Quem sabe daqui a uma década você não vá ao posto de gasolina e
peça para o frentista encher o tanque do seu carro com combustível a base de
algas?! Isso pode ser possível, e o melhor, sem utilizar uma gota de petróleo,
bastante poluente, cada vez mais escasso e que já motivou inúmeras disputas
armadas.
Essa alternativa é apresentada pelo professor da Escola de
Sistemas de Informação da IMED, Dr. Lauro André Ribeiro.
Atualmente é consenso que a produção atual e os hábitos de
consumo são insustentáveis ??a médio e longo prazo. Isto é também verdade
quando se considera a produção e consumo de energia, um dos pilares das
sociedades desenvolvidas modernas. Vivemos em um mundo onde os combustíveis
fósseis, em especial o petróleo e o carvão, ainda são a principal fonte de
energia para atender as necessidades mundiais. Estas fontes de energia têm um
significativo impacto ambiental, devido a sua exploração e utilização,
contribuindo para a poluição e as mudanças climáticas.
No futuro, cada vez mais, problemas de custo e oferta desses
combustíveis fósseis acarretarão problemas econômicos, políticos e sociais mais
significativos, já que os combustíveis fósseis são muito dependentes do
contexto geopolítico, o que levará à volatilidade do preço destes combustíveis.
Esta volatilidade é um grande problema para a maioria dos países que são
dependentes das importações para satisfazer as suas necessidades energéticas,
pois ameaça a segurança energética dos mesmos.
Devido a estas razões, muito esforço tem sido colocado em
pesquisa e desenvolvimento de energias renováveis, tentando encontrar e
desenvolver alternativas para os combustíveis fósseis. No contexto europeu,
para citar um exemplo, a União Europeia (UE) tem objetivos muito ambiciosos até
2020, que são conhecidos como 20/20/20. As metas definidas são para reduzir a
utilização de energia primária em 20%, aumentar a quota de energias renováveis
??no mix final de energia em 20% e reduzir as emissões de gases de efeito
estufa em 20% até 2020, em relação às emissões de 1990.
No setor de energia para os transportes, no entanto, ainda
estamos longe de uma realidade mundial movida a partir de fontes renováveis, na
qual o panorama é amplamente dominado pelos derivados do petróleo (cerca de
95%). Outro aspecto preocupante é de que o uso global de energia no transporte
está aumentando rapidamente ano após ano, especialmente nas economias em
desenvolvimento como China, Índia e Brasil. Portanto, espera-se que as emissões
de CO2 provenientes do setor dos transportes continuarão a subir. Por essa
razão, há um forte interesse de empresas e governos para promover o
desenvolvimento de matérias-primas renováveis para uso nos transportes.
E é aqui que as algas entram em cena!
Dentre as diversas opções de matérias-primas para desenvolver diferentes
tipos de biocombustíveis, está sendo dada muita atenção para as microalgas.
Esta é uma classe de organismos fotossintéticos, com mais de 30 mil espécies
conhecidas que podem crescer numa grande variedade de ambientes e condições,
incluindo água salgada. Elas são mais eficientes na produção de energia,
exigindo uma área de terra de 49 a 132 vezes menor quando comparada a culturas
de soja ou de colza, que atualmente são utilizadas como matérias-primas para a
produção de biodiesel. Além disso, elas podem ser colhidas diariamente ou em
poucos dias. Geralmente, elas são eficientes na fixação de CO2 e na conversão
de energia solar em biomassa.
Além disso, as exigências de cultivo são pequenas, pois a
maioria das espécies só precisa de luz, água, CO2, e alguns nutrientes
essenciais, tais como nitratos e fosfatos, sem a necessidade do uso de
pesticidas ou fertilizantes, conforme ilustrado na figura a seguir. Além disso,
o biodiesel e outros biocombustíveis produzidos a partir de microalgas têm
propriedades semelhantes ao diesel de petróleo e ao biodiesel produzido a
partir de culturas agrícolas de 1ª geração (soja, colza, óleo de palma, etc.).
O processo de obtenção do biocombustível é considerado neutro em
carbono se o CO2 liberado na combustão for igual ao fixado durante a
fotossíntese das algas, e se toda a energia necessária para processá-las for
obtida a partir de co-produtos ou resíduos gerados, evitando a utilização de
combustível fóssil.
Abaixo está uma figura explicativa do quê seria necessário para
a produção de biocombustíveis de microalgas e alguns possíveis produtos e
processos.
Em
resumo, os biocombustíveis a base de algas possuem as seguintes vantagens em
relação aos biocombustíveis convencionais de 1a geração:
-
Capacidade de produção de óleo durante todo o ano e com maior eficiência. Logo,
a produtividade de óleo de microalgas é maior em comparação às culturas mais
eficientes;
-
Possibilidade de produção em água salgada ou misturada (doce e salgada); e em
terras não aráveis, o que não afetaria o suprimento de alimentos ou o uso do
solo para outros fins;
- Possui
um potencial de crescimento rápido e várias espécies têm de 20 a 50% do teor de
óleo em peso de biomassa seca;
- No que
diz respeito a qualidade do ar, a produção de biomassa de microalgas pode fixar
CO2 (1 kg de biomassa de algas é capaz de fixar cerca de 1,83 kg de CO2);
-Os
nutrientes para o cultivo (nitrogênio e fósforo, principalmente) podem ser
obtidos a partir do esgoto, onde existe uma interessante possibilidade de
apoiar o tratamento de águas residuais municipais;
-
Microalgas não requerem o uso de herbicidas ou pesticidas;
- As
algas também podem produzir valiosos co-produtos, como proteínas e biomassa
após a extração do óleo, os quais podem ser utilizados como ração animal,
medicamentos, fertilizantes, pigmentos, cosméticos ou ainda fermentados para
produzir etanol ou metano para geração de energia;
- O
rendimento de óleo produzido pelas algas pode ser significativamente melhorado,
pois a composição bioquímica de biomassa de algas pode ser afetada por
diferentes condições de crescimento; e
- Possui
a capacidade de produzir Bio-hidrogênio.
Mas para
que tudo isto seja possível de vivenciarmos no nosso dia-a-dia deveremos
esperar por mais alguns anos, já que muitos dos processos necessários para
obtenção destes produtos estão em fase de desenvolvimento e pesquisa.
Estudiosos desta área acreditam que os biocombustíveis de algas estarão no
mercado a partir de 2020, e representarão uma grande parcela dos combustíveis
utilizados ao longo das décadas seguintes.
A maioria das dificuldades ainda
presentes para o lançamento desta tecnologia está diretamente ligada ao alto
custo do processo e na energia consumida para obtenção do produto final, mas
diversos investimentos estão sendo feitos para contornar esses obstáculos.
Enfim,
talvez tenhamos um substituto sustentável para o petróleo, cessando com as
recorrentes guerras por energia, a insegurança energética dos países e a
extração e queima desenfreada do petróleo.
Comente
este artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário