Impressiona-me o crescente
espaço destinado à violência nos meios de comunicação. Catástrofes, tragédias,
crimes e agressões, recorrentes como chuvaradas de verão, compõem uma pauta
sombria e perturbadora.
A violência não é uma invenção
da mídia. Mas sua espetacularização é um efeito colateral que deve ser evitado.
Não se trata de sonegar informação. Mas é preciso contextualizá-la. A overdose
de violência na mídia pode gerar fatalismo e uma perigosa resignação. Não há o
que fazer, imaginam inúmeros leitores, ouvintes, telespectadores e internautas.
Acabamos, todos, paralisados sob o impacto de uma violência que se afirma como
algo irrefreável e invencível. E não é verdade.
Os que estamos do lado de cá,
os jornalistas, carregamos nossas idiossincrasias. Sobressai, entre elas, certa
tendência ao catastrofismo. O rabo abana o cachorro. O mote, frequentemente
usado para justificar o alarmismo de certas matérias, denota, no fundo, a nossa
incapacidade para informar em tempos de normalidade.
Mas, mesmo em épocas de crise
(e estamos vivendo uma gravíssima crise de segurança pública), é preciso não
aumentar desnecessariamente a temperatura. O jornalismo de qualidade reclama um
especial cuidado no uso dos adjetivos. Caso contrário, a crise real pode ser
amplificada pelos megafones do sensacionalismo.
À gravidade da situação,
inegável e evidente, acrescenta-se uma dose de espetáculo e uma indisfarçada
busca de audiência. O resultado final é a potencialização da crise. Alguns
setores da imprensa têm feito, de fato, uma opção preferencial pelo
negativismo. O problema não está no noticiário da violência, mas na miopia, na
obsessão pelos aspectos sombrios da realidade.
Precisamos, ademais, valorizar editorialmente inúmeras iniciativas que tentam construir avenidas ou ruelas de paz nas cidades sem alma. A bandeira a meio pau sinalizando a violência não pode ocultar o esforço de entidades, universidades e pessoas isoladas que, diariamente, se empenham na recuperação de valores fundamentais: o humanismo, o respeito à vida, a solidariedade. São pautas magníficas. Embriões de grandes reportagens. Denunciar o avanço da violência e a falência do Estado no seu combate é um dever ético.
Precisamos, ademais, valorizar editorialmente inúmeras iniciativas que tentam construir avenidas ou ruelas de paz nas cidades sem alma. A bandeira a meio pau sinalizando a violência não pode ocultar o esforço de entidades, universidades e pessoas isoladas que, diariamente, se empenham na recuperação de valores fundamentais: o humanismo, o respeito à vida, a solidariedade. São pautas magníficas. Embriões de grandes reportagens. Denunciar o avanço da violência e a falência do Estado no seu combate é um dever ético.
Mas não é menos ético iluminar
a cena de ações construtivas, frequentemente desconhecidas do grande público,
que, sem alarde ou pirotecnias do marketing, colaboram, e muito, na construção
da cidadania. É fácil fazer jornalismo de boletim de ocorrência. Não é tão
fácil contar histórias reais, com rosto humano, que mostram o lado bom da vida.
A juventude, por exemplo, ao contrário do que fica pairando em algumas reportagens, não está tão à deriva. A delinquência está longe de representar a maioria esmagadora da população estudantil. A juventude real, perfilada em várias pesquisas e na eloquência dos fatos, está identificando valores como amizade, família, trabalho.
A juventude, por exemplo, ao contrário do que fica pairando em algumas reportagens, não está tão à deriva. A delinquência está longe de representar a maioria esmagadora da população estudantil. A juventude real, perfilada em várias pesquisas e na eloquência dos fatos, está identificando valores como amizade, família, trabalho.
Há uma demanda reprimida de
normalidade. Superadas as fases do fundamentalismo ideológico, marca registrada
dos anos 1960 e 1970, e o oba-oba produzido pela liberação dos anos 1980 e
1990, estamos entrando num período mais realista e consistente. A juventude
batalhadora sabe que não se levanta um país na base do quebra-galho e do jogo
de cintura. O futuro depende de esforços pessoais que se somam e começam a
mudar pequenas coisas. É preciso fazer o que é correto, e não o que pega bem.
Mudar os rumos exige, sobretudo, a coragem de assumir mudanças pessoais.
A nova tendência tem raízes
profundas. Os filhos da permissividade e do jeitinho sentem intensa necessidade
de consistência profissional e de âncoras éticas. O Brasil do corporativismo,
da impunidade do dinheiro e da força do sobrenome vai, aos poucos, abrindo
espaço para a cultura do trabalho, da competência e do talento.
A violência está aí. E é
brutal. Mas também é preciso dar o outro lado: o lado do bem. Não devemos
ocultar as trevas. Mas temos o dever de mostrar as luzes que brilham no fim do
túnel.
A boa notícia também é
informação. E, além disso, é uma resposta ética e editorial aos que pretendem
fazer do jornalismo um refém da cultura da violência.
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