Numa reunião de alcoólatras, aprendemos a respeitar a pessoa
humana, em qualquer circunstância, e acreditar sempre na recuperação e na
utilidade de todos no contexto geral de uma sociedade.
Jamais
julguei ser tão importante uma reunião de alcoólicos anônimos. Para quem nunca
ingeriu qualquer espécie de bebida, vê no alcoólatra somente um elemento
desprezível, excluído da sociedade, a quem nenhum serviço poderá prestar. Quase
todos fogem dele, não o sentem como pessoa humana, nem admitem que ainda possa
ser parcela viva na comunidade.
Depois
que assisti a uma reunião dos alcoólatras anônimos, quero fazer uma confissão.
Também era integrante do grupo que nenhum crédito dava ao homem viciado em
bebidas. Para mim, não passava realmente de um fraco, verdadeira chaga na
sociedade, o mais degradante retrato do ser humano.
Quanta
surpresa e como fiquei com vergonha de mim mesmo, quando vi a fortaleza
espiritual de um alcoólatra, com toda a sua plenitude, à cabeceira de uma mesa,
falando a um grupo merecedor de todo o respeito.
Assisti à
confissão de vários homens, hoje pertencentes às mais diferentes escalas
sociais. Eram médicos, comerciantes, operários e muitos outros que, por
incrível que pareça, aparentavam o mesmo nível de sentimento, pela beleza e
sabedoria de suas palavras. Em que pese à diferença de grau de instrução, na
oratória, prendiam, do mesmo modo, a atenção de todos.
Os
oradores, ali, se despiam, publicamente, do manto negro da vaidade e falando
com alma pura, como somente homens humildes conseguem fazer. Humildade de fato,
onde a sinceridade guiava as palavras que calavam como por encanto no coração
dos que as escutavam.
Confessavam, sem qualquer constrangimento,
suas fraquezas, suas maldades, sem se preocupar com as virtudes que poderiam
possuir. Recordavam seu triste passado, contando as mais sofridas consequências
de seus atos impensados.
Tudo isso para que outros não cometessem as
mesmas falhas e não experimentassem o mesmo pesar.
Não lhes
importavam extirpar a imagem falsa que poderiam apresentar. O que lhes
interessava era a felicidade dos outros.
Como é
grandioso o verdadeiro sentido da fraternidade! Como é sublime um homem não
querer ser importante, repartindo com quem necessita um pouco de si mesmo, sem
se preocupar com o nome, nem com a condição social do irmão beneficiado.
Fiquei a
meditar que, daquela reunião, não deveriam participar apenas os alcoólatras,
mas, especialmente, aqueles que jamais ingeriram o primeiro gole. Os que mesmo
sendo abstêmios, vivam embriagados pela vaidade e orgulho, que não lhes deixam
estender a mão ao irmão caído.
Aqueles que não têm a humildade suficiente
para confessar, nem a si mesmo, as suas fraquezas. Os que jamais teriam a
coragem de comprometer a sua imagem, mesmo que em benefício de alguém. Os que
viram as costas ao homem caído nas sarjetas, porque temem sujar as mãos, embora
vivam com a alma enlameada, envolta por um corpo apodrecido por dentro.
Numa
reunião de alcoólatras, aprendemos a respeitar a pessoa humana, em qualquer
circunstância, e acreditar sempre na recuperação e na utilidade de todos no
contexto geral de uma sociedade.
Ficamos
confusos e sem saber qual a embriaguez mais condenável. Se a ocasionada pelo
uso de bebidas alcoólicas, ou se a que envolve a nossa alma, pulveriza os
nossos sentimentos, a ponto de nos fazer esquecer da humildade, único caminho
capaz de nos conduzir ao ambiente fraterno, onde reside a verdadeira paz entre
os homens.
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