A sabedoria do tempo traz consigo uma especial maneira de lidar
com a vida. Percebo nas atitudes dos mais vividos um jeito sereno e calmo de
adaptação ao inevitável e imutável. Amoldam-se ao que der e vier, não como
rendição estagnada, mas com uma dignidade de quem reconhece que é mais fácil
ceder do que resistir ao que o momento apresenta, seja ele de intensa alegria
ou de muita dor.
A juventude não se deixa levar assim tão fácil. Franze a face e
quer muitas explicações frente às situações conflitantes. Rebela-se ao encarar
o dia a dia desgastante dos que começam a enfrentar os dois lados da moeda, sem
paraquedas, sem salva-vidas ou salvo-conduto.
Um exemplo vem corroborar com essas minhas observações. A oração
da Sabedoria: “Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as
coisas que não podemos modificar; coragem para modificar aquelas que podemos e
sabedoria para distinguir umas das outras”.
O termo serenidade é definido de várias maneiras: a calma, o
sossego, a paz, e tranquilidade, o equilíbrio emocional. O sangue frio e o
domínio de si. Contudo, do ponto de vista prático, talvez a melhor definição
fosse “a capacidade de viver em paz com os problemas não resolvidos”.
A Oração da Sabedoria fala em “aceitar as coisas que não podemos
modificar”. A aceitação não deve ser confundida com a indiferença. A
indiferença deixa de distinguir entre as coisas que podem e as que não podem
ser mudadas. A indiferença paralisa a iniciativa. A aceitação libera a
iniciativa, aliviando-a das cargas impossíveis. A aceitação é um ato do livre
arbítrio, mas, para ser eficaz requer a coragem moral de se persistir apesar do
problema imutável. Uma vez aceito o que não pode ser modificado, a gente fica
livre para se empenhar em novas atividades.
E aí, insiro a maleabilidade que nos possibilita sermos
moldáveis e adequados ao ato de viver com sabedoria, coragem e serenidade.
Queiramos ou não, precisamos encarar o mundo na sua realidade e
aceitar a vida tal qual ela é, com todas as suas crueldades e inconsistências.
Talvez, em última análise, o início da sabedoria está na simples admissão de
que as coisas nem sempre são como queríamos que fossem. E isso se alcança à
medida que nos tornamos mais e mais maleáveis nas mãos do cotidiano que nos
molda como o oleiro molda o barro.
Em momento algum, tal postura é fácil de ser alcançada. Requer
um burilar de ourives em pedra preciosa com maestria e perícia.
Deixar-nos amoldar pelo senhor das horas e dos acontecimentos
exige muita humildade. O reconhecimento de que nas limitações está a resposta a
todas as indagações. Vou até onde minha capacidade de ver o horizonte permite
nesse constante aprendizado da arte de viver.
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