quarta-feira, 15 de julho de 2015

No Brasil, democracia e educação deixam a desejar

Apesar dos aspectos positivos de nossa democracia, evidenciados em nosso processo eleitoral, na liberdade individual e na concepção de governo e instituições – temos acentuados aspectos negativos nessa forma de poder “exercido pelo povo”. Pois nossa participação política e nossa ação no contexto da cidadania são deficitárias. O Brasil obteve nota 4,44 pelo Democracy Index, do Economist Intelligence Unit, pertencente ao grupo The Economist, em 2014. A mesma nota de Zâmbia, Uganda e outros. E abaixo da Etiópia, Venezuela e outros.
O que nos falta? Demonstrar nossa vontade, através de ações concretas. Não apenas nas urnas, ao transferir nossas aspirações legítimas para nossos representantes políticos e repetir, a cada quatro anos, segundo Gustavo Ioschpe, o insucesso do “modus operandi”. Candidatos ou eleitos discursam e postam nas redes sociais argumentos sobre os “meios”: salários, investimentos materiais, (des)emprego, greves, panelaços, violência, corrupção, bolsa família, cotas, impostos e juros altos, inflação, controle das redes sociais e da mídia, falta de água, energia elétrica muito cara, etc. Mas, esses que se dizem representantes do povo, (quase) não falam sobre os “fins”, ou resultados a serem alcançados e em que prazo real os veremos na prática, tais como: boa educação, competência de “gestão” (a palavra da moda), ação política adequada para cada embate, segurança em nosso ir, vir e estar em nossa própria casa ou trabalho. Acrescentem-se, ainda, atendimentos respeitosos na área da saúde, habitação e mobilidade (meios de transporte) decentes, liberdade de expressão – e valores, isto é, autêntica possibilidade de escolha possível e permanente, nas mesmas circunstâncias; o preferível, o desejável, dentro de uma expectativa normativa.
Nossa “pátria educadora” não pode formar iletrados, semianalfabetos, ou analfabetos funcionais. E cada brasileiro deve se preocupar muito com isso. Temos, eu e você, tudo a ver com o engajamento nessa causa. Não falo da estrutura material, da tecnologia e modernidade de nossas escolas. Falo da aprendizagem, do conhecimento, da criatividade e das mudanças que brotam do interior de cada aluno e não da repetição a ele imposta, através do conteúdo das matérias. Falo de metas, de resultados específicos e concretos a serem atingidos. E de professores “gabaritados”, exuberantes de amor, e envolvidos nesse mister.
Falo que devemos exigir dos eleitos a melhor escola pública para nossos filhos e netos em todo o Brasil. Com diretores e mestres mais preocupados com cidadania e competência do que com ideologia e conforto pessoal. O povo (demos) tem o governo, poder, autoridade (kratia, krátos) que elegeu e que merece – para decidir sobre sua cidade-estado, sua política (pólis) e sobre o Brasil. Porém não devemos cuidar somente de nosso quintal, olhar apenas para o nosso umbigo. Como os atenienses da Antiguidade, temos que nos encontrar na praça (ágora), na rua, para debater a situação atual, politizando os cidadãos menos informados sobre a arte de governar, incluindo-se a “realidade efetiva” de Maquiavel. Precisamos discutir o individualismo antissolidário, cujo direito individual prevalece sobre o da coletividade; e demonstrar insatisfação contra incêndios e quebra-quebras malucos – em favor da coisa pública, para o bem de todos.
Comecemos pela educação. Por uma “pátria educadora” de verdade, até nos agrestes emaranhados do sertão. Acompanhada de perto pelo Congresso que elegemos e custeamos com muito sacrifício, e do qual esperamos competência, responsabilidade e ética.
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