Um levantamento feito com apenadas, a respeito de seus filhos,
revela a realidade das famílias e vai direcionar os serviços públicos prestados
às crianças e aos adolescentes nessa condição.
(30% das entrevistadas possuem um filho, 28% dois, 22% três, 7%
quatro e 13% mais de quatro)
A pesquisa foi feita em maio deste ano, pelo Ministério Público
do RS, com 121 apenadas – a população total nesse período era de 224 mulheres -
do presídio feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre. O resultado foi
apresentado pela coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância,
Juventude, Educação, Família e Sucessões (Caoijefam), a procuradora de justiça,
Maria Regina Fay de Azambuja, na quarta-feira (9), na sede do MP/RS.
Todas as entrevistadas são mães, e 34% delas possuem entre 35 a
45 anos de idade, a maioria, 63%, é solteira. Em relação à prole, 30% possuem
um filho, 28% dois, 22% três, 7% quatro e 13% mais de quatro. A maior parte das
crianças, 68%, possui entre zero e 11 anos, 50% das entrevistadas dizem não
receber visita dos filhos. Também foram apresentados dados em relação à
escolaridade das mães e dos filhos, etnia das presas, disponibilização de
atendimento psicológico às crianças e situação da guarda delas.
A procuradora Maria Regina Azambuja destacou a situação de
vulnerabilidade dos filhos das detentas.
"É apenas uma parcela, é um retrato pequeno, mas que mostra
que essas crianças estão em situação de muita vulnerabilidade, não só pela
condição socioeconômica, como a vulnerabilidade da própria família. Tem avó que
está presa, a mãe que tá presa, o pai que está preso, então, o que
sobra?", questiona Maria Regina.
O levantamento apontou, ainda, que o tráfico de drogas é o
principal crime cometido pelas mulheres apenadas, representando 64% das
entrevistadas.
"Nós precisamos saber se essas crianças estão na escola,
tentar regularizar a guarda, que 50% não estão com a situação regular,
legalmente, não tem ninguém por aquela criança", enfatizou a procuradora.
O diagnóstico servirá para nortear as futuras ações de diversos
órgãos do Estado. O secretário-adjunto da Secretaria da Segurança (SSP/RS),
Alciomar Goersch, participou do encontro e colocou os departamentos da
secretaria à disposição.
-A secretaria coloca-se à disposição do MP, para ajudar nesse
diagnóstico e, junto com a Susepe e com o Departamento de Direito Humanos da
SSP, contribuir para este trabalho - afirmou Goersch.
A diretora do Departamento de Direitos Humanos da SSP (DDH),
delegada Patrícia Sanchotene Pacheco, diz que o levantamento vai permitir aos
filhos de apenados um atendimento mais adequado no âmbito do serviço público e
nas redes de atendimento social.
A delegada ressaltou também a necessidade de um olhar
diferenciado para as crianças e adolescentes, filhos das vítimas de
feminicídio.
- Normalmente, essas crianças são mais vulneráveis, ficam sem a
mãe e, também, sem o pai que vai preso, pela prática do crime, ou acaba
cometendo suicídio, o que é comum nesses casos - conta Patrícia.
Ao final da apresentação do levantamento, foi acordada, entre os
presentes, a criação de um grupo de trabalho do MP/RS que deverá dar
continuidade à pesquisa no interior do Estado.
Entre as autoridades presentes, a deputada estadual Miriam
Marroni saudou a iniciativa do Ministério Público. A parlamentar é autora do
Projeto de Lei 400/2011, que institui a Política Estadual de Direitos Humanos e
Assistência a Filhos (as) de Apenadas. Ela relatou que o Projeto de Lei está
para ser votado ainda neste ano, na Assembleia Legislativa.
Também assistiram à apresentação, a diretora do Departamento de
Justiça da Secretaria de Justiça e dos Direitos Humanos do RS, Nádia Gerhard; a
promotora-assessora da Subprocuradoria-Geral de Justiça para Assuntos
Institucionais, Roberta Brenner de Moraes; os promotores da Execução Criminal,
José Eduardo Corsini e Jaqueline Luz, além de representantes da
Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe).
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