atrasamos um
pouco mais nosso conhecimento. O erro pode ser motivo de atraso de nossas vidas
e fazer com que nossa “experiência de vida” fique estagnada e adormecida. Há
quem afirma que experiência é o nome que podemos dar aos nossos erros.
Muitas vezes o erro
(ou seria o resultado de uma escolha?) pode nos levar ao fundo do poço. Ficamos
frustrados por aquilo que não deu certo, pelo objetivo não alcançado. E é isto
que ficará na nossa memória, na maioria dos casos.
Ruim? Não! Aí está o
momento propício para um exame de consciência dos porquês deste resultado
negativo e para procurar novos caminhos que nos levem a novas soluções.
Em casos extremos, o
erro pode nos levar à depressão e ao desespero. Momento para se aprender algo
mais: muitas vezes precisamos chegar ao fundo do abismo para iniciar o caminho de
volta.
Com o passar dos anos,
o ser humano pode não perceber o quanto ele segue aprendendo com seus erros
passados. Mas, sem parar para uma reflexão mais profunda, ele poderá não ter
respostas para perguntas simples, tais como: “consigo aceitar meus erros
passados” ou “posso superar o remorso por ter errado?”
Mesmo assim, vivemos
cometendo erros. “Errar é humano”, diz o ditado. Erramos nas escolhas de nossa
vida pessoal e de nossa vida profissional. Erramos ao escolher um (a) namorado
(a), uma atividade, um time para torcer… e por aí vai. Não esqueçamos que nosso
viver é feito pelas nossas próprias escolhas. O que significa que somos
responsáveis diretos pelos nossos erros.
Quem mandou não
escolher direito? Quem mandou não pensar um pouco mais antes de dizer “sim” ou
“não”? Quem mandou ter uma reação por impulso quando, naquele momento, a
prudência seria a melhor escolha?
Para evitar erros (ou
minimizá-los) devemos lembrar que:
Se errar é humano,
aprender com os erros é mais humano ainda;
Não existem erros,
existem resultados;
O erro é uma
oportunidade de recomeçar de maneira mais inteligente;
O erro nada tem de
estranho; ele é o primeiro estágio de todo o conhecimento;
Repetir erros passados
embotam o surgir do novo.
A lista abaixo poderia
ser bem maior mas acredito que as sugestões descritas poderão não evitar, mas
diminuir as probabilidades de se errar:
Conscientize-se que
você não é o dono da verdade. Você não é um sabe-tudo, aquele que tem sempre
razão e que dá a última palavra. Sócrates, o filósofo, afirmava: “Quanto mais
eu sei, mais eu sei que nada sei”;
Não trate os outros
com indiferença. Cada pessoa é um ser humano único, com todos os seus defeitos
e com todas as suas virtudes. Não erre ao discriminar uns e não discriminar
outros;
Saiba o que você quer.
Lute por isso. Aprenda a ter visão, identificar oportunidades, ter planejamento
e disciplina. Certamente você errará menos;
Ponha amor e paixão
naquilo que você faz. Isto mantém sua auto-estima em alta, seu aprendizado
constante e a chama sempre acesa de procurar fazer sempre o melhor;
Não bloqueie suas ideias
por mais estapafúrdias que sejam. Thomas A. Edson, Alexander Graham Bell e
Albert Einstein foram, inicialmente, vistos como malucos. Vejam no que deu;
Nunca se esqueça que
uma moeda tem dois lados. Procure ver sempre estes “dois lados”. Não seja
teimoso e tacanho querendo impor apenas a sua vontade ou a sua maneira de ver
as coisas. Tenha certeza que sempre existirá um “outro lado”, representado por
outras alternativas, novos caminhos, novas oportunidades e novas soluções;
Aprenda a se
comunicar. Comunicação efetiva é troca de ideias e envolve não só o falar, mas
também ouvir. Ao falar, use uma linguagem que os outros entendam e repita sua
ideia tantas vezes quanto se fizerem necessárias para que não fiquem dúvidas.
Mas também aprenda a
ouvir o que o outro tem a dizer, sem interrompê-lo. Tire suas dúvidas. Sem
clareza na comunicação os erros serão passíveis de ocorrer;
Afaste-se das fofocas,
boatos, mal-entendidos e coisas do tipo. Não esqueça de que “quem conta um
conto, aumenta um ponto”. Não dê ouvidos a comentários maledicentes. Ao invés
disso fixe-se nos resultados do trabalho, seu e dos outros;
Procure não se limitar
a apenas seguir ordens. Isto revela imaturidade, fuga de suas
responsabilidades, baixa auto-imagem e ausência de criatividade. Assertividade
é bom, portanto, saiba usá-la;
Aceite a necessidade
de correr riscos e de não ter razão.
Os Quatro “H”s
Isto se aplica quando
você errou. Procure aplicar estes quatro Hs para que os erros não mais voltem a
ocorrer:
Honestidade: saber que errou e
procurar suas causas;
Humildade: reconhecer sua
responsabilidade e não ficar procurando culpados ou outras causas;
Habilidade: para aprender a lição,
ter disposição para corrigir o erro, buscar novas soluções e identificar o que
poder ser feito para sua não ocorrência;
Humor: aprenda a rir do seu
próprio erro. Isto lhe ajuda a não chegar ao fundo do abismo.
O ideal é tirarmos
lições quando cometemos erros e aprender com isto. Devemos impor a nós mesmos o
desafio de superar e eliminar de nossas vidas os erros velhos. Por outro lado,
devemos saudar os erros novos porque serão fonte de um novo e constante
aprendizado e aprimoramento.
Convido-os a fazer uma
reflexão com estas três frases:
“Permitam-me o direito
de errar. Ainda tenho muito a aprender.” (Marcial A. Salaverry)
“O único erro de
verdade é aquele com o qual não aprendemos nada.” (John Powell)
“O único homem que não
erra é aquele que nunca fez nada.” (Franklin Roosevelt)
E nunca esqueça: errar
é humano. Aprender com o erro é sabedoria.
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