O rebaixamento da nota do Brasil pela agência Standard &
Poor’s é daquelas coisas que todo mundo e todo o mundo já esperavam, mas, na
hora que acontecem, viram um deus nos acuda. O mercado reage, o Planalto finge
que foi surpreendido e a oposição alardeia que "o governo acabou",
como praticamente comemorou o senador Aécio Neves.
Entre esses polos, desenrola-se o jogo puramente político, em
que os atores decoram o script que lhes convém e não o que combina melhor com
os interesses do País. Acuada e impotente, a área econômica registra o golpe
dentro dos gabinetes e tenta providenciar explicações e novas medidas diante
dos microfones.
Numa reunião de emergência, a presidente Dilma Rousseff
subestimou (mais uma vez) o tamanho da encrenca: "Não é
catastrófico". O ex-presidente Lula deu de ombros: "Não significa
nada". O ministro Joaquim Levy tirou o corpo fora: "Foi uma avaliação
política".
Do outro lado, as ações da renúncia e do impeachment dispararam
na Bolsa política. O ex-ministro de FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros prevê
uma "pressão insuportável" dos empresários e a renúncia de Dilma. Os
líderes do assanhadíssimo grupo suprapartidário pró-impeachment já
contabilizavam ontem à tarde 280 dos 347 votos necessários na Câmara para
afastar a presidente.
É ou não de tirar o fôlego? Dilma parece empurrar seu governo
ladeira abaixo, esforçando-se ao máximo para errar: Orçamento de 2016 com rombo
de bilhões de reais, o balão de ensaio da CPMF, a tentativa de subir o IPI, o
IOF e a Cide via decreto, Levy admitindo mexer no Imposto de Renda. Com o
controle da montanha-russa nas mãos, o PMDB avisa: sem corte de gastos antes,
nada de aumento de imposto. Faz sentido...
Com políticos, empresários, estudantes, donas de casa,
profissionais liberais e todo o resto tendo ataques de perplexidade ou de
cólera, só faltava cutucar a área militar com vara curta. Como revelou a
repórter Tânia Monteiro, não falta mais.
Certamente guiado por algum gênio do mal, o Ministério da Defesa
fez publicar no Diário Oficial da União uma portaria tirando poder dos
comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica sobre o pessoal militar
para transferi-lo ao ministro Jaques Wagner, do PT.
O, ou a, gênio do mal caprichou na dose. A iniciativa é
atribuída à secretária executiva da Defesa, casada com o segundo homem do MST,
o "exército do Stédile". A publicação no DO foi três dias antes da
maior festa militar do ano, a parada de Sete de Setembro. E a assinatura
eletrônica foi do comandante da Marinha, na condição de ministro interino, mas
ele diz que nem sequer foi consultado. Um desastre.
É assim que Dilma vai se isolando mais e mais, sem apoio popular
e cercada por um PMDB guloso, um Lula assustado, um Congresso hostil e o setor
privado se desgarrando. E, além do desgaste da imagem do Brasil no exterior,
ainda cria encrenca desnecessária justamente com as Forças Armadas.
Trancada no Planalto com Aloizio Mercadante e Edinho Silva, a
presidente parece sentada nos escombros da economia, da política, da cúpula
histórica do PT - e com a Lava Jato a mil por hora.
Sem querer cortar gastos
e sem força política para aumentar a receita, vai ter de fazer as duas coisas e
pode até enxugar o Minha Casa, Minha Vida, que é o que restou do maravilhoso
mundo das campanhas e vem justificando as viagens dela pelo País.
Goste-se ou não do deputado Eduardo Cunha, é dele a definição
perfeita e acabada do governo Dilma Rousseff: "É o Maquiavel às
avessas". Maquiavel ensinava que o mal se faz de uma vez e o bem, a
conta-gotas. Dilma faz o mal a conta-gotas e o País continua aguardando para
saber qual o bem que ela é capaz de fazer. Inclusive, ou principalmente, a ela
própria.
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