A frase desafiadora
de Derek Bok, advogado, educador, escritor e ex-presidente da Universidade de
Harvard – “Se você acha que educação é cara, experimente a ignorância.” –,
parece ter sido inspirada no que acontece nos países subdesenvolvidos, como o
Brasil, onde a experiência da ignorância vem já de vários séculos; sabe-se que
o preço pago por isso é caro, mas insiste-se no erro, rejeitando todo e
qualquer projeto de melhoria no setor.
Exemplo disso foi o
desvirtuamento dos CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública), popularmente
chamados de “Brizolões”. Implantados no Rio de Janeiro, pelo governador Leonel
Brizola, nos anos 1980 e 90, planejados pelo brilhante antropólogo e educador
Darcy Ribeiro, com projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, destinavam-se a
oferecer ensino público de qualidade, em período integral.
O horário das aulas estendia-se das 8 às 17
horas, oferecendo, além do currículo regular, atividades culturais, estudos
dirigidos e educação física. Os CIEPs forneciam refeições completas aos alunos,
além de atendimento médico e odontológico. A capacidade média de cada unidade
era para mil alunos.
Com esse sistema,
que poderia ter sido implantado em todo o país, as crianças carentes são
tiradas das ruas e das mãos dos bandidos que as aliciam em suas quadrilhas,
passando a receber a educação necessária para se tornarem cidadãos honrados. E
quanto emprego seria criado para tanta gente que funcionaria nesses centros
educacionais!
Lamentável que este
empreendimento fantástico tenha sido descaracterizado por governos que se
sucederam ao do Brizola, por isto não vemos hoje os frutos que poderia ter
dado.
Diga-se de passagem
que não estou fazendo propaganda para nenhum candidato a nada, pois tanto os
idealizadores quanto os realizadores do projeto já estão mortos. A minha
propaganda é para a Educação! Estou cansada de tanta ignorância no nosso país,
que nos faz pagar um preço caro demais.
Qual é o preço? São
vidas humanas ceifadas todos os dias: tanto as vidas das crianças desamparadas
que se tornam bandidos, quanto as vidas das pessoas que eles atacam.
Qual é o preço? São
os custos altos de prisões ineficazes, que não cumprem o papel de recuperar o
preso, pois oferecem condições precárias; também não cumprem o papel de
proteger a sociedade, pois os criminosos são soltos inapropriadamente, a meu
ver, ou fogem “inexplicavelmente”, para cometer crimes ainda piores.
Qual é o preço? São
as absurdas situações em que vivemos no cotidiano brasileiro, acuados com medos
e estresses que desgastam nossa saúde, enquanto poderíamos estar usando nossos
neurônios para muitas outras atividades produtivas, em que todos se
beneficiariam.
Fala-se em reduzir a
maioridade penal. Não consigo entender como isso pode mudar alguma coisa.
Alguém é ingênuo ao ponto de achar que os menores deixarão de cometer crimes
por causa disso? O que vai acontecer é que vai haver mais presos amontoados nas
cadeias e todas as consequências que advêm disso.
Eles saem mais deteriorados ainda e mais
perigosos para a sociedade. Além disso, há crianças mais jovens que já são
criminosos e que não vão ser enquadrados nessa categoria.
Para sanar o
problema de imediato, é óbvio que o menor infrator que comete crimes graves
deveria receber punição mais severa do que a permitida pelo Estatuto da Criança
e do Adolescente – este estatuto é que tem que mudar! Que seja preso de verdade
e cumpra pena, mas não junto com os maiores! Não deveria ser “promovido” a
adulto, pois com a maioridade perde-se, entre outras coisas, a possibilidade de
chamar os pais dessas crianças à responsabilidade que lhes cabe também!
Acho que os
critérios para punição do menor têm que ser revistos. O que chamam de “crime
violento”? Será que não criou-se uma tolerância à gravidade das ocorrências? As
agressões nas ruas, as invasões de domicílio, de lojas, todos os tipos de
assalto a mão armada... O que são? Um bando de meninos que joga um transeunte
no chão, corta-lhe o braço com canivete, faca ou caco de vidro, para roubar-lhe
a bolsa, carteira, ou celular... Isto não é um ato de violência? É preciso que
seja hediondo para considerar esses bandidos perigosos?
As estatísticas que
vêm sendo apresentadas, para justificar isso ou aquilo, estão muito aquém da
realidade. Quem vive no Brasil sabe disso.
Eu que já lá não
vivo há muitos anos – e a situação não parece ter melhorado, muito pelo
contrário – presenciei cenas terríveis no cotidiano dos cidadãos, que não
entraram em estastística alguma porque, quando a polícia chegava, os menores
infratores já haviam fugido.
Estes dados que escapam aos registros geram
análises erradas em estudos que colocam os meninos de rua menos perigosos do
que realmente são. Com isso, o Estatuto da Criança e do Adolescente continua
com critérios no mínimo defasados. Vivemos num mundo surreal no Brasil! Agora,
a situação está piorando mais ainda, com esta onda de facadas no Rio!
E que futuro têm
esses meninos? Quando não são traficantes de droga, são drogados. Vivem em
disputas entre eles, se matam a torto e a direito. Se estivessem nas escolas o
dia inteiro, seriam formados para serem cidadãos honestos, capazes de dar bons
frutos; não estariam vagabundeando pelas ruas.
Na minha opinião,
não resta a menor dúvida de que a solução a médio e longo prazo é a Educação,
com escola em tempo integral. Mas tem que ser um processo continuado, não se
pode abandoná-lo com poucos anos de experiência, como aconteceu.
Uma das primeiras
coisas que meu marido observou, na primeira vez que foi ao Brasil, no trajeto
do aeroporto para casa, foi a quantidade de crianças na rua. E perguntou se
elas não iam à escola... Eu tive que explicar, muito envergonhada, que nossos
cursos são em turnos.
Ele ficou surpreso, pois desde que se entende por gente,
as escolas aqui no Canadá são em tempo integral, caia neve ou faça sol.
Por falar em neve,
acho que seria mais fácil nevar e fazer bastante frio no Brasil do que esperar
alguma atitude razoável por parte de nossos políticos e governantes,
infelizmente.
Mas não podemos
desistir! Vamos continuar lutando por um Brasil digno!
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