Apesar dos aspectos positivos de nossa
democracia, evidenciados em nosso processo eleitoral, na liberdade individual e
na concepção de governo e instituições – temos acentuados aspectos negativos
nessa forma de poder “exercido pelo povo”. Pois nossa participação política e
nossa ação no contexto da cidadania são deficitárias. O Brasil obteve nota 4,44
pelo Democracy Index, do Economist Intelligence Unit, pertencente ao grupo The
Economist, em 2014. A mesma nota de Zâmbia, Uganda e outros. E abaixo da Etiópia,
Venezuela e outros.
O que nos falta? Demonstrar nossa vontade,
através de ações concretas. Não apenas nas urnas, ao transferir nossas
aspirações legítimas para nossos representantes políticos e repetir, a cada
quatro anos, segundo Gustavo Ioschpe, o insucesso do “modus operandi”.
Candidatos ou eleitos discursam e postam nas redes sociais argumentos sobre os
“meios”: salários, investimentos materiais, (des)emprego, greves, panelaços,
violência, corrupção, bolsa família, cotas, impostos e juros altos, inflação,
controle das redes sociais e da mídia, falta de água, energia elétrica muito
cara, etc. Mas, esses que se dizem representantes do povo, (quase) não falam
sobre os “fins”, ou resultados a serem alcançados e em que prazo real os
veremos na prática, tais como: boa educação, competência de “gestão” (a palavra
da moda), ação política adequada para cada embate, segurança em nosso ir, vir e
estar em nossa própria casa ou trabalho. Acrescentem-se, ainda, atendimentos
respeitosos na área da saúde, habitação e mobilidade (meios de transporte)
decentes, liberdade de expressão – e valores, isto é, autêntica possibilidade
de escolha possível e permanente, nas mesmas circunstâncias; o preferível, o
desejável, dentro de uma expectativa normativa.
Nossa “pátria educadora” não pode formar
iletrados, semianalfabetos, ou analfabetos funcionais. E cada brasileiro deve
se preocupar muito com isso. Temos, eu e você, tudo a ver com o engajamento
nessa causa. Não falo da estrutura material, da tecnologia e modernidade de nossas
escolas. Falo da aprendizagem, do conhecimento, da criatividade e das mudanças
que brotam do interior de cada aluno e não da repetição a ele imposta, através
do conteúdo das matérias. Falo de metas, de resultados específicos e concretos
a serem atingidos. E de professores “gabaritados”, exuberantes de amor, e
envolvidos nesse mister.
Falo que devemos exigir dos eleitos a
melhor escola pública para nossos filhos e netos em todo o Brasil. Com
diretores e mestres mais preocupados com cidadania e competência do que com
ideologia e conforto pessoal. O povo (demos) tem o governo, poder, autoridade
(kratia, krátos) que elegeu e que merece – para decidir sobre sua
cidade-estado, sua política (pólis) e sobre o Brasil. Porém não devemos cuidar
somente de nosso quintal, olhar apenas para o nosso umbigo. Como os atenienses
da Antiguidade, temos que nos encontrar na praça (ágora), na rua, para debater
a situação atual, politizando os cidadãos menos informados sobre a arte de
governar, incluindo-se a “realidade efetiva” de Maquiavel. Precisamos discutir
o individualismo antissolidário, cujo direito individual prevalece sobre o da
coletividade; e demonstrar insatisfação contra incêndios e quebra-quebras
malucos – em favor da coisa pública, para o bem de todos.
Comecemos pela educação. Por uma “pátria
educadora” de verdade, até nos agrestes emaranhados do sertão. Acompanhada de
perto pelo Congresso que elegemos e custeamos com muito sacrifício, e do qual
esperamos competência, responsabilidade e ética.
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