Voando harmoniosamente e exibindo uma variação de cores a cada
bater de asas, a borboleta, cansada, elegantemente pousou sobre as flores de um
gerânio que competia em beleza com o novo hóspede.
Parei instantaneamente o que estava fazendo e passei a admirar a
perfeição daquele animalzinho que deixou de ser um simples inseto e passou a
ser uma demonstração de que como a natureza procura o equilíbrio na construção
das formas vivas que lhe dá sentido. O prazer sentido na simples observação
deste animalzinho é uma evidência de que os nossos sentidos têm que ser
apurados em direção à harmonização natural e com o propósito de buscar a
perfeição.
Nas asas da borboleta percebia-se um equilíbrio de formas e
cores e, no seu movimento, uma leveza superando a gravidade e, ao pousar
delicadamente sobre as flores, um respeito pelos outros seres. Não abstraí
simplesmente o que meus sentidos me mostravam, mas encaminhei um hipertexto
mental e imaginei todo o esforço de vida desta borboleta que, antes de atingir
esta beleza e leveza, foi uma larva não tão bela e muito voraz que, dentro de
sua própria existência, passou por momentos de incrível diferença, venceu
etapas, transformou-se e atingiu o estágio de quase perfeição, encantando este
observador casual.
Apurar nossos sentidos é a forma mais correta de usufruirmos da
beleza e da harmonia que nos rodeia. Não basta termos conhecimento científico e
técnico, pois é na arte e na exploração dos sentidos que conseguimos realmente
equilibrar nosso organismo psicossomaticamente e, desta forma, entrarmos em
sintonia com a natureza.
Em outras épocas, ao olhar uma borboleta, via um inseto
holometábolo, inserido no ramo dos artrópodes, hexápodo, tetráptero..., isto é,
uma visão técnica, sistematizada, impessoal. Agora vejo a individualidade do
inseto e sua inserção em um concerto natural.
Pensando bem, nós também somos
assim. Durante nossa existência buscamos equilíbrio, passando por fases de
metamorfose de comportamento, vamos procurando uma maior harmonia dos sentidos
e valorizando mais o prazer resultante do trabalho, mera utilidade que deve se
transformar em alegria.
A borboleta, alheia aos meus pensamentos, permaneceu mais alguns
segundos sobre as flores, alimentou-se e, com um simples bater de asas, alçou voo
e desapareceu por entre as outras plantas do jardim.
Sua imagem, no entanto, ficou gravada em minha memória e passou
a fazer parte dos meus pensamentos, pois não queria, e não quero, que estas
imagens fiquem no passado, pois enquanto as lembrar serão sempre presentes e um
testemunho de que nossos sentidos deverão permitir-nos voos de alegria e prazer
que justifiquem parte de nossa existência dedicada ao trabalho.
Este é o voo dos sentidos!
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