terça-feira, 4 de agosto de 2015

A estrada para ser pai

Se você conversar com um pai e perguntar qual é a maior dificuldade em ser pai, ele pode não dizer deste jeito, mas vai afirmar: um dos maiores problemas é que filhos não nascem com manual de instruções! Tá bem, este não é o problema apenas de ser pai, mas pode se estender para ser mãe, relação entre irmãos, casal e aquelas em que a proximidade do dia a dia torna desgastante qualquer tipo de relação.

O manual que falta quando da entrega da criança precisa ser suprido de alguma forma. Um pai deu um depoimento dizendo que seu pequeno mundo era bem organizado e ele se sentia o centro do universo. O nascimento do filho mudou a órbita de todos os planetas, inclusive a sua, onde a agenda ficou diferente, aí se incluindo aprender a fazer coisas que nunca tinha imaginado: acordar de madrugada com choro, trocar fraldas, acompanhar o crescimento, as crises, as partidas e os retornos.

A vida sempre respeita ciclos. Enquanto filhos, há um pai que está no horizonte, dando parâmetros para que organizemos nossas vidas. Até que os filhos cheguem, não parece que um dia aquela posição que era tão cômoda vai ser chacoalhada, exigindo que o nosso amadurecimento passe pelo estágio em que a vida segue em frente e, então, é tempo de trocar de papéis.

Não fui pai biológico. Tentei ser um pai de coração para o Miro, a Vânia e a Vanessa (filhos da minha irmã falecida). Não fui um bom pai. Assim como não posso me classificar como um bom filho. Não há apenas a dicotomia entre bom e mau nas relações familiares: um dia podemos estar bem, noutro nem tanto; um dia podemos acertar no jeito de tratar, no outro podemos ser estabanados. Faz parte do processo mais eterno que existe: ser gente!

Se o filho viesse embalado em material de proteção, acondicionado em caixa apropriada, com todos os manuais e cabos necessários, ainda assim, a "montagem" é coisa que não depende apenas de quem os gera ou os cria. Cada um deles vem com seu jeito especial de ser. Por muitos cursos que se faça, por muitas obras que se leia, por muitas ideias que se troque com outros pais, ainda assim, um filho ou uma criança que a vida nos encarregou de criar são únicos.

Pais também o são. Do analfabeto ao letrado, do carinhoso ao mais duro, do próximo àquele ausente, se pedirem o depoimento de seus filhos, alguma coisa de boa vão ouvir como marca que o convívio deixou. Neste tempo de ausência do meu pai, seu Manoel (quatro anos de sua morte), não poderia dizer que sinto sua falta ou saudade. A impressão que tenho dele é de alguém que cumpriu seu papel, viveu a sua vida e, do seu modo, incentivou a que também fizéssemos o mesmo.

As cruzes que carrego não foram colocadas em meus ombros por meu pai. Ele tinha um jeito bem-humorado de enfrentar a vida e seus problemas: se, na encruzilhada, se toma um rumo errado, ser pai não é mostrar um outro caminho, mas ajudar a fazer novas escolhas, quem sabe com mais distância a percorrer, mas sabendo que o filho traz em si um jeito especial de viver. O importante é seguir em frente, aprendendo que as estradas ficam melhores quando somos capazes de observar, juntos, horizontes, distinguindo a beleza das montanhas, lagos, vilas, bosques e, quem sabe, outras estradas...



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