Nunca vi tanta gente celebrando o fim do mês de agosto.
Conhecidos e desconhecidos bradando ao céu,
com as duas mãos em súplica:
- Vem setembro. Que tudo de ruim dos últimos 31 dias fique para
trás e a partir de agora as coisas mudem.
Tenho a sensação de ter perdido tragédias, maremotos, vulcões e
vivido as últimas quatro semanas em outro mundo. Não que o oitavo mês do ano,
associado pela humanidade ao desgosto e pelos velhinhos como a fronteira de
mais um ano vencido, tenha me presenteado com ouro e incenso. Ao contrário. Foi
bem “mais ou menos”. Normal, com seus altos e baixos.
A gente tem sempre a esperança de que a vida seja escrita por
alternâncias. Mesmo se não fizermos nada para mudá-la, o “ciclo das coisas”
fará por nós. Como mágica, tudo cairá no nosso colo. É assim com os meses do
ano. Se agosto foi ruim, certamente setembro não poderá ser pior, pensamos. Por
isso é só celebrar a mudança no calendário e pronto. Respira-se a sensação de
alívio. Uma estranha aposta no imponderável.
O que não entendo é o motivo de amaldiçoar um período, a ponto
de desejar seu esquecimento eterno. Meu setembro, por exemplo, não iniciou nada
bem. No primeiro dia um caminhão estragou na porta de minha garagem e impediu o
acesso. Meu carro teve de ser estacionado quase uma quadra à frente. Situação
que o coitado do motorista do veículo, constrangido e também zangado, não teve
culpa. Mas nada com peso suficiente para eu desejar logo a chegada de outubro.
Sim, cada um teve o seu mês de agosto, com questões pessoais
para resolver, gente doente na família, preocupações no trabalho, conflitos
internos e pressão de todos os lados. Alguns devem, realmente, ter motivos para
querer acelerar o tempo. Pela primeira vez, porém, parece que perdi algo muito
ruim e não percebi. Fiquei até preocupado com minha falta. Afinal, o povo que
soltou fogos na última terça-feira lembrou a celebração de Ano-novo. Até nas
rádios e TVs ouvi comentários de desabafo. E quem tentou discordar foi logo
cortado.
- Sem essa de que agosto foi o mais quente dos últimos cem anos
e não tivemos o terrível inverno gaúcho. Foi ruim e pronto.
O.k. Nada de estresse. Afinal, sempre haverá um mês seguinte
para nos agarrarmos nas fases de turbulência e pedirmos, lá pelo dia 15:
- Ah, não vejo a hora deste mês terminar. Que chegue logo
outubro, novembro, dezembro…
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