A escola para muitos é lugar de aprender as várias disciplinas
obrigatórias, submeter os estudantes a provas de conhecimento e aprovar os que
aprenderam e reprovar os que não. É um conjunto arquitetônico pensado para a
vigilância, para a promoção da disciplina, com o intuito de que a norma seja
respeitada.
Historicamente preferimos silenciar acerca da sexualidade
infantil. Negamos essa dimensão como se as crianças não fossem seres que tentam
descobrir o próprio corpo e, com isso, descobrem que são dotados de
características sexuais, que os diferenciam uns dos outros. São, em essência,
seres desejantes desde bebezinhos.
A criança entra para a escola por inteiro. Ela não deixa a sua
sexualidade em casa, nem cala suas descobertas. A observação da vida é um
aprendizado ininterrupto, que tem o mundo físico como laboratório, por isso a
convivência com os amigos e colegas é pautada pela vivência da sexualidade.
Todo o comportamento humano é perpassado pela sexualidade, o que na infância e
na adolescência é algo pulsante e revelador.
O corpo transmite visões de mundo. Consegue-se detectar as
relações que as crianças têm com o próprio corpo, que podem ser de vergonha, de
inadequação, de constatação de que é admirado, olhado, enfrentado. Sabendo-se
disso, deve-se perguntar como algo tão forte e importante não é objeto de
estudo aprofundado por parte dos professores e professoras, como o estado se
mantêm neutro frente a tantos conflitos, preconceitos e violência dentro das
escolas, em grande parte por causa de problemas de gênero.
Cuidar de todas as dimensões humanas deveria ser a mola
propulsora de todas as escolas e dos que elaboram Planos Nacionais, Estaduais e
Municipais de Educação. Chamar de ideologia o cuidado com as questões de gênero
revela a concepção ultrapassada de que nascemos prontos e que podemos pensar
como sempre foi pensado, que devemos obedecer a normas cegamente, que não
devemos questionar um modelo falido, mas que nos dá o poder de vigiar,
controlar, perpetuar – agora sim – ideologias. Ao invés de nos comportarmos de
forma anacrônica, podemos ajudar as crianças a pensar sobre si e sobre o outro
de forma cuidadosa, identificando e respeitando as diferenças.
A família passa as informações primárias sobre sexualidade, na
medida em que produz situações de amamentação, parto, gravidez, contracepção e,
importante, fala sobre esses assuntos. Ela tem a prerrogativa primeira de
educar para a sexualidade e o cuidado pessoal. Mas a dimensão social e coletiva
é vivida fora da família, motivo pelo qual é tão importante que a escola esteja
preparada para acolher a questões tão delicadas e determinantes para a saúde
das pessoas.
O silêncio da escola nas questões de gênero reproduz o medo que
temos de problematizar a realidade. As questões de gênero são algo profundo e
abrangente. Espera-se que o Estado esteja atento a isso e que a academia forme
profissionais da educação capazes de discutir, acolher e pacificar os muitos
conflitos e mal entendidos que ainda ofuscam a beleza da sexualidade humana.
Deve ser uma beleza reproduzir conhecimento que já não atende às
exigências atuais. Agindo sempre igual não precisamos nos preocupar em pensar,
nem em tomar decisões próprias. Podemos nos limitar a lembrar com saudade de
como fomos criados, de como nossos avós foram criados e de como alguns livros
tratam de todos os assuntos, como se não houvesse necessidade de atualização,
nem adequação aos rumos de uma sociedade que se reinventa todos os dias.
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