Se você conversar com
um pai e perguntar qual é a maior dificuldade em ser pai, ele pode não dizer
deste jeito, mas vai afirmar: um dos maiores problemas é que filhos não nascem
com manual de instruções! Tá bem, este não é o problema apenas de ser pai, mas
pode se estender para ser mãe, relação entre irmãos, casal e aquelas em que a
proximidade do dia a dia torna desgastante qualquer tipo de relação.
O manual que falta
quando da entrega da criança precisa ser suprido de alguma forma. Um pai deu um
depoimento dizendo que seu pequeno mundo era bem organizado e ele se sentia o
centro do universo. O nascimento do filho mudou a órbita de todos os planetas,
inclusive a sua, onde a agenda ficou diferente, aí se incluindo aprender a fazer
coisas que nunca tinha imaginado: acordar de madrugada com choro, trocar
fraldas, acompanhar o crescimento, as crises, as partidas e os retornos.
A vida sempre respeita
ciclos. Enquanto filhos, há um pai que está no horizonte, dando parâmetros para
que organizemos nossas vidas. Até que os filhos cheguem, não parece que um dia
aquela posição que era tão cômoda vai ser chacoalhada, exigindo que o nosso
amadurecimento passe pelo estágio em que a vida segue em frente e, então, é
tempo de trocar de papéis.
Não fui pai biológico.
Tentei ser um pai de coração para o Miro, a Vânia e a Vanessa (filhos da minha
irmã falecida). Não fui um bom pai. Assim como não posso me classificar como um
bom filho. Não há apenas a dicotomia entre bom e mau nas relações familiares:
um dia podemos estar bem, noutro nem tanto; um dia podemos acertar no jeito de
tratar, no outro podemos ser estabanados. Faz parte do processo mais eterno que
existe: ser gente!
Se o filho viesse
embalado em material de proteção, acondicionado em caixa apropriada, com todos
os manuais e cabos necessários, ainda assim, a "montagem" é coisa que
não depende apenas de quem os gera ou os cria. Cada um deles vem com seu jeito
especial de ser. Por muitos cursos que se faça, por muitas obras que se leia,
por muitas ideias que se troque com outros pais, ainda assim, um filho ou uma
criança que a vida nos encarregou de criar são únicos.
Pais também o são. Do
analfabeto ao letrado, do carinhoso ao mais duro, do próximo àquele ausente, se
pedirem o depoimento de seus filhos, alguma coisa de boa vão ouvir como marca
que o convívio deixou. Neste tempo de ausência do meu pai, seu Manoel (quatro
anos de sua morte), não poderia dizer que sinto sua falta ou saudade. A
impressão que tenho dele é de alguém que cumpriu seu papel, viveu a sua vida e,
do seu modo, incentivou a que também fizéssemos o mesmo.
As cruzes que carrego
não foram colocadas em meus ombros por meu pai. Ele tinha um jeito bem-humorado
de enfrentar a vida e seus problemas: se, na encruzilhada, se toma um rumo
errado, ser pai não é mostrar um outro caminho, mas ajudar a fazer novas
escolhas, quem sabe com mais distância a percorrer, mas sabendo que o filho
traz em si um jeito especial de viver. O importante é seguir em frente,
aprendendo que as estradas ficam melhores quando somos capazes de observar,
juntos, horizontes, distinguindo a beleza das montanhas, lagos, vilas, bosques
e, quem sabe, outras estradas...
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