domingo, 11 de julho de 2010

O grito mudo



Onde estão as vozes? Eu pergunto. Onde estão os gritos? Eu tenho medo do silêncio escuro que se aproxima sem que nenhum de nós diga nada. Eu tenho medo. Medo de que chegada a hora de dizer já tenha vindo a mão em minha boca e que sufocando meu grito, ou o nosso, não possamos mais nada fazer, pois fomos vencidos por ele, o silêncio.
Eu tenho medo. Medo da noite que foi preparada para escurecer minha opinião diante do mundo. Eu tenho medo do poder, dos que tem poder, dos que não sabem usá-lo, dos que sabem usá-lo melhor do que deveriam, dos que o usam em proveito próprio. Eu tenho medo. Medo de dizer essas minhas palavras, pois já é tempo de calar. Há muito tempo não nos damos conta que o silêncio é uma forma sutil de sobrevivência.
Foi assim, escutem, são eles. Pensamos antes se tratar de um grupo. Falamos mal de uns e outros. Falamos mal de algumas profissões sem sucesso e não percebemos. O mal estava em todos. A volta de todos.
O silêncio foi se tornando maior. Um dia entraram na casa de seu vizinho. Lembra desse texto? Pois se calaram as vozes e disseram. Um subversivo. Era um subversivo de fato. Seu vizinho sumiu. Ele não respeitava a pátria. A autoridade e as autoridades. O que é que são autoridades?, você pensou. Você pensou. Você pensou sem perceber que há muito tempo você só foi obrigado a pensar. O silêncio já o tinha invadido como uma semente. O silêncio. Você queria perguntar aos outros, mas você tinha medo.
O silêncio. O silêncio se tornou quase uma obrigação. Uma vontade. Um estilo. As pessoas votam. As pessoas não votam. As pessoas não reclamam. As pessoas não saem de casa depois de certo horário, mas não há um toque de recolher. Somos obrigados a votar, mas estamos em uma democracia. Todo homem com dezoito anos deve se alistar no serviço militar. Uma democracia? Você se confunde;...! Suas frases não relacionam umas com as outras. O silêncio. As pessoas têm medo umas das outras e não conversam.
Silêncio.
Antes. Quando foi esse antes? Não se lutou por um país onde tudo poderia ser dito, mas por um país onde ninguém morreria por dizer. O silêncio. O silêncio nos invadiu. Nos invadiu a tal ponto que podemos até dizer mas não podemos dizer de quem estamos dizendo. Forma sutil de defesa. Não quero morrer, eu digo. Não quero. Cada palavra pode ser um convite a não ter mais palavras ou voz.
Silêncio.
Silêncio. Gritam vozes sem comando que comandam a cada um de nós. E sua vontade de ir contra a injustiça, contra o descomando, contra a violência gratuita... Toda a vontade que você tinha de demonstrar que existia algo errado no mundo. Bem, essa vontade se silenciou diante da brutal realidade de que lhe calaram sem que você percebesse e quando você se deu conta a sua voz eram espaços em branco cheios de constrangimento e impotência.
Eu também me calei.
Mesmo agora estou calado diante do mundo e nada falo. Não falo porque essas minhas palavras devem ser entendidas, mas não tem ao certo aqueles para quem digo. Eu tenho medo e muitas noites nem em minha casa me sinto seguro. Não me sinto seguro quando ouço, trancado que estou no cárcere chamado lar, os gritos daqueles que ousaram levantar a voz. Há vozes, meus amigos, que não querem calar, mas há quem as queira caladas. Vozes que muitas vezes fizeram nossas vozes serem ouvidas.
Eu nada faço.
Abri minha boca e percebi que minha voz fora levada também.

Caetano Mondadori. caetanomondadori@gmail.com

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Um comentário:

  1. Willian,cadê nossa voz?Porque se tornou embargada?Será que nos deixamos vencer,e preferimos ser meros espectadores?
    Bjos

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