segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sistema prisional sub-humano



A rede Record de televisão reprisou no dia 13 de junho de 2010, no programa Domingo Espetacular, uma reportagem que no final de 2009 ganhou repercussão dentro e fora do País, retratando o caso que ficou conhecido como “Masmorras capixabas”. A matéria denunciava as condições sub-humanas das prisões do Estado do Espírito Santo. Superlotadas, sujas, abrigando doentes (até mesmo com tuberculose) nas mesmas celas com presos saudáveis, palcos de crimes hediondos, e a cereja do bolo, presos que por conta de uma medida provisória de urgência tinham como celas, containers, também superlotados, que eram conhecidos como microondas, em função das altas temperaturas a que chegavam.
A matéria que foi ao ar este ano, foi adicionada a condição atual das prisões: os containers foram desativados e os presos transferidos para prédios de alvenaria. Novos presídios estão sendo construídos para receber os detentos e aliviar a situação das prisões que condicionam muito mais que suas condições permitem. A situação mudou um pouco, mas não significa que o problema foi resolvido, ficou explícito que a situação ainda é alarmante.
O caso chegou a ONU, graças a denúncias das ONGs Justiça Global e Conectas, juntamente com o presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos do Espírito Santo (CEDH-ES) Bruno Alves, e foi discutido em um painel paralelo à reunião do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, que aconteceu em Genebra dia 15 de março, onde foi analisado um documento com trinta páginas e oito fotos sobre o caso.
Mesmo o conselho não tendo caráter punitivo, corre dentro do Estado, a informação ainda sem confirmação, de que o governador Paulo Hartung do PSDB, cujos casos expostos no documento ocorreram em seu mandato, será julgado no tribunal penal internacional, também conhecido como de corte Haia, na instância de crimes contra a humanidade, a mesma em que foi julgado Slobodan Milosevic, ex-presidente da antiga Iugoslávia.
No campo da política, a exposição pública das especulações sobre o caso caíram como uma bomba para o governo e um deleite para oposição. Afinal, uma coisa é o Brasil inteiro saber do quadro de política corrupta e mafiosa do Estado, o que até dá pra mastigar e engolir a seco, já que denúncias de corrupção vêm de todos os lados a todo momento neste País, mas outra coisa é o mundo inteiro, inclusive a ONU, ficar a par de desrespeito aos direitos humanos de presos e pedir explicações por isso. Não tem governo que não perca as estribeiras e os votos.
Apesar das denúncias na mídia serem recentes, o caso só ganhou destaque no final de 2009. A precária condição carcerária, não só do Espírito Santo mas de todo o Brasil, vem de longa data. No filme Carandiru, de 2002, dirigido por Hector Babenco, baseado no livro Estação Carandiru do médico Drauzio Varella, a situação também era exposta, retratando ainda o massacre do Carandiru. Ocorrido em 1992, o massacre teve um saldo de 153 feridos, 111 presos mortos, 120 policiais indiciados, 86 julgados e apenas um, coronel Ubiratan mandante da matança, condenado. O massacre é uma ferida na história do sistema carcerário nacional, que agora foi reaberta pelo caso capixaba.
Em ambientes lotados de pessoas e crimes, onde não se respeitam os direitos básicos dos seres humanos, qualquer fagulha pode acender o pavio e uma explosão é inevitável, assim foi no Carandiru e assim pode ser em tantas outras casas de detenção brasileiras. Quase tão clichê quanto a lentidão e ineficiência da justiça no Brasil, é o fato de que as prisões nacionais raramente cumprem seu papel de recuperação dos detentos. Vivendo em condições precárias, sem distinção entre crimes e sem receber preparação para a vida fora da cadeira, o preso sai, se depara com o preconceito e o desemprego, e sem opção, muitos voltam para o crime. Dentro do País, a estimativa é de que 60% dos presos reincidem no crime.
Tadeusz Borowski, que sobreviveu ao nazismo, mas cometeu suicídio aos 29 anos, certa vez escreveu sobre Auschwitz, onde foi prisioneiro: “Não há crime que um homem não cometa para sobreviver. E, sobrevivendo, cometerá crimes cada vez mais triviais; a princípio, garantindo o lugar dele contra os fracos; depois, pelo hábito, e – finalmente – por prazer.” Borwoski fala também que o crime não é punido nem a virtude recompensada. É lógico que não se pode comparar o terror do nazismo com a situação prisional brasileira, são situações muito diferentes, mas se não fosse pelo fato de que aqui a punição acontece e se transforma no crime, a frase seria um retrato do Brasil carcerário.
As masmorras ainda funcionam e é contraditório pensar que os detentos são injustiçados enquanto pagam sua dívida com a justiça. Parece que voltamos à idade média, onde criminosos apodreciam em buracos sujos, sem chance de perdão. O tempo das luzes veio, mas as prisões brasileiras continuam em completa escuridão. A situação é inaceitável, quem erra tem o direito de pagar por seu erro com um mínimo de dignidade. A sujeira, superlotação, violência e outras atrocidades nas prisões podem ocultar o fato, mas não se deve esquecer que esses indivíduos eram humanos antes de errar e continuam sendo, mesmo condenados a condições degradantes de sub-humanidade, eles são homo sapiens e portanto possuem os direitos naturais de tais.

Bruna Vanessa Dantas Ribeiro.

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3 comentários:

  1. William boa sua matéria, mas realmente são homo sapiens e tem direitos naturais, mais e nós o que somos? Prisioneiros de uma sociedade que defende os infratores e tole os cidadãos de bem, não é um tanto quanto injusto?
    Abraços forte

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  2. Apenas um único crime massificado pela mídia faz as pessoas perderem a compaixão diante dessa sub-humanidade.

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  3. Não sei se feliz ou infelizmente, mais não tenho pena da situação dos pioneiros no caso brasileiro, pois quando em alguns casos eles estão sobre os corpos frágeis de nossos filhos violando sua inocência u tirando suas vidas, ou quando estamos presos em nossas casas sob a mira de uma arma em um tempo que dura por alguns segundos mais que parecem uma eternidade, ninguém tem pena de nós, e posso dizer que é puro falso moralismo ter pena desses seres desumanos.
    Presos somos nós que temos que trabalhar pegar fila no médico não temos garantia salarial, o preso tem essa garantia, saúde na porta alimentação garantida segurança 24 horas por dia, educação, presos somos nós que vivemos durante todo o tempo olhando desesperadamente para os lados com medo de uma bala perdida, assalto estupro e coisas do tipo, e quando saímos de casa e não podemos pagar uma babá para cuidar de nossos filhos e esses animais vem e nos tiram os filhos sem dó nem piedade, e no outro caso pagamos a babá e ela espanca nossos filhos até a morte, e as vítimas daqueles que ali estão presos quem foi visitar ou comentar como estão, vocês já perderam um filho filha mãe pai ou teve ou foi estuprada (o) por alguém que aí estão presos não com certeza pois se tivesse agora eu não estaria aqui comentando isso.
    Fui estuprada, tive uma filha estuprada, fui assaltada com uma arma na cabeça, tive um irmão esmagado por um caminhão, já levei calotes de alugueis, já tive minha conta poupança saqueada, tive um tio esfaqueado até a morte, tive uma tia que morreu por erro médico, nunca fiz nada de errado com ninguém, em minhas orações peço sempre Deus para cuidar e perdoar a todos que pecam e livrar os inocentes da violência, nunca mereci nada do que passei mais passei, garanto a vocês um dia também fui humanista, hoje penso que devemos zelar pelas vitimas aqueles que ali estão, lá estão por terem cometido crimes, se tivessem agindo de forma correta essa reportagem não teria pessoas nessas situação, por isso não se penalizem por eles, penalizem pelas vitimas deixadas por eles essas sim são merecedoras desse espaço.
    Aplico a lei em meus atos mais não significa que eu concorde com ela
    Aparecida soares

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