terça-feira, 13 de julho de 2010

Dilemas de aquário



A notícia é bombástica e só não foi divulgada por razões de segurança nacional. Horas depois de prever que a Espanha eliminaria a Alemanha na semifinal da Copa da África, com um gol de cabeça de Puyol no segundo tempo, Paul, o polvo vidente da Alemanha, foi submetido a um novo teste de stress. Colocado diante de dois aquários, um com a foto de José Serra e outro com a de Dilma Rousseff, pediu-se ao cefalópode que escolhesse comer a isca de um ou de outro. Incapaz de decidir, Paul, o polvo, não moveu nenhum tentáculo. Inerte, pediu um pão com manteiga. Mas fez questão de deixar claro que não estava prevendo a vitória de Marina Silva nas eleições presidenciais de 2010 – especialmente depois que o vice da candidata verde, o bilionário Guilherme Leal, sócio da Natura, declarou que a maior parte do seu patrimônio está investida fora do Brasil, provavelmente numa offshore.
Sem apontar uma luz para os destinos do Brasil, o octopus alemão reduziu suas ambições e passou a analisar as eleições estaduais. Mergulhou na disputa do Distrito Federal, cujo governo, assim como ele, também se tornou acéfalo após a queda de José Roberto Arruda. Paul, o polvo, ficou espantado com o milagre da multiplicação dos peixes realizado pelo candidato comunista Agnelo Queiroz, ex-ministro do Esporte, cujo patrimônio cresceu 413% em quatro anos – foi de R$ 224,3 mil a R$ 1,15 milhão. Paul fez as contas e descobriu que a poupança ganhou 33,7% no período, enquanto o Ibovespa subiu 52,2%. As ações da Berkshire Hathaway, do lendário investidor Warren Buffett, renderam míseros 30,9%. “Esse Agnelo bate um bolão”, pensou Paul lá com seus botões. Em seguida, ele analisou a prestação de contas de Joaquim Roriz à Justiça Eleitoral. Descobriu que o patrimônio do adversário de Agnelo recuou 75% no mesmo período, porque o candidato lançou a zero o valor de suas vacas premiadas – um caso típico de “empobrecimento ilícito”.
Paul, então, nadou até Alagoas. E se surpreendeu ao saber que o ex-presidente Fernando Collor, aquele que perdeu o cargo por uma Fiat Elba, declarou a posse de uma Ferrari, uma Maserati, uma BMW, um Citroën e uma lancha. “Como é duro votar no Brasil”, ele pensou. E decidiu transferir seu título de eleitor – para o Paraguai, um país onde são cumpridas até promessas de campanha que jamais foram feitas. Paul, é claro, referia-se à musa Larissa Riquelme. E, quando foi novamente instado a prever o resultado da eleição brasileira, o polvo mais uma vez se esquivou. Disse que antes teria que consultar seu oráculo. Ninguém menos que Mick Jagger, o pé-frio, que passou a bola para Ringo Starr, o beatle que compôs “Octopus’s Garden”.

Leonardo Attuch, jornalista, escreve no Dm.

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