Quantas vezes na última semana você ouviu o provérbio “pau que
dá em Chico dá em Francisco”? Quando uma frasezinha pega, fica ali na boca do
povo remoendo, passa para lá e para cá, participa de várias atividades, mesmo
que o seu sentido se esvaia antes de chegar ao final da história.
Já que nem tudo é tão democrático assim, em um país de
desigualdades tão marcantes como o nosso é que essa do pau batendo em Chico e
Francisco não rola mesmo. Só o Chico é que toma uns tecos. O Francisco dá
alguma carteirada e se pica, lépido com seus títulos e diplomas; se possível
até esfrega na nossa cara um foro especial e alguma imunidade parlamentar. Ou
algum cargo de ex.
Ex-presidente, por acaso, tem um monte rodando por aí. Um não,
dois, três, contando o do saco roxo que anda fazendo aparições (cinco, se
contarmos o quieto Sarney e o viajante FHC que de vez em quando aparece, dá uns
pitacos e some).
Um, visto em boneco gigante, inflável, camisa listrada, saiu por
aí, Pixuleco, carregado pela oposição para tudo quanto é canto. E o de verdade,
carne, osso e barba num road movie promocional esquisitíssimo. Inflado, fica
insuflando. Sobe na tribuna, pega um microfone e logo vem brandindo alguma
ameaça feita em voz grossa, alta e rouca, de quem se faz de mouco e não ouve a
voz das ruas. Não vê que a coisa não está de brincadeira, que não é hora de
marketing eleitoral populista. Quanto mais as pessoas olham a cara dele, com
mais raiva vão ficando.
Para nos deixar mais boquiabertos ainda com tanta coisa
acontecendo e desacontecendo, como se não bastasse os personagens em ação,
esses dias teve o outro ex-do-passado-distante-e-longínquo-que-adoraríamos-ver-enterrado
que ressuscitou, no palco do teatro do absurdo onde apresentou um monólogo com
direito a todas as caretas que deve ter treinado à exaustão antes na frente do
espelho.
Ninguém merece. Os
palavrões que disse fizeram a sessão ser proibida para menores de idade que não
podem ver filmes de terror e sangue injetado nos olhos.
Acompanhar a política nacional nos últimos tempos virou mesmo um
exaustivo exercício de paciência e de vergonha alheia – expressão que agora
entendo mais do que nunca, em sua exatidão e plenitude impressionante do que é
a capacidade humana de sempre nos surpreender e decepcionar.
Ora é a presidente
saudando a mandioca e dobrando a meta imaginária, o seu zero particular. Ora é
um boquirroto que na verdade está mesmo tentando só salvar a sua própria pele –
viu que o caldo está entornando – para tentar retomar glorioso daqui a alguns
anos, assobiando e repetindo que não sabia, que errou, mas que isso não se
repetirá.
Aí alguém lá em cima tem alguma ideia que acha de gênio e
resolve soltá-la em balões: as da vez foram criar mais um imposto com nome
pomposo e disfarce, além do corte dos longos cabelos da Esplanada dos
Ministérios, mas só dez dedinhos; nada de navalhadas radicais.
Daí? Daí nada. O imposto
morreu, ainda bem, sufocado pela gritaria. E os cabelos? Ah, os cabelos
continuam os mesmos – o que mudará será a voz.
Desde o primeiro governo da presidente, escrevo sobre a
estranheza que havia na sensação de que tínhamos duas pessoas no comando do
país; uma ficava como sombra, fazendo negócios que estão sendo revelados só
agora, dando ordens, orientando a manada.
Era uma sombra, mas admitamos que, pelo que vemos acontecer
nesse segundo governo, a sombra até era útil e funcionava. Alguma coisa não deu
certo nessa relação, gastou – tanto que a sombra se afastou – e quando o nada
foi iluminado novamente foi que percebemos que o buraco já estava muito mais em
baixo. Canoa furada. Sem direção. Sem argumentos. Sem respostas.
E sem oposição também. Por falar em vergonha alheia, com a
oposição que temos quem precisa de governo? Eles próprios se exterminam entre
si, ou caindo do muro na lama, pelo lado errado, ou equilibrando-se em cima
dele e rezando pela cartilha de algum profissional da fé e fiscal de costumes,
mais sujos do que outro pau, o pau-de-galinheiro.
É uma novela. Acaba uma, começa a outra. Um novelo a desenrolar,
e cada mês que passa – e estão passando – se torna mais surpreendente seu
roteiro, seus vai-e-vem. Nossa própria resiliência e resignação.
Somos todos Chico.
São Paulo, vem setembro, vem setembro! 2015
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