No trabalho, uma pessoa boa é aquela
que contribui para um convívio de qualidade, busca aprender com os colegas e
dificilmente lhes dará as costas
Pense nas pessoas que você mais admira e também
naquelas com quem mais gosta de conviver. É bem provável que você lembrou de
quem faz o certo, e faz com que você se sinta bem, e faz com que salte algo de
bom em você.
Existe uma famosa frase que circula há tempos e que
ilustra muito bem essa questão. Alguns dizem que é de Maya Angelou, outros
falam que a autoria é desconhecida. Mas eis:
"As pessoas podem não lembrar exatamente o que
você fez, ou o que você disse, mas elas sempre lembrarão como você as fez
sentir".
É por isso que eu entendo que, para ser um grande
profissional – ou qualquer coisa que seja nessa vida –, a gente precisa, antes
de tudo, ser uma boa pessoa. Existem valores e virtudes passíveis de
interpretação. Não acho que esse seja o caso da bondade.
O
que é ser bom?
O ser humano é capaz de tudo. Por isso, eu
considero que ser bom é reconhecer que cada um de nós tem total capacidade de
ser um "grande FDP", mas faz sábias escolhas que vão justamente no
oposto desse caminho.
Trazendo para a vida profissional, a pessoa boa é
aquela que contribui para um convívio de qualidade, busca aprender com os
colegas, sabe ouvir, reconhece e supera limitações e que dificilmente vai dar
as costas para a equipe, se isolar no próprio mundo, enquanto tudo pega fogo
nos arredores.
Sempre gostei muito de filosofia e história e, por
isso, trago aqui um dos ensinamentos de Marco Aurélio que, não por acaso, é
constantemente lembrado como o "último bom imperador de Roma".
"Não perca tempo falando sobre como um homem
bom seria, vá e seja bom".
Uma simples frase para falar basicamente sobre a
necessidade de nós mesmos sermos autores de nosso comportamento e
desenvolvimento de habilidades. Sente raiva do chefe? Sente inveja do colega?
Quer brigar com o cliente? Não sabe lidar com feedback?
Como bons profissionais, cabe a nós fazermos
escolhas sobre como vamos tratar as pessoas em nossa volta, sobre como vamos
nos posicionar diante de inúmeras situações. Muitas vezes, somos tomados pelo
ego, por nossas próprias vontades e incômodos e nos esquecemos de que vivemos em
sociedade, trabalhamos em equipe.
É por isso que polarizações nos emburrecem. Cada um
tentando defender o seu, sem enxergar o que realmente importa para o coletivo.
Mais uma vez, pessoas boas não se isolam e, ainda que tenham necessidades
particulares, conseguem superá-las em nome do contexto maior.
No mundo corporativo, para saber lidar com as
pessoas, seus sentimentos e competências, é fundamental estudar sobre gestão de
pessoas. Já comentei aqui que para mim a gestão de pessoas é uma ciência e que
esses conhecimentos nos ajudam muito a saber como nos posicionar melhor.
Assumir
as responsabilidades
O que hoje chamamos de soft skills, os estoicos –
como Marco Aurélio – já traziam em seus ensinamentos como a necessidade da
autorresponsabilidade, o pensamento para a resolução de problemas e, claro, a
inteligência emocional. Nós somos responsáveis por nossas atitudes e
comportamentos.
Ainda que as emoções mais negativas possam surgir
em nós, precisamos aprender a lidar com elas para sermos fiéis a propósitos e à
consciência de que estamos sempre em coletivo. Quem reconhece isso tem
capacidade para se desenvolver como profissional.
Muitas vezes, é a energia, a personalidade e a
capacidade de transformação, resiliência e adaptabilidade que levam a melhores
caminhos na carreira.
Não estou dizendo para sermos complacentes sem
reflexão. Pelo contrário. Para sermos firmes e exigentes, não precisamos ser
grossos. Para falarmos o que pensamos, devemos considerar também a realidade do
outro. E assim por diante.
O que quero dizer é que, ainda que precisemos nos
esforçar muito para sermos profissionais competentes e tecnicamente
habilidosos, percebo uma necessidade maior para o desenvolvimento das
habilidades interpessoais, bem como as emocionais, a própria identidade e as
virtudes.
Não
confunda: ser bom não é ser bonzinho
Por favor, não me interpretem mal, quando falo ser
bom, não estou falando, de forma nenhuma, de "ser bonzinho", de falar
o que as pessoas querem ouvir, de aliviar, de dizer algo importante somente
para não conflitar.
Sempre falo por aqui, "fazer o certo, sempre,
e pelas razões certas".
Fazer o certo significa falar e fazer o que tem de ser falado e feito, sem
procrastinação, e não o que se quer ouvir muitas das vezes. Mas existem formas
diferentes de falar as coisas, então procure uma que seja realmente
contributiva.
Um erro muito comum dos profissionais é tentar
agradar a todos, tentar ser querido por todos, e não fazer e não falar o que
tem que ser feito.
Algumas vezes, você irá precisar fazer ou falar
algo que julgue ser certo naquele momento, mas que não será a ação mais
popular. Mas, se for feito de forma contributiva, com o passar do tempo, as
pessoas perceberão que você o fez com um propósito maior. Assim, o seguirão
como líder, tanto por fazer o certo quanto por tentar fazer da melhor maneira
possível.
O contrário é quando as pessoas percebem que você
não fez o necessário, somente para ser mais popular e, assim, perderá seus
créditos como líder.
Somos adultos, temos a autorresponsabilidade de
cuidarmos de nossas próprias vidas. Mas não custa cuidarmos de nossas conexões
para que sejamos pessoas que afetem positivamente aquelas que estão em volta,
sempre fazendo o certo, não deixando de fazer ou falar o que deve ser feito.
Olhar
para dentro não é olhar para o umbigo
Da mesma forma que pessoas boas nos inspiram, o
oposto nos afasta. Por isso, pessoas realizadoras e que fazem o bem têm uma
facilidade muito maior de construir naturalmente uma rede de contatos. Elas são
lembradas, elas mantêm relacionamentos, elas se envolvem com o bem-estar do
outro.
Por outro lado, o networking é sempre uma tarefa
penosa para quem não é bem lembrado.
Esse é um exercício pessoal que cada um de nós deve
fazer de tempos em tempos. Precisamos "olhar para dentro" e entender
se estamos sendo bons de verdade, se estamos criando vínculos fortalecidos e se
estamos enxergando verdadeiramente o outro.
Para quem se percebe falho nessas questões, a
habilidade de lidar com emoções e pessoas e o senso de colaboração são
características que podem ser desenvolvidas. Além de cursos, leituras e
estudos, nossas atitudes do dia a dia vão revelando o que há de bom em nós.
E um ponto muito importante para isso é escutar
verdadeiramente as pessoas para compreendê-las sem bloquear demais com pré-julgamentos.
É o que gosto de dizer: fazer o certo, pelas razões
certas, todos os dias. Para mim, esse é o caminho de se tornar uma pessoa boa.
Isso é uma questão de iniciativa, de saber puxar a fila. É possível viver de
forma mais leve e gostar dessa jornada de aprendizado.
MarceloMiranda.