segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Qual destino para o Brasil: recolonização ou projeto próprio?



Há uma indagação que se realiza no Brasil, mas, também, no exterior que se expressa por esta pergunta: qual o destino da sétima economia mundial e qual o futuro de sua incomensurável riqueza de bens naturais?
Analistas dos cenários mundiais do talante de Noam Chomsky ou de Jacques Attali nos advertem: a potência imperial  norte-americana segue esse mote,  elaborado nos salões dos estrategistas do Pentágono: ”um só mundo e um só império”. Não se toleram países, em qualquer parte do planeta, que possam pôr em xeque seus interesses globais e sua hegemonia universal. Curiosamente, o papa Francisco, em sua encíclicla “sobre o cuidado da Casa Comum”, como que revidando o Pentágono, propõe: ”um só mundo e um só projeto coletivo”.
No Brasil, esse debate se dá, principalmente, no campo da macroeconomia: o Brasil irá se alinhar às estratégias político-sociais-econômico-ideológicas impostas pelo Império, e, com isso, terá vantagens significativas em todos os campos, mas aceitando ser sócio menor e agregado (opção dos neoliberais e dos conservadores) ou o Brasil irá procurar um caminho próprio, consciente de suas vantagens ecológicas, do peso de seu mercado interno com uma população de mais de duzentos milhões de pessoas e da criatividade de seu povo.
 Aprende a resistir às pressões que vêm de cima, a lidar, inteligentemente,  com as tensões, a praticar uma política do ganha-ganha (o que supõe fazer concessões) e, assim, manter o caminho aberto para um projeto nacional próprio que contará para o devenir da nossa e da futura civilização (opção das esquerdas e dos movimentos sociais).
Isso deve ficar claro: há um propósito dos países centrais que dispõem de várias formas de poder, especialmente, a militar (podem matar a todos) de recolonizar toda a América Latina para ser um reserva de bens e serviços naturais (água potável, milhões de hectares férteis, grãos de todo tipo, imensa biodiversidade, grandes florestas úmidas, reservas minerais incomensuráveis etc). Ela deve servir, principalmente, aos países ricos, já que em seus territórios quase se esgotaram tais “bondades da natureza”, como dizem os povos originários. E vão precisar delas para manterem seu nível de vida.
Estimamos que, dentro de um futuro não muito distante, a economia mundial será de base ecológica. Finalmente, não nos alimentamos de computadores e de máquinas, mas de água, de grãos e de tudo o que a vida humana e a comunidade de vida demandam. Daí a importância de manter a América Latina, especialmente, o Brasil no estágio o mais natural possível, não favorecendo a industrialização, nem algum valor agregado a suas commodities.
Seu lugar deve ser aquele que foi pensado desde o início da colonização: uma grande empresa colonial que sustenta o projeto dos povos opulentos do Norte, para continuarem sua dominação que vem desde o século 16, quando se iniciaram as grandes navegações de conquista de territórios pelo mundo afora. Analiticamente, esse processo foi denunciado por Caio Prado Jr, por Darcy Ribeiro, e, ultimamente, com grande força teórica, por Luiz Gonzaga de Souza Lima com seu livro ainda não devidamente acolhido "A refundação do Brasil: rumo à sociedade biocentrada" (RiMa, São Bernardo 2011).
Em razão desta estratégia global, as políticas ambientais dominantes reduzem o sentido da biodiversidade e da natureza a um valor econômico. A tão propalada “economia verdade” serve a este propósito econômico e menos à preservação e ao resgate de áreas devastadas. Mesmo quando isso ocorre, destina-se à macroeconomia  de acumulação e não à busca de um outro tipo de relação para com a natureza.
O que cabe constatar é o fato de que o Brasil não está só. As experiências recentes dos movimentos populares socioambientais se recusam a assumir simplesmente a dominação da razão econômica, instrumental e utilitarista que tudo uniformiza. Por todas as partes, estão irrompendo outras modalidades de habitar a Casa Comum a partir de identidades culturais diferentes. 
Os conhecimentos tradicionais, oprimidos e marginalizados pelo pensamento único técnico-científico, estão ganhando força na medida em que mostram que podemos nos relacionar com a natureza e cuidar da Mãe Terra de uma forma mais benevolente e cuidadosa. Exemplo disso é o “bien vivier y convivir” dos andinos, paradigma de um modo de produção de vida em harmonia com o Todo, com os seres humanos entre si e com a natureza circundante. 
Aqui funciona a racionalidade cordial e sensível que enriquece e, ao mesmo tempo, impõe limites à voracidade da fria razão instrumental-analítica que, deixada em seu livre curso, pode pôr em risco nosso projeto civilizatório. Trata-se de uma nova compreensão do mundo e da missão do ser humano dentro dele, como seu guardador e cuidador. Oxalá este seja o caminho a ser trilhado pela humanidade e pelo Brasil. 
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