K2, a
maconha sintética, se dissemina como praga entre moradores de rua de Nova York.
Era começo da tarde quando um homem com espasmos na perna foi
arrastado do chão para dentro de uma ambulância. Outro, que vendia livros,
lavou o vômito.Nova York, estados unidos.
Alguns dias depois, Charlie Medina se sentou no mesmo lugar,
incapaz de se lembrar do próprio nome, antes de entrar em transe com a boca
aberta e os olhos dilatados.
E os amantes. Eles não conseguiram encontrar um quarto. O moço
tirou a camisa e o sutiã da moça e começou a beijar seus seios machucados
enquanto uma pequena multidão se reunia para assistir à cena. As pessoas neste
pedaço da rua 125 no East Harlem podem mudar, mas a droga continua a mesma: K2,
também chamada de “maconha sintética”, uma mistura potente de ervas e substâncias
químicas, que está sendo amplamente usada pelos mendigos da cidade de Nova
York.
Febre da maconha sintética leva milhares de jovens para
clínicas Nootrópicos são a droga da vez
no mundo dos negócios Tratamento provoca
dor em 80% dos pacientes com câncer
Um cigarro de K2 é vendido por US$ 1 ou US$ 2, muito mais barato
do que comida. São comercializados em vários bares da rua 125. Em comparação,
um cigarro de maconha custa cerca de US$ 5. Multidões de 80 ou cem mendigos
chegam de ônibus de um abrigo próximo, em Randalls Island, atraídos por
clínicas de reabilitação para usuários de heroína, e passam o dia por aqui sob
influência dessa droga barata.
O quarteirão entre as avenidas Park e Lexington algumas vezes
parece uma rua povoada por zumbis. “Aqui é a nação do K2”, diz um homem confuso
antes de ir embora. Os quarteirões vizinhos são diferentes. Um supermercado da
cadeia Whole Foods está sendo construído na rua 125. Um restaurante chique do
chef-celebridade Marcus Samuelsson serve comida tradicional a preços altos aqui
perto.
Mas este pedaço é uma lembrança de como era o Harlem antes que o
empurrão do desenvolvimento começasse – talvez até uma versão piorada daquele
tempo.
A droga, ervas pulverizadas com substâncias químicas conhecidas
como “canabinoides”, que funcionam como uma versão muito mais potente da
maconha, vem em um saco plástico. O K2 é ilegal no Estado de Nova York, assim
como suas variações chamadas Spice, AK-47 e Scooby Snax.
Porém, poucas pessoas acabam presas porque os produtores mudam
frequentemente a mistura química à medida que as substâncias são proibidas.
Recentemente, um homem de 47 anos chamado Green parou na rua 125 colocando um
canudo de plástico dentro da orelha. Ele sofre de doença de Parkinson e diz que
está se automedicando com K2.
“Algumas vezes acalma os espasmos. Algumas vezes só me deixa
pior”, conta, arrumando as alças de uma mochila esfarrapada.
‘Se eu não fumasse, poderia ficar bravo’
Nova York. Michael Morgan, 46, passa a maioria dos dias sob um
andaime perto de uma agência do Apple Bank na rua 125, balançando uma perna
engessada, fumando K2.
A calçada se transformou em sua casa desde abril, depois que,
segundo ele, os funcionários de um abrigo próximo o forçaram a sair quando
suspeitaram que ele estava abusando fisicamente de sua namorada, Saida, 29.
Antes do problema, os dois conseguiam guardar algum dinheiro pedindo esmolas e
passavam horas usando drogas pela cidade, seguidas de recuperações lentas nas
ruas.
De repente, um sorriso ilumina o rosto de Morgan, expondo os
buracos onde seus dentes da frente um dia estiveram. Sua namorada chegou. Ela
mostra um envelope cheio de K2. Morgan enrola um cigarro e acende.
“Se não fumasse, poderia ficar bravo, poderia bater nela. Esse
negócio me deixa calmo”, afirma ele, com as palavras sumindo a cada tragada.
Depois de um tempo, volta a si e olha para a namorada. “Quer ficar aqui comigo
esta noite? Podemos nos divertir na grama e depois dormir sob o banco”.
Policiais apenas acompanham
Nova York.Incursões policiais nos bares da rua em julho
resultaram no confisco de mais de 8.000 pacotes de K2, mas muitas das lojas
continuam a vender a droga. Com isso, os policiais ficam só olhando enquanto os
usuários acendem seus cigarros à luz do dia.
Então, quando caem nas ruas, os oficiais os carregam para
ambulâncias. O K2 pode ser a droga mais popular por aqui, mas é apenas parte do
mercado negro. Dois traficantes oferecem sacolas de maconha por US$ 5 na
estação de trem Metro-North, e os moradores apontam para onde se vende heroína
no topo da linha de metrô da avenida Lexington.
Um quarteirão depois, um homem
propõe comprar vales-refeição por metade do valor em dinheiro. “Alguém aqui
está vendendo um bebê?”, perguntou um casal a um grupo de mendigos em uma tarde
recente. “Um bebê?”, gritou um homem confuso. “Ouvimos que havia um bebê para
vender”, respondeu o moço. O casal riu. “Não ligue para a gente, tomamos
ácido”, disse a mulher.
NICHOLAS CASEY -THE NEW YORK TIMES.
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