O capítulo dois do livro bíblico da Sabedoria, do qual é tirada
a Primeira Leitura da Liturgia da Palavra do domingo de hoje que a Igreja
Católica nos oferece, apresenta a oposição de forças entre os justos e os
injustos.
Para entender essa oposição, é preciso ter presente o
significado bíblico de justos e injustos. Os justos são aqueles que não
acumulam força própria, colocam toda a sua força em Deus, tornando-se parceiros
de Deus.
Os injustos são aqueles que acumulam força própria, colocam toda
a sua força em si mesmos, tornando-se rivais de Deus. A parceria com Deus dos
justos cria justiça, isto é, tudo é colocado no seu devido lugar.
Já a rivalidade dos
injustos cria injustiça, isto é, tudo fica fora do lugar. Assim a justiça dos
justos incomoda a injustiça dos injustos.
O texto sapiencial em questão tem palavras claras e fortes,
mostrando o quanto os justos incomodam os injustos. Eis o texto: "Os
injustos dizem: 'Armemos ciladas aos justos, porque sua presença nos incomoda:
eles se opõem ao nosso modo de agir, repreendem em nós as transgressões da
vontade de Deus e nos reprovam as faltas contra a nossa conduta. Vejamos, pois,
se é verdade o que eles dizem e comprovemos o que vai acontecer com eles. Se de
fato, os justos são filhos (parceiros) de Deus, Deus os defenderá e os livrará
das mãos dos seus inimigos. Vamos pô-los à prova com ofensas e torturas, para
ver a sua serenidade e provar a sua paciência; vamos condená-los à morte
vergonhosa, porque, de acordo com suas palavras, virá alguém (Deus) em seu
socorro'".
A linguagem deste texto bíblico é tão atual que parece que foi
elaborado hoje. A incomodação dos injustos é tão plasticamente descrita que é
impossível acrescentar algo.
De fato, em todos os tempos do passado, repete-se nos tempos de
hoje, e ainda, infelizmente, continuará sendo nos tempos do futuro, os justos
vão ser perseguidos pelos injustos. Isso sempre porque os justos, como aqueles
que não acumulam força própria colocando toda a sua força em Deus e tornando-se
parceiros de Deus, são uma afronta e uma ameaça aos injustos, como aqueles que
acumulam força própria colocando toda a sua força em si mesmos e tornando-se
rivais de Deus.
Em última análise, essa afronta e essa ameaça existem, porque os
injustos, usando as palavras da Oração do Magnificat, rezada por Maria de
Nazaré no momento do encontro com sua prima Isabel, temem que serão
"derrubados dos seus tronos" pelo Deus dos justos que "eleva os
justos". É uma luta dos "rivais de Deus", que não querem perder
sua força própria, contra os "parceiros de Deus", que colocam toda a
sua força em Deus.
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