quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O que falta para a eletromobilidade pegar no Brasil?


O Brasil tem sido e será palco de grandes eventos mundiais, como foi a Copa do Mundo em 2014, e será, no ano que vem, mais especificamente na cidade do Rio de Janeiro, sede dos Jogos Olímpicos 2016.


Fazendo uma retrospectiva do legado deixado por estes eventos, em outros países, notamos algumas ações pela melhoria da infraestrutura da mobilidade nos grandes centros urbanos, sede dos espetáculos esportivos, como a cidade de Londrina, esta com atitudes tímidas limitando tráfego pelo rodízio automatizado e imposto, pesando no bolso de quem, eventualmente, insiste em usar o transporte individual nos grandes centros urbanos, conhecidos como downtown. 

Já na China, vimos uma explosão de iniciativas pela mobilidade elétrica, desde o crescimento vertiginoso de bicicletas e scooters movidas por tração elétrica até ônibus no transporte público, servindo de locomoção aos visitantes e habitantes, que, nas paradas, recarregam durante operação de embarque e desembarque, com os supercapacitores e bateria de tração com energia suficiente para deslocamentos de parada em parada. 

Sob estes pontos de ônibus, existem verdadeiras subestações elétricas, transformadores e equipamentos necessários a esta operação. 

O exemplo chinês, no entanto, não é o melhor do mundo, embora, aparentemente, seja verde o produto final, ajudando a população das cidades na redução de emissão de poluentes e ruídos, no deslocamento para passageiros e pedestres. A indústria local ainda utiliza uma base energética ruim, gerada principalmente pela queima de carvão.

No Brasil, o legado da Copa do Mundo teve algo de positivo, fora os elefantes brancos dos estádios que ficaram prontos na véspera e ainda precisam ser pagos. Falo dos corredores exclusivos para ônibus, presentes em quase todas as cidades-sede e de suporte. 

 Pois bem, o que falta agora? Melhorar o uso de fontes renováveis nestes veículos, reduzindo emissões mesmo que a lei municipal paulista 14.933 ainda não tenha "colado", e otimizar o tempo de viagem com maior conforto e interoperabilidade modal (Free Flow  ITS = Ônibus “falando” pro semáforo abrir). 

Os VLT - Veículos Leves sobre Trilhos prometidos para a Copa talvez saiam para as Olimpíadas, assim como as expansões do metrô. Esquecemos, por vezes, que bondes e outros modais - trens, metrôs e VLTs - duram muito mais tempo que os convencionais, atuais ICE – Internal Combustion Engines, porque são elétricos e, de quebra, não poluem. 

Eletrificar o corredor agora ficou mais fácil, quem sabe mais trólebus, talvez tecnologias de recarregamento sem fio possam ser usadas, como já existe para os celulares e, agora, tentado para pequenos veículos com faixa exclusiva, recém-inaugurada na Inglaterra, que enfrenta as mesmas dificuldades externas do produto carro. 

Ganhos nesta área de transporte de massa ainda compensam a cara tecnologia, que tem aqui uma legislação retrógrada e parada no tempo, e que não irá mudar em tempos de crise para a indústria automotiva: imposto de importação de 35% para os puros elétricos e de 4% para os híbridos, todos ainda importados e sujeitos ao câmbio, inviabilizando maiores volumes e, consequentemente, localização.

Restarão alguns projetos de nicho, como os de veículo elétrico compartilhado em Recife, Campinas, e brevemente, na cidade do Rio de Janeiro, além de outros projetos-piloto no Sul do País, fora algumas iniciativas em curso com táxis híbridos e elétricos. 

Com a primeira fábrica de baterias e de ônibus elétricos instalada e operando no Brasil, e uma frota de 10 ônibus elétricos rodando na cidade de Campinas, outros testes em curso nos novos corredores BRT no Brasil todo, os primeiros passos parecem ter sido dados para o início de uma nova era de eletromobilidade, conectada e integrada no transporte público. 

Bastariam, agora, políticas públicas eficientes, que cumpram e cobrem o que já está escrito, pois isso, no mundo, não é iniciativa espontânea da área privada, mas sim, claramente, força de legislação e regulamentação do setor público governamental, baseado em boas práticas ambientais seguidas mundialmente, embora não tão avançadas no nosso continente. 

Isso não significa a adoção imediata e em massa dessa tecnologia, mas sim garantir e assegurar a competitividade futura dessa indústria. Planejar e exercitar novos modelos de negócio e parcerias, avaliar opções inovadoras que a indústria, mesmo de forma obrigatória, vem desenvolvendo no planeta, é, no mínimo, recomendável. Pela importância para o futuro da mobilidade, esse será o tema do Painel Veículos Elétricos e Híbridos do Congresso SAE Brasil 2015, dia 23 de  setembro, em São Paulo.
 

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