Apesar desta urgência de viver, muitos adolescentes conseguem
desenvolver relacionamentos profundos e prazerosos, enquanto outros estão
sempre pensando no que poderão estar perdendo e mantendo apenas relações
fugazes.
“A hipermodernidade é caracterizada por uma cultura do excesso,
do sempre mais. Todas as coisas se tornam intensas e urgentes. O movimento é
uma constante e as mudanças ocorrem quase num ritmo esquizofrênico,
determinando um tempo marcado pelo efêmero, no qual a flexibilidade e a fluidez
aparecem como tentativas de acompanhar essa velocidade.” (Gilles Lipovetsky e Sebastien
Charles, em Os tempos hipermodernos, 2004).
Para falarmos sobre namoros na adolescência e mesmo na infância,
temos de contextualizar quem é o nosso adolescente de hoje e em que sociedade
ele vive. O texto acima pode ser entendido como uma descrição muito próxima da
adolescência atual. Tudo é muito rápido, na velocidade da tecnologia, novidade
que torna tudo obsoleto em um curto espaço de tempo.
Sexualidade precoce
O ritmo acelerado começa a ser ditado com as relações
interpessoais, que não são tão interpessoais assim. Geralmente existe um
intermediário: o Facebook, o WhatsApp, o Instagram etc. É interessante ver como
esta geração parece estar se relacionando com todo mundo, mas não face a face.
As habilidades para se comunicar e se relacionar não vêm sendo treinadas como
antigamente. Por outro lado, essa superexposição virtual da intimidade pode
ajudar alguns jovens a se entenderem melhor e sentirem-se pertencentes.
A sexualidade cada vez mais precoce também muda esse panorama.
Hoje é difícil que uma criança de nove a dez anos não se auto intitule um
pré-adolescente. A própria puberdade parece estar chegando cada vez mais cedo.
Algumas hipóteses apontam para o papel da supererotização do meio como um fator
de adiantamento da puberdade. Sabe-se que o adolescente tem um peso muito forte
nas decisões de consumo das famílias.
Portanto, para o mercado
publicitário, o quanto antes a criança se tornar adolescente, melhor. Ademais,
o adolescente parece ter se tornado o modelo social em que pessoas mais velhas
se inspiram, gerando uma adolescentificação da idade adulta, deixando o jovem
sem referência além de sua própria confusão.
E a orientação sexual?
O adolescente de hoje, em geral, tem bastante liberdade sexual,
porém, em função da violência, tem uma autonomia muito reduzida. Ele tem
liberdade para transar, mas não tem autonomia para voltar a pé da escola.
Embora cada família tenha suas normas, observamos cada vez mais pais tomarem
posições liberais quanto a namoros precoces e relações sexuais, aparentemente
na tentativa de ter os filhos próximos de si, com a ilusão de ficarem assim
mais protegidos.
O adolescente atual tem muita informação sobre sexualidade,
mas nem sempre consegue transformar a teoria em prática, vide o alto índice
brasileiro de gestações na faixa de 15 a 19 anos.
Por outro lado, os rótulos quanto à orientação sexual estão mais
tênues, evidenciando uma forma de viver a sexualidade sem modelos
preestabelecidos. Experiências homossexuais na juventude são cada vez mais
comuns e aceitas dentro do próprio grupo, de uma forma que o jovem possa provar
e se posicionar mais livremente frente à sua orientação sexual.
Vale notar,
todavia, a persistência de comportamentos homofóbicos, que ainda tornam a opção
por orientações sexuais diferentes da heterossexualidade dominante muitas vezes
sofrida.
Embora plugado, informado, hiperexposto e com mais liberdade, o
adolescente de hoje continua tendo os mesmos conflitos sobre a sexualidade que
os jovens de outros tempos. Quem sou eu? Qual a minha orientação sexual? Vão gostar de mim? Como devo chegar em quem
eu quero?
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