terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Dona Matemática

Desde muito tempo a ideia de ir para escola, pelos menos na forma de ver dos nossos pais, era que você ia aprender a ler e escrever e fazer contas. Não deixava de ser uma necessidade básica, saber se comunicar e ao mesmo tempo entender de somar, diminuir, multiplicar e dividir. Simples assim. Então, aí tinha mais os “penduricalhos”, geografia, história, moral e cívica (na minha época tinha isto) e outras matérias...

Não sei se trata apenas de sentimento, mas parece que naquela época os alunos tinham vontade e os professores faziam questão de “empurrar” as matérias de português e matemática, afinal isto era o básico, e a gente acabava até gostando e por estas e outras que acabamos aprendendo alguma coisa e até gostar de matemática.

Nos dias de hoje, podemos ver que grande parte dos alunos em suas próprias palavras “detestam” matemática. Preferem as áreas de humanas (mais ou menos), sociologia, filosofia, e outras coisas (que não acredito serem desimportantes) entretanto faz com que muitos, simplesmente abdicam da matemática.

E a questão que o próprio governo, através dos seus programas de educação, corroboram para a atual situação. Lógico que no meio disto tudo tem a internet, os tik-tok, os chamados “influencers” querendo explicar o inexplicável e muitos jovens acreditam nestas “carreiras”.

Não acho que todos devam gostar de matemática, também não acredito que todos devam seguir a área de exatas, mas, acho que deveria um pequeno esforço para entender um pouco melhor o que a matemática pode proporcionar, na sequência de um ensino de finanças básicas para o dia a dia, para entender um pouco melhor de economia, e não ficar perdido quando o governo informa que vai arrecadar o bastante para pagar suas despesas e todos sabemos que isto é quase impossível com a atual situação.

Eles acabam aplicando a matemágica e muita gente acaba acreditando. E ficam apenas sorrindo, não pode ser diferente, não estão entendendo nada.

Joselito Bortolotto.

 

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Intoxicação Eletrônica

A internet é pior babá eletrônica do que foi a televisão em outros tempos. A partir do momento em que a mobilidade permitiu que cada integrante de uma família usasse uma tela para assistir ou jogar o que bem entendesse, houve a individualização de um processo que antes era coletivo. Dar um tablet para uma criança ficar quieta pode ser abrir a porta para um estado de passividade.

 “A infância é um momento de estruturação em que o cérebro, o corpo e o psiquismo estão em formação. As experiências de vida são decisivas para quem a criança será no futuro, e por isso é tão importante pensar que lugar se dá para a ela em casa, na escola e na sociedade”, afirma a psicanalista Julieta Jerusalinsky, professora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Puc-SP) e especialista em primeira infância e desenvolvimento infantil.

Precisamos pensar em como arrumar tempo e lugar para transmitir à criança aquilo que achamos que é decisivo para que ela se torne o adulto de amanhã. Dá muito trabalho, é verdade. Mas ao conviver com uma criança acabamos inventando brincadeiras e evocando passagens da nossa própria infância que, se não fosse pela criança, cairiam no esquecimento. Assim elas acabam por nos fazer um favor aos nos tirar do automatismo da vida adulta e nos convidar a construir uma brincadeira entre gerações. Costuma ser surpreendente o que pode acontecer quando desligamos as telas e abrimos lugar para o convívio.

Há 20 anos, se discutia quanto tempo de televisão uma criança poderia assistir. Mas a televisão implicava que todos assistissem juntos, o que permitia comentários. Com uma tela individual, não há mais a conversa. A programação da televisão terminava; a internet não termina. Os pais já não sabem mais o que as crianças estão vendo, a não ser as muito pequenininhas. 

Outro aspecto é a passividade. Uma criança que brinca está em atividade, construindo uma história. A criança que está na frente da tela é uma espectadora. Não se trata de demonizar as novas tecnologias, mas de considerar que uso fazemos delas.

As intoxicações eletrônicas não começam quando se larga o celular na mão de uma criança. A questão é como nós, adultos, estamos usando esses aparelhos. Com a internet móvel, não temos mais divisão entre o tempo de trabalho e de lazer. Um pai chega em casa e senta para brincar com seu filho, enquanto olha para as mensagens no celular. Ao ficarmos o tempo inteiro disponíveis aos que não estão ali, perdemos a importância da presença dos que estão ali conosco.

Para as crianças, que dependem radicalmente do lugar que os pais lhes dão, isso tem consequências muito mais contundentes. Dizer “não” não basta. Em primeiro lugar é preciso pensar o que se propõe à criança. Em segundo lugar é preciso considerar o que o próprio adulto faz. Muitas vezes, as crianças convivem com um adulto que está de corpo presente, mas psiquicamente ausente olhando para uma janela virtual. As crianças não aprendem simplesmente pelo que os adultos lhes dizem, mas pelo cruzamento disso com o que eles mesmo fazem. 

Há bebês que, siderados por eletrônicos, podem acabar caindo em diagnósticos de transtorno do espectro do autismo. Não estou dizendo que o autismo é causado pelos eletrônicos, mas que muitas crianças com intoxicações eletrônicas são colocadas nessa valeta diagnóstica, ou em outra grande valeta diagnóstica da contemporaneidade que é o déficit de atenção e hiperatividade.

Fonte:
JULIETA JERUSALINSKY