Costuma-se definir o clientelismo como um
dos galhos da árvore patrimonialista plantada em nosso território pelos
colonizadores. Faz parte da copa composta pelo coronelismo, nepotismo e
fisiologismo. O fenômeno estaria colado ao ethos nacional, sendo um instrumento
de serventia no balcão das trocas políticas e motor de impulso à manutenção e à
expansão de poder.
Sob
essa leitura, emerge a questão: como se apresenta hoje o clientelismo no
Brasil? De um lado, seu arrefecimento aceleraria o processo de mudança de
padrões e, de outro, protelaria o ciclo da transparência, da ética e da
racionalidade.
Chama a
atenção o fato de que o clientelismo, historicamente associado às trocas e
recompensas entre demandantes das margens sociais e patrocinadores, tem se
fixado entre as classes mais elevadas.
Ou
seja, os arranjos clientelistas, apesar de ainda se concentrarem com mais
intensidade junto aos contingentes menos favorecidos, como modelagem de
cooptação político/eleitoral, passaram a abarcar segmentos da classe média.
A
abertura de núcleos mais categorizados aos recursos patrimoniais do Estado
integra projetos expansionistas de poder, de interesse de partidos e
mandatários. A política de acesso ao crédito e ao consumo estabelecida no
governo Lula, por ocasião da crise global de 2008, possuía um viés
populista/clientelista.
A
ascensão de milhões de brasileiros para a classe C, sob a embalagem de amplo
programa de distribuição de renda, teve seus méritos. Mas é inegável que a
estratégia eleitoreira embutida no movimento propiciou, em 2010, a eleição da
presidente Dilma. Hoje, aquela engenharia econômica cede lugar a um quadro
recessivo.
O Bolsa
Família, idealizado para estender os braços do Estado aos necessitados,
contribuiu para retocar a imagem das administrações petistas, principalmente no
período Lula. E agora se esvai no refluxo que corrói o poder de compra dos mais
pobres. Esta é a pior maldade do clientelismo: num primeiro momento,
oferecem-se pacotes de bondades para atrair a simpatia e o voto. Depois, eles
aparecem vazios.
O
exercício do poder pautado no clientelismo não resiste ao tempo. Não se deu às
12 milhões de famílias que usufruem o Bolsa Família a bússola para um novo
caminho. Na perspectiva do desenvolvimento, o programa deveria diminuir a cada
ano o número de contemplados. Sob a ótica do clientelismo, o número se
expandiu.
Em vez
de alimentar o clientelismo, os governos poderiam pautar suas ações numa agenda
de prioridades e sustentada por valores da simplicidade, zelo, rigor e
controle.
Na
nossa cultura a “res publica” é vista como coisa nossa, o dinheiro dos cofres
do Tesouro tem fundo infinito e o Estado é visto como um ente criado para
garantir o bem-estar. O jeito perdulário de ser do brasileiro começa com a
visão do Estado-providencial, no qual se abrigam a ambição das elites políticas
e o utilitarismo de oportunistas.
Quais
seriam os caminhos mais curtos para diminuir o Produto Nacional Bruto do
Clientelismo? Ordem e disciplina nos gastos. Rigor no preceito constitucional
da economicidade e moralidade. Coordenação eficaz dos planos de obras.
Qualificação e treinamento dos quadros funcionais. Elevação geral da educação
do povo. Decência e honestidade na gestão pública.
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