terça-feira, 31 de agosto de 2021

Como era o Saara antes de ser um deserto?

 

Com aproximadamente 9.200.000 km² de extensão, o Saara, considerado o maior deserto do planeta, se destaca por ser uma região inóspita e árida, com precipitação anual entre 35 e 100 milímetros de chuva e uma elevada amplitude térmica, variando entre 50 °C durante o dia e -10 °C durante a noite. Mas nem sempre o local deteve essas propriedades, e novos estudos estão reconstruindo o que o Saara era há milhares de anos.

Pesquisadores da Universidade de Estocolmo, na Suécia, e das universidades de Columbia e do Arizona, nos Estados Unidos, se aprofundaram nos estudos sobre a época do “Saara verde”, datada de 10 mil anos atrás. Essas pesquisas tiveram como base a análise de sedimentação marinha para a compreensão do padrão de chuvas, e indicaram que, anteriormente, a frequência de chuvas era cerca de 20 vezes mais intensa que atualmente, registrando médias superiores em quase 2 mil milímetros.

A divergência entre os padrões seria motivada pela existência de uma vegetação semelhante à do Senegal, país na costa oeste da África, mais especificamente no Sahel, faixa de 5,4 mil km de extensão e protegida por um cinturão verde de flora altamente diversificada. Dessa forma, as condições essenciais de vida permitiam que a região fosse habitada por gnus e gazelas, além de ter pastagens na porção norte da Mauritânia.

(Fonte: Getty Images/Reprodução)

Além disso, evidências fósseis deixadas por assentamentos humanos exibiam, em pinturas rupestres, imagens de girafas e registros de grandes faunas, como savanas, pradarias e bosques. Aparentemente, crocodilos, elefantes e hipopótamos viviam na região, e também peixes de diversas espécies.

O que pode ter acontecido?

Há cerca de 9 mil anos, quando o Sol do verão contribuiu com a desertificação do Saara, no fim do período Glacial, o deserto viu o fortalecimento das chuvas de monções e o aumento da precipitação, mas a um preço que logo intensificaria a aridez. Muitos cientistas concordam que um fenômeno cíclico de maior ou menor insolação tenha transformado a área verde em desértica subitamente, em um dramático fenômeno de mudança climática.

Em contrapartida, estudos mais recentes sugerem que a ação humana foi determinante para a desertificação do Saara, em especial após o surgimento do primeiro pastoreio, que resultou na retirada da camada de vegetação e no consequente efeito de reflexo de luz (albedo), interferindo diretamente nas condições climáticas, há 6 mil anos.

ANDRÉ LUIS DIAS CUSTODIO.

 

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

As pessoas não desistem umas das outras, elas cansam!

A desistência do outro é um sentimento triste, ela se dá pela falta de perspectiva do outro, quando não há mais meios, mais solução, quando acredita-se que não tem mais jeito.

É cansar-se mentalmente, é o esvaziamento das forças, o desaparecimento da vontade.

Onde a preguiça se instala não pela falta de investimento afetivo ou irresponsabilidade na dinâmica da relação, mas pela desistência das ações que tinham por objetivo inicial a reciprocidade.

Somos movidos pela esperança, para alcançar nossas metas, fazemos diversas tentativas. Quando são constantes as frustrações e rejeições, quando não há o retorno esperado, uma sensação de cansaço, de desesperança, toma conta de nós, até chegar a desistência.

Quando chegamos a este estágio, é um ponto sem retorno. Como uma energia que se esgota e não pode ser recarregada.

O CANSAÇO COGNITIVO VEM DA CERTEZA DA FALTA DE SOLUÇÃO.

É um sentimento praticamente irreversível e por mais que a outra parte demonstre o interesse de mudança, já não há credibilidade nem motivação.

Até quando há essa motivação, sempre existirá o receio, a sensação ansiosa e negativa de voltar a ser como era, tudo outra vez.

PASSAMOS A PREVER UM COMPORTAMENTO FUTURO, RELEMBRANDO UM PADRÃO COMPORTAMENTAL ANTERIOR.

Grande parte das pessoas estão centradas no próprio ego, e obsessivas por si mesmas, pensam que estão com a razão; acreditam tanto nas próprias certezas, que não conseguem reconhecer através da racionalidade a possibilidade de estarem erradas.

Muitas outras acabam desistindo e se cansando de um relacionamento por incompetência própria, devido a pouca capacidade de percepção sobre a vida e sobre os outros. Boa parte delas, usam da manipulação e do ambiente para tentar entender de forma inteligente a outra pessoa ou a situação, tentam se antecipar ao que “acreditam” que acontecerá, e desistem antes mesmo de começar, ou, frente as suas percepções, “antes de se machucarem”.

A soberania do desenvolvimento racional e intelectual, se dá na tentativa de compreender o outro, a partir de si mesmo.

DEVE-SE SEMPRE TOMAR PARA SI A RESPONSABILIDADE DE FAZER DAR CERTO UMA PARCERIA PARA VIDA.

Quando julgamos a competência de alguém, revelamos em nós mesmos a falta de competência que temos em perceber o outro. Ou simplesmente não estamos conseguindo nos conectar aos fatos, ou aos motivos sem julgar.

O JULGADOR É FRACO EM DELICADEZA, POBRE EM SUTILEZA E INCOMPETENTE NA INTERPRETAÇÃO DO OUTRO.

Sem o autoconhecimento não é possível compreender o outro.

O outro sempre carrega em si, aspectos que são meus. Pois nossa condição humana, nos coloca ora como espelho, ora como reflexo.

Um dos maiores problemas que vivemos em nossa sociedade não é somente o egoísmo, o egocentrismo, o achismo, a falta de razão e a falta de educação, é a falta de capacidade de pensar nas possibilidades.

A grande maioria das pessoas sofrem por não saberem administrar soluções, por não conseguirem avaliar as questões, as informações, e seus motivos, por querem sempre impor julgamentos ao fato, e julgar sem antes ser juiz de si mesmo nas próprias razões, é imperativo de conflito.

E a maior falha geológica na linha da vida humana em nossa sociedade, é a certeza cega de pensar de forma autorreferenciada, se colocando sempre como o “umbigo” do mundo.

É um erro casso, usar o conceito do amor próprio, consumindo-se em egoísmo e vaidades exacerbadas. É tornar certezas que são próprias, em axiomas universais. É avaliar a si mesmo como um ser onipotente; e colocando no outro o erro e a culpa.

Por isso, há tantas pessoas cansadas umas das outras! Na verdade, elas se cansam delas mesmas! O cansaço vem da indisposição em não saber lidar com o outro, visto que pensam que os outros é que precisam se moldar a elas.

Como justificativa de estarem cansadas de si mesmas, cansam-se das outras quando elas não atendem as suas expectativas egoístas. Quando elas não aceitam ser da maneira que elas acreditam ser a corretas.

CHEGAR AO PONTO DE NÃO SE CANSAR DE NINGUÉM É UMA MANEIRA INTELIGENTE DE VIVER E DE ENCONTRAR UM MELHOR EQUILÍBRIO E SAÚDE.

Quem se cansa do outro por questões comportamentais, prova falta de humildade!

Se cansar do outro é pensar que é maior e melhor que o outro e que, por isso, não precisa dele.

Na grande corrente humana, todos os elos são importantes.

Para que esse caleidoscópio humano seja rico, colorido, completo em toda a sua diversidade, é necessário que façamos conexões de forma equilibrada. Que desenvolvamos uma engrenagem relacional que nos confira a capacidade de experimentar o lado bom da vida, o bem do mundo e o melhor de nós!

Por Fabiano de Abreu

 

 

sábado, 28 de agosto de 2021

A floresta Amazônia agora é o quinto maior POLUIDOR do mundo


 

A floresta amazônica está agora emitindo mais dióxido de carbono do que é capaz de absorver, confirmaram cientistas pela primeira vez.

As emissões chegam a um bilhão de toneladas de dióxido de carbono por ano, de acordo com um estudo. A floresta gigante já havia sido um gigantesco sumidouro de carbono, absorvendo as emissões que impulsionam a crise climática, mas agora está causando sua aceleração, disseram pesquisadores.

A maioria das emissões são causadas por incêndios, muitos criados propositalmente para limpar terra para a produção de carne bovina e soja. Mas mesmo sem incêndios, temperaturas mais quentes e secas significam que o sudeste da Amazônia tornou-se uma fonte de CO2, em vez de absorvê-lo.

Perder o poder da Amazônia de captura de CO2 é um alerta de que a redução das emissões de combustíveis fósseis é mais urgente do que nunca, disseram os cientistas.

A pesquisa utilizou aviões pequenos para medir os níveis de CO2 até 4.500m acima da floresta na última década, mostrando como toda a Amazônia está mudando. Estudos anteriores que indicavam que a Amazônia estava se tornando uma fonte de CO2 foram baseados em dados de satélite, que podem ser dificultados pela cobertura de nuvens, ou medições de árvores terrestres, que podem cobrir apenas uma pequena parte da vasta região.

Os cientistas afirmaram que a descoberta de que parte da Amazônia estava emitindo carbono mesmo sem incêndios foi particularmente preocupante. Eles disseram que provavelmente foi o resultado do desmatamento e dos incêndios de cada ano tornando as florestas adjacentes mais suscetíveis no ano seguinte. As árvores produzem grande parte da chuva da região, então menos árvores significa secas mais severas, ondas de calor piores, mais mortes de árvores e incêndios.

O governo do presidente Jair Bolsonaro tem sido duramente criticado por incentivar mais desmatamento, que subiu para uma alta de 12 anos, enquanto os incêndios atingiram seu nível mais alto em junho desde 2007.

Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil e que liderou a pesquisa, disse: “A primeira notícia muito ruim é que a queima de florestas produz cerca de três vezes mais CO2 do que a floresta absorve. A segunda má notícia é que os locais onde o desmatamento é 30% ou mais mostram emissões de carbono 10 vezes maiores do que onde o desmatamento é inferior a 20%.”

Menos árvores levam a menos chuva e temperaturas mais altas, tornando a estação seca ainda pior para a floresta restante, ela disse: “Temos um ciclo muito negativo que torna a floresta mais suscetível a incêndios descontrolados”.

Grande parte da madeira, carne bovina e soja da Amazônia é exportada do Brasil. “Precisamos de um acordo global para salvar a Amazônia”, disse Gatti. Algumas nações europeias disseram que bloquearão um acordo comercial da UE com o Brasil e outros países, a menos que Bolsonaro concorde em fazer mais para combater a destruição amazônica.

A pesquisa, publicada na revista científica Nature, uma das mais conceituadas no mundo, envolveu a tomada de 600 perfis verticais de CO2 e monóxido de carbono, que é produzido pelos incêndios, em quatro locais da Amazônia brasileira de 2010 a 2018. Constatou-se que os incêndios produziam cerca de 1,5 bilhão de toneladas de CO2 por ano, com o crescimento florestal removendo meio bilhão de toneladas. O bilhão de toneladas deixadas na atmosfera equivale às emissões anuais do Japão, o quinto maior poluidor do mundo.

“Este é um estudo realmente impressionante”, disse o Prof. Simon Lewis, da University College London. “Voar a cada duas semanas e manter medições de laboratório consistentes por nove anos é um feito incrível.”

“O feedback positivo, onde o desmatamento e as mudanças climáticas impulsionam a liberação de carbono da floresta restante que reforça o aquecimento adicional e mais perda de carbono é o que os cientistas temiam que acontecesse”, disse ele. “Agora temos boas evidências de que isso está acontecendo. A história do sudeste da Amazônia é mais um alerta de que os impactos climáticos estão acelerando.”

O Prof. Scott Denning, da Universidade estadual do Colorado, EUA, disse que a campanha de pesquisa aérea foi heróica. “No sudeste, a floresta não está mais crescendo mais rápido do que está morrendo. Isso é ruim – ter o absorvedor de carbono mais produtivo do planeta mudar de um sumidouro para uma fonte significa que temos que eliminar combustíveis fósseis mais rápido do que pensávamos.”

Um estudo de satélite publicado em abril descobriu que a Amazônia brasileira liberou quase 20% mais dióxido de carbono na atmosfera na última década do que absorveu. Uma pesquisa que rastreou 300.000 árvores ao longo de 30 anos, publicada em 2020, mostrou que as florestas tropicais estavam ocupando menos CO2 do que antes. Denning disse: “São estudos complementares com métodos radicalmente diferentes que chegam a conclusões muito semelhantes.”

“Imagine se pudéssemos proibir incêndios na Amazônia – poderia ser um sumidouro de carbono”, disse Gatti. “Mas estamos fazendo o oposto – estamos acelerando as mudanças climáticas.”

“A pior parte é que não usamos a ciência para tomar decisões”, disse ela. “As pessoas pensam que converter mais terras para a agricultura significará mais produtividade, mas na verdade perdemos produtividade por causa do impacto negativo na chuva.”

Pesquisa publicada na sexta-feira estimou que a indústria de soja do Brasil perde US$ 3,5 bilhões por ano devido ao aumento imediato do calor extremo que se segue à destruição da floresta. [The Guardian]

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Antes de ser um grande profissional, seja uma boa pessoa

 

No trabalho, uma pessoa boa é aquela que contribui para um convívio de qualidade, busca aprender com os colegas e dificilmente lhes dará as costas


Pense nas pessoas que você mais admira e também naquelas com quem mais gosta de conviver. É bem provável que você lembrou de quem faz o certo, e faz com que você se sinta bem, e faz com que salte algo de bom em você.

Existe uma famosa frase que circula há tempos e que ilustra muito bem essa questão. Alguns dizem que é de Maya Angelou, outros falam que a autoria é desconhecida. Mas eis:

"As pessoas podem não lembrar exatamente o que você fez, ou o que você disse, mas elas sempre lembrarão como você as fez sentir".

É por isso que eu entendo que, para ser um grande profissional – ou qualquer coisa que seja nessa vida –, a gente precisa, antes de tudo, ser uma boa pessoa. Existem valores e virtudes passíveis de interpretação. Não acho que esse seja o caso da bondade.

O que é ser bom?

O ser humano é capaz de tudo. Por isso, eu considero que ser bom é reconhecer que cada um de nós tem total capacidade de ser um "grande FDP", mas faz sábias escolhas que vão justamente no oposto desse caminho.

Trazendo para a vida profissional, a pessoa boa é aquela que contribui para um convívio de qualidade, busca aprender com os colegas, sabe ouvir, reconhece e supera limitações e que dificilmente vai dar as costas para a equipe, se isolar no próprio mundo, enquanto tudo pega fogo nos arredores.

Sempre gostei muito de filosofia e história e, por isso, trago aqui um dos ensinamentos de Marco Aurélio que, não por acaso, é constantemente lembrado como o "último bom imperador de Roma".

"Não perca tempo falando sobre como um homem bom seria, vá e seja bom".

Uma simples frase para falar basicamente sobre a necessidade de nós mesmos sermos autores de nosso comportamento e desenvolvimento de habilidades. Sente raiva do chefe? Sente inveja do colega? Quer brigar com o cliente? Não sabe lidar com feedback?

Como bons profissionais, cabe a nós fazermos escolhas sobre como vamos tratar as pessoas em nossa volta, sobre como vamos nos posicionar diante de inúmeras situações. Muitas vezes, somos tomados pelo ego, por nossas próprias vontades e incômodos e nos esquecemos de que vivemos em sociedade, trabalhamos em equipe.

É por isso que polarizações nos emburrecem. Cada um tentando defender o seu, sem enxergar o que realmente importa para o coletivo. Mais uma vez, pessoas boas não se isolam e, ainda que tenham necessidades particulares, conseguem superá-las em nome do contexto maior.

No mundo corporativo, para saber lidar com as pessoas, seus sentimentos e competências, é fundamental estudar sobre gestão de pessoas. Já comentei aqui que para mim a gestão de pessoas é uma ciência e que esses conhecimentos nos ajudam muito a saber como nos posicionar melhor.

Assumir as responsabilidades

O que hoje chamamos de soft skills, os estoicos – como Marco Aurélio – já traziam em seus ensinamentos como a necessidade da autorresponsabilidade, o pensamento para a resolução de problemas e, claro, a inteligência emocional. Nós somos responsáveis por nossas atitudes e comportamentos.

Ainda que as emoções mais negativas possam surgir em nós, precisamos aprender a lidar com elas para sermos fiéis a propósitos e à consciência de que estamos sempre em coletivo. Quem reconhece isso tem capacidade para se desenvolver como profissional.

Muitas vezes, é a energia, a personalidade e a capacidade de transformação, resiliência e adaptabilidade que levam a melhores caminhos na carreira.

Não estou dizendo para sermos complacentes sem reflexão. Pelo contrário. Para sermos firmes e exigentes, não precisamos ser grossos. Para falarmos o que pensamos, devemos considerar também a realidade do outro. E assim por diante.

O que quero dizer é que, ainda que precisemos nos esforçar muito para sermos profissionais competentes e tecnicamente habilidosos, percebo uma necessidade maior para o desenvolvimento das habilidades interpessoais, bem como as emocionais, a própria identidade e as virtudes.

Não confunda: ser bom não é ser bonzinho

Por favor, não me interpretem mal, quando falo ser bom, não estou falando, de forma nenhuma, de "ser bonzinho", de falar o que as pessoas querem ouvir, de aliviar, de dizer algo importante somente para não conflitar.

Sempre falo por aqui, "fazer o certo, sempre, e pelas razões certas".

Fazer o certo significa falar e fazer o que tem de ser falado e feito, sem procrastinação, e não o que se quer ouvir muitas das vezes. Mas existem formas diferentes de falar as coisas, então procure uma que seja realmente contributiva.

Um erro muito comum dos profissionais é tentar agradar a todos, tentar ser querido por todos, e não fazer e não falar o que tem que ser feito.

Algumas vezes, você irá precisar fazer ou falar algo que julgue ser certo naquele momento, mas que não será a ação mais popular. Mas, se for feito de forma contributiva, com o passar do tempo, as pessoas perceberão que você o fez com um propósito maior. Assim, o seguirão como líder, tanto por fazer o certo quanto por tentar fazer da melhor maneira possível.

O contrário é quando as pessoas percebem que você não fez o necessário, somente para ser mais popular e, assim, perderá seus créditos como líder.

Somos adultos, temos a autorresponsabilidade de cuidarmos de nossas próprias vidas. Mas não custa cuidarmos de nossas conexões para que sejamos pessoas que afetem positivamente aquelas que estão em volta, sempre fazendo o certo, não deixando de fazer ou falar o que deve ser feito.

Olhar para dentro não é olhar para o umbigo

Da mesma forma que pessoas boas nos inspiram, o oposto nos afasta. Por isso, pessoas realizadoras e que fazem o bem têm uma facilidade muito maior de construir naturalmente uma rede de contatos. Elas são lembradas, elas mantêm relacionamentos, elas se envolvem com o bem-estar do outro.

Por outro lado, o networking é sempre uma tarefa penosa para quem não é bem lembrado.

Esse é um exercício pessoal que cada um de nós deve fazer de tempos em tempos. Precisamos "olhar para dentro" e entender se estamos sendo bons de verdade, se estamos criando vínculos fortalecidos e se estamos enxergando verdadeiramente o outro.

Para quem se percebe falho nessas questões, a habilidade de lidar com emoções e pessoas e o senso de colaboração são características que podem ser desenvolvidas. Além de cursos, leituras e estudos, nossas atitudes do dia a dia vão revelando o que há de bom em nós.

E um ponto muito importante para isso é escutar verdadeiramente as pessoas para compreendê-las sem bloquear demais com pré-julgamentos.

É o que gosto de dizer: fazer o certo, pelas razões certas, todos os dias. Para mim, esse é o caminho de se tornar uma pessoa boa. Isso é uma questão de iniciativa, de saber puxar a fila. É possível viver de forma mais leve e gostar dessa jornada de aprendizado.

 

MarceloMiranda.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Reutilizar a água tornou-se essencial


 

País vive a pior estiagem dos últimos 91 anos

O cenário já é dramático. Os Estados do Sudeste e Centro Oeste vivem a pior seca dos últimos 91 anos. Os aumentos na tarifa de energia elétrica já são realidades que impactam a inflação, onerando famílias em todo o país. Os riscos de um novo apagão e até de desabastecimento no fornecimento de água para a população e no setor produtivo, provocam insônias em gestores públicos e do setor privado. A tão almejada recuperação econômica sofre reais ameaças de um céu quase árido, que parece ter ficado indiferente às nossas ambiciosas necessidades.

Resta-nos buscar soluções efetivas que minimizem a emergência climática. Além de seguirmos na missão global de descarbonizar o planeta, embora não possamos controlar os desígnios da natureza, temos a obrigação de trabalhar na melhor gestão do consumo e na aplicação de tecnologias que tornem nossa sociedade mais limpa e sustentável. No caso da escassez de água, o reúso é um dos protagonistas.

Não há como abrirmos mão deste instrumento tão eficaz. Tecnologias já consolidadas e disponíveis no mercado como as membranas de ultrafiltração e de osmose reversa fornecem resultados impressionantes e extremamente seguros, produzindo água com elevados teores de pureza, garantindo a eliminação inclusive de bactérias e vírus, e até de contaminantes não tratados atualmente nos sistemas convencionais de abastecimento público

No caso das indústrias, grandes complexos urbanos e centros comerciais, que ao final são os grandes consumidores de água, os benefícios do reúso, além de ambientais, se traduz em economia direta, sendo possível reduzir em cerca de 50% o valor gasto com água oriunda de concessionárias públicas. Ganha a empresa e a sociedade que terá maior disponibilidade, sofrendo menos com riscos de desabastecimento.

De acordo com o Portal Trata Brasil, as perdas na distribuição são gigantescas. Para cada 100 litros de água captada, tratada e potável, quase 40 litros não chegam de forma oficial a ninguém, o que equivale a mais de 7 mil piscinas olímpicas de água perdidas diariamente e representam mais de R$ 12 bilhões em prejuízos financeiros.

Embora o Novo Marco do Saneamento, aprovado pelo Congresso Nacional no ano passado, seja uma ótima notícia para o setor - com injeção de algo em torno de R$ 700 bilhões até 2033 - o Brasil ainda carece de melhores legislações sobre o reúso de água, em todas as esferas governamentais.

Já há bons cases de aplicações de reúso e busca de fontes alternativas para abastecimento nos mais diversos segmentos. Contudo, em um universo de mais de 20 milhões de empresas existentes no País, a prática ainda é baixíssima, realizada de forma pontual e desordenada.

Faltam impulsos e incentivos, além de campanhas efetivas de conscientização de reúso que precisa se tornar uma cultura nacional. O fato de termos cerca de 12% da água potável do mundo cria uma errônea sensação de que o recurso é abundante, infinito. A retórica além de equivocada, contribui para alimentar práticas de displicência danosas e às vezes irresponsáveis.

Nesta época do ano vemos a mídia cumprindo seu papel de alertar para os baixos níveis de reservatórios estratégicos como o Sistema Cantareira (SP), por exemplo. Pela imensidão geográfica do Brasil, nos acostumamos a ver as poucas chuvas que surgem em algumas regiões, caírem em locais não tão urgentes. Todos os anos, assistimos a nuvens que erram o alvo, em um triste e irônico dilema.

A chamada ‘disponibilidade de água’ é desafio de todos. Carrega admiráveis predicados de ser uma prática sustentável, mas é uma ação que não dá margem à opção. Ela é essencial e ao mesmo tempo estratégica, principalmente para os grandes empreendimentos comerciais e industriais.

Quando olhamos para debates em torno dos valores de ESG – Governança Ambiental, Social e Corporativa, a água surge como bem fundamental a ser preservado. O descontrole climático que enfrentamos hoje no mundo nos dá a certeza de que cada gota reutilizada fará diferença em nosso futuro.

Diogo Taranto.

 

 

terça-feira, 24 de agosto de 2021

“Filhos Vêm Com Manual, Sim. Mas Para Ler É Preciso Olhar Nos Olhos Deles

O pediatra Daniel Becker, em sua rede social, fez a seguinte postagem: “Filhos vêm com manual, sim. Mas para ler é preciso conviver, interagir, olhar nos olhos deles. Com a convivência vem a intimidade. Com a intimidade vem uma relação que flui, onde antecipamos desejos e necessidades, onde nos comunicamos com um olhar, um gesto, onde todos nos sentimos ‘em casa’. Onde exercemos a autoridade com serenidade. Com a intimidade é muito mais fácil educar. E tão mais divertido. Sem ela, nossos filhos nos parecem estranhos, e não sabemos lidar com eles, com suas questões, seus desejos, suas dificuldades. E tendemos a partir para a permissividade excessiva ou o autoritarismo violento”. Diante da reflexão do médico, elaboramos uma proposta de como desenvolver intimidade emocional com os filhos desde á infância. Confira:

Como desenvolver intimidade emocional com os filhos desde a infância

“Convivência e intimidade são duas coisas completamente diferentes. O que nossos filhos mais se lembrarão sobre sua infância quando crescerem são duas coisas: quanto amor existia em casa e quanto tempo de intimidade emocional você passava com eles ”, disse o médico pesquisador da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, Richard Swenson.

Quando alguém começa um relacionamento e nele incluí filhos, pensa assim: ‘Eu quero viver minha vida sem arrependimentos, especialmente sem arrependimentos relacionais. Investir no coração de minha parceira e os meus filhos devem ser a minha prioridade número um’. Dessa maneira, o que esse alguém deseja é conseguir manter o equilíbrio entre as responsabilidades civis e os relacionamentos íntimos.

Entretanto, existem muitas coisas que podem nos distrair de construir relacionamentos íntimos emocionalmente com nossos filhos. Richard Swenson observa: “É o ritmo de vida que destrói e descarrila a vida a partir do coração”. Então ficamos tão cansados ​​que achamos que merecemos fazer do nosso tempo livre apenas descanso em detrimento de também vivenciarmos os laços emocionais com nossos filhos. Por isso, entregamos nossos filhos a entretenimentos estúpidos e solitários, porque estamos exaustos demais para investir em seus corações.

Investir tempo para construir intimidade exige que nos desconectemos das distrações

Investir tempo para construir intimidade exige que nos desconectemos das distrações, sejam elas quais forem. No instante em que você decide deixar de lado as preocupações e distrações da vida adulta para tão somente cultivar a intimidade emocional com seus filhos por meio de algo tão simples como o contato visual, as coisas podem melhor muito na relação pais e filhos.

Olhar nossos filhos diretamente em seus olhos quando falam conosco, transmite muito a eles sobre o valor que eles têm para nós. Nossos filhos sabem quando estamos realmente ouvindo. Já ouvi dizer que a atenção concentrada é mais poderosa do que palavras de elogio. Jesus era um mestre em “ver as pessoas”. Ver alguém é “olhar direto e sua alma”. Eu nunca consigo uma imagem de Cristo grunhindo “urum-urum” enquanto as pessoas falavam com ele.

A intimidade emocional com filhos requer entrar no mundo deles, lhes olhar nos olhos, validar suas emoções, pensamentos, palavras e sentimentos. Uma maneira de fazer isso com nossos filhos, é lhes fazer perguntas que possam nos dar um bilhete de entrada em seus corações. Considere perguntar o seguinte:

·         Qual é o seu maior medo agora?

·         Com o que você se preocupa?

·         Do que você precisa em relação a mim?

·         O que lhe deixa realmente zangado?

·         O que lhe deixa realmente triste?

·         Quais são seus maiores sonhos?

·         Quais são suas maiores alegrias?

·         O que eu posso fazer para que você se sinta mais respeitado emocionalmente?

·         O que eu posso fazer para que você se sinta mais compreendido e amado?

Planeje um dia no mês para que todos possam expressar suas emoções, pensamentos e sentimentos

Outra porta de entrada para a intimidade emocional com os filho, é o planejamento do “Dia da Expressividade”. Planeje um dia em sua programação mensal para que todos possam expressar suas emoções, pensamentos e sentimentos, para que possam expressar o quanto você valoriza cada um de seus filhos. Quando reorganizamos horários de trabalho, horários de jogo, do churrasco…. ou dessa incrível oportunidades para atender melhor às necessidades de nossa família, nossos filhos se sentem valorizados, respeitados, amados. Há muitas coisas maravilhosas às quais dissemos “não”, no nosso dia-a-dia conturbado, e uma delas é a construção de memórias afetivas. Quão bonito é olhar para trás e termos memórias afetivas com nossos pais.

As relações de intimidade emocional com os filhos não são sentimentos, são práticas intencionais

Relacionamentos íntimos não acontecem simplesmente. Não pense que um belo dia você acordará e sentirá um desejo incontrolável de estabelecer intimidade afetiva com seus filhos e pronto, isso acontecerá. Não mesmo. As relações de intimidade emocional com os filhos não são sentimentos, são práticas intencionais que farão que seus filhos tenham uma segurança emocional de que contarão para o resto de suas vidas. Pense nisso, pois há uma paz na vida que vem de não termos arrependimentos. Vamos calcular o custo e investir primeiro em nossas famílias. O mundo vai esperar.

Daniel Becker
 

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

A mulher "congelada sólida" que sobreviveu sem um arranhão


 

Numa manhã de véspera de Ano Novo em Minnesota (EUA), em 1980, um homem chamado Wally Nelson tropeçou no corpo de sua amiga, caída na neve a poucos metros de sua porta.

O carro de Jean Hilliard, de dezenove anos, havia enguiçado quando ela voltava para a casa dos pais depois de sair de noite. Vestida com nada muito além de um casaco de inverno, luvas e botas de cowboy, ela andou no ar noturno de 30 graus Celsius negativos para buscar a ajuda de seu amigo.

Em algum ponto da jornada, ela tropeçou e perdeu a consciência. Por seis horas, Hilliard ficou no frio gélido, o calor se esvaindo de seu corpo e — segundo vários relatos — ela estava “congelada sólida”.

“Eu a agarrei pelo colarinho e a puxei para a varanda”, relatou Nelson anos depois em uma entrevista à Rádio Pública de Minnesota .

“Eu pensei que ela estava morta. Congelou mais dura do que uma tábua, mas eu vi algumas bolhas saindo de seu nariz.”

Se não fosse pela resposta imediata de Nelson, Hilliard poderia ter morrido de hipotermia. Em vez disso, sua história se tornou parte da tradição médica e uma curiosidade científica.

Como um corpo poderia sobreviver o congelamento?

Histórias de pessoas que sobreviveram a temperaturas congelantes são incomuns o suficiente para serem interessantes, mas também não são exatamente raras. Na verdade, os médicos especialistas em climas frios têm um ditado: “Ninguém está morto antes de ser aquecido e morrer”.

A compreensão de que a hipotermia extrema não é necessariamente o fim de uma vida tornou-se a base de toda uma terapia. Sob condições controladas, a redução da temperatura corporal pode retardar o metabolismo e reduzir a fome insaciável do corpo por oxigênio.

Em ambientes médicos, ou em raras ocasiões em outros lugares, um corpo frio pode retardar o processo de morte por tempo suficiente para lidar com um pulso baixo, pelo menos por um tempo.

O relato de Hilliard se destaca na natureza extrema de seu estado de hipotermia.

Esqueça o fato de que sua temperatura corporal mal chegava a 27 graus Celsius, 10 graus abaixo da temperatura saudável para um humano. Ela estava, aparentemente, congelada. Seu rosto estava pálido, os olhos sólidos e sua pele supostamente dura demais para ser perfurada por uma agulha hipodérmica.

Nas palavras de George Sather, o médico que a tratou, “O corpo estava frio, completamente sólido, exatamente como um pedaço de carne em congelamento profundo.”

No entanto, em apenas algumas horas, aquecida por almofadas de aquecimento, o corpo de Hilliard voltou a um estado de saúde. Ela estava falando ao meio-dia, e com alguns dedos dormentes e com bolhas, logo teve alta para viver uma vida normal, inafetada pela noite em que virou um picolé humano.

Para os amigos e familiares de sua comunidade, tudo foi graças ao poder da oração. Mas o que a biologia tem a dizer sobre o assunto?

Ao contrário de muitos materiais, a água ocupa um volume maior como sólido do que como líquido. Essa expansão é má notícia para os tecidos do corpo resfriados, pois seu conteúdo líquido corre o risco de inchar a ponto de romper seus recipientes.

Mesmo alguns cristais de gelo perdidos que florescem no lugar errado podem perfurar as membranas celulares com seus fragmentos semelhantes a agulhas, transformando as extremidades do corpo com manchas enegrecidas de pele e músculos mortos, ou o que comumente conhecemos como ulceração pelo frio.

Alguns animais desenvolveram adaptações interessantes para lidar com os perigos dos cristais de gelo afiados e em expansão nas condições de congelamento. Os peixes de profundidade, conhecidos como peixes-gelo da antártica, produzem glicoproteínas como uma espécie de anticongelante natural, por exemplo.

A rã-da-madeira transforma o conteúdo de suas células em um xarope, inundando seu corpo com glicose, resistindo assim ao congelamento e à desidratação. Fora de suas células, a água é livre para se transformar em sólido, envolvendo os tecidos em gelo e fazendo com que pareçam, para todos os efeitos, tão sólidos quanto cubos de gelo em forma de sapo.

Sem nada além de observações externas, é difícil dizer com certeza como o corpo de Hilliard resistiu ao congelamento. Havia algo único em sua química ou seus tecidos corporais?

Pode ser. Uma questão muito mais importante é o que exatamente “congelado” significa neste caso. Embora baixa, a temperatura corporal central de Hilliard ainda estava muito acima de zero. Há muita diferença entre a metafórica ‘congelada’ e a ter água solidificada nas veias literalmente.

O corpo de Hilliard parecer sólido é um sinal comum de hipotermia severa, à medida que a rigidez muscular aumenta a tal ponto que pode até se assemelhar ao rigor mortis, o enrijecimento que acontece com um corpo morto.

A superfície de seu corpo fria e branca, e até mesmo seus olhos parecendo vítreos e “sólidos”, também pode ser pouco surpreendente. O corpo fechará os canais para os vasos sanguíneos sob a pele para manter os órgãos internos funcionando, a ponto de um corpo parecer pálido e permanecer extremamente frio ao toque.

Para a equipe médica que tentou usar uma agulha hipodérmica em veias fortemente contraídas, especialmente se elas estivessem cobertas por finas camadas de pele desidratada pressionadas contra músculos rígidos, podemos até imaginar uma ou duas agulhas tortas como resultado.

Com pouco mais além de alguns relatos surpresos, podemos apenas especular se o corpo “congelado” de Hilliard era típico, chocante, ou de fato estranhamente único em sua capacidade de resistir a uma mudança de estado tão extrema. Não pode haver dúvida, entretanto, de que ela teve sorte. [Science Alert]