segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Quem são os alcoólatras?

Numa reunião de alcoólatras, aprendemos a respeitar a pessoa humana, em qualquer circunstância, e acreditar sempre na recuperação e na utilidade de todos no contexto geral de uma sociedade.


Jamais julguei ser tão importante uma reunião de alcoólicos anônimos. Para quem nunca ingeriu qualquer espécie de bebida, vê no alcoólatra somente um elemento desprezível, excluído da sociedade, a quem nenhum serviço poderá prestar. Quase todos fogem dele, não o sentem como pessoa humana, nem admitem que ainda possa ser parcela viva na comunidade.

Depois que assisti a uma reunião dos alcoólatras anônimos, quero fazer uma confissão. Também era integrante do grupo que nenhum crédito dava ao homem viciado em bebidas. Para mim, não passava realmente de um fraco, verdadeira chaga na sociedade, o mais degradante retrato do ser humano.

Quanta surpresa e como fiquei com vergonha de mim mesmo, quando vi a fortaleza espiritual de um alcoólatra, com toda a sua plenitude, à cabeceira de uma mesa, falando a um grupo merecedor de todo o respeito.

Assisti à confissão de vários homens, hoje pertencentes às mais diferentes escalas sociais. Eram médicos, comerciantes, operários e muitos outros que, por incrível que pareça, aparentavam o mesmo nível de sentimento, pela beleza e sabedoria de suas palavras. Em que pese à diferença de grau de instrução, na oratória, prendiam, do mesmo modo, a atenção de todos.

Os oradores, ali, se despiam, publicamente, do manto negro da vaidade e falando com alma pura, como somente homens humildes conseguem fazer. Humildade de fato, onde a sinceridade guiava as palavras que calavam como por encanto no coração dos que as escutavam.

 Confessavam, sem qualquer constrangimento, suas fraquezas, suas maldades, sem se preocupar com as virtudes que poderiam possuir. Recordavam seu triste passado, contando as mais sofridas consequências de seus atos impensados.

 Tudo isso para que outros não cometessem as mesmas falhas e não experimentassem o mesmo pesar.

Não lhes importavam extirpar a imagem falsa que poderiam apresentar. O que lhes interessava era a felicidade dos outros.
Como é grandioso o verdadeiro sentido da fraternidade! Como é sublime um homem não querer ser importante, repartindo com quem necessita um pouco de si mesmo, sem se preocupar com o nome, nem com a condição social do irmão beneficiado.

Fiquei a meditar que, daquela reunião, não deveriam participar apenas os alcoólatras, mas, especialmente, aqueles que jamais ingeriram o primeiro gole. Os que mesmo sendo abstêmios, vivam embriagados pela vaidade e orgulho, que não lhes deixam estender a mão ao irmão caído.

 Aqueles que não têm a humildade suficiente para confessar, nem a si mesmo, as suas fraquezas. Os que jamais teriam a coragem de comprometer a sua imagem, mesmo que em benefício de alguém. Os que viram as costas ao homem caído nas sarjetas, porque temem sujar as mãos, embora vivam com a alma enlameada, envolta por um corpo apodrecido por dentro.

Numa reunião de alcoólatras, aprendemos a respeitar a pessoa humana, em qualquer circunstância, e acreditar sempre na recuperação e na utilidade de todos no contexto geral de uma sociedade.

Ficamos confusos e sem saber qual a embriaguez mais condenável. Se a ocasionada pelo uso de bebidas alcoólicas, ou se a que envolve a nossa alma, pulveriza os nossos sentimentos, a ponto de nos fazer esquecer da humildade, único caminho capaz de nos conduzir ao ambiente fraterno, onde reside a verdadeira paz entre os homens.


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