Falar sobre autoritarismo nos dias de hoje parece fora de moda,
afinal, a maioria das pessoas deixou no passado a lembrança das dores causadas
pelo regime ditatorial que marcou a história do País. Mas não quero falar sobre
regimes ou governantes. O meu assunto é comigo mesma – e com você, se quiser
refletir sobre os seus próprios sentimentos e comportamentos em relação ao
assunto.
O dicionário relaciona a palavra ‘autoritário’ aos adjetivos
altivo, impositivo, dominador e também arrogante, impetuoso, impulsivo,
violento. Muitas dessas características eu encontro em mim. Em maior grau em
algumas situações, quase imperceptíveis em outras. Como (talvez) a maioria das
pessoas, eu tive pais autoritários. Criados eles próprios sob um sistema
autoritário, acreditavam que criança não tinha querer. Então, aprendi que,
quando crescesse, eu deveria ser como eles.
Porém, os tempos mudaram. Se no campo social e político muitos
homens e mulheres alteraram o cenário das nações e fizeram com que a democracia
se tornasse possível, no campo pessoal e emocional o que eu faço com o meu
aprendizado infantil, que foi fundamental na formação da minha personalidade
adulta? Será que, para conseguir aquilo que almejo, devo continuar a ser autoritária,
impetuosa, impositiva, violenta? Ou posso escolher outras atitudes que talvez
me tragam mais rapidamente o que quero na relação com as pessoas?
Enquanto eu quiser controlar a ação dos outros para que tudo
saia do meu jeito, o autoritarismo prevalecerá. Mas, se eu puder pensar que
somos todos iguais e desejamos as mesmas coisas para as nossas vidas, deduzo
que o que queremos, como seres humanos, é que sejamos aceitos e amados. Como
grupo, nação ou indivíduos queremos ser reconhecidos pelo nosso valor; e, como
seres que habitam o mesmo planeta, queremos a paz.
Não serei capaz de me amar e de me aceitar se isso for uma
imposição. Como cidadã do mundo não posso fazer a paz se houver guerra dentro
de mim. A saída talvez esteja na consciência da sua própria história, no perdão
dos seus próprios erros e na construção de um novo caminho, que começa por
reconhecer onde estamos e quem somos, com honestidade e abertura.
Do meu ponto de vista, o começo da mudança pode ser a reflexão e
a aceitação de que todos nós temos o autoritarismo como caminho aprendido, mas
que pode ser transformado se nós quisermos. Não quero dizer que esta é a única
saída, nem que é a mais fácil. Mas é nela que, por enquanto, eu acredito.
Então, você quer ter
razão ou quer ser feliz? Enquanto sua vontade for ter razão, o autoritarismo
será a maneira mais rápida e fácil de garantir isso. No entanto, se você quiser
ser feliz, há um longo caminho de reflexão e mudança à sua frente e milhões de
possibilidades.
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