Chegando ao local, os policiais encontraram os irmãos mortos de modo curiosamente estranho, despertando interesse acerca das mortes. Homer, 68, e Langley, 62, estavam soterrados por aproximadamente 140 toneladas de objetos, cuja remoção pelo corpo de bombeiros durou praticamente duas semanas.
O fato despertou a curiosidade da vizinhança e de autoridades locais, ganhando repercussão a nível nacional. Na época, poucos especialistas de saúde mental se manifestaram acerca do distúrbio que acometia os irmãos Collyer, fazendo com que acumulassem tantas coisas.
Homer e Langley ficaram amplamente conhecidos nos Estados Unidos como acumuladores compulsivos (do inglês, hoarders), considerando o comportamento que manifestavam.
Aparentemente, julgando-se a quantidade de itens removidos da sua mansão, constatou-se que os Collyer coletavam itens de maneira constante e descontrolada, sugerindo que eles nunca se desfaziam dos seus objetos.
Durante muito tempo, o comportamento de coletar e acumular objetos tem sido percebido em diversas culturas ao redor do mundo, tornando-se justificável em momentos de privação material. Trata-se de uma conduta frequentemente encontrada na população em geral, mas que em escalas excessivas pode acarretar sérios prejuízos, configurando-se como uma psicopatologia.
Somente há pouco tempo que esse quadro assumiu características próprias, passando a ser classificado como um diagnóstico psicológico independente denominado de Transtorno da Acumulação (TA).
O TA refere-se a um distúrbio grave que acomete aproximadamente 4% da população geral. Para a consolidação do diagnóstico, os principais sintomas remetem-se à necessidade de coletar objetos ou animais de forma excessiva e descontrolada, a dificuldade ou sofrimento em desfazer-se das posses e, consequentemente, problemas de obstrução e desorganização associados ao ambiente de convívio.
Na maioria das vezes, o surgimento dos sintomas ocorre no início da idade adulta ou no final da adolescência e geralmente afeta pacientes do gênero masculino, sozinhos e na meia idade, que não possuem relacionamento afetivo.
Os itens coletados podem ser os mais variados, incluindo jornais, revistas, caixas, livros, objetos específicos e até mesmo animais, entre outros, cuja quantidade varia de dezenas até centenas ou milhares, de acordo com a gravidade do transtorno. Na maior parte dos casos, os pacientes que acumulam não conseguem proporcionar as condições mínimas de organização, comprometendo o espaço de convívio, a higiene e a segurança do local em que habitam, o que pode ocasionar sofrimento significativo para si mesmo e seus familiares.
Para a maioria das pessoas, os objetos coletados não possuem valor financeiro aparente de modo que a sua acumulação e retenção esteja associada com o valor afetivo que apresentam para o paciente.
Frequentemente, sujeitos que acumulam de maneira compulsiva, isto é, excessiva e repetitiva, imaginam que os itens coletados poderão servir a algum propósito específico no futuro – o que nunca ocorre.
Qualquer possibilidade ou ameaça em desfazer-se dos objetos provoca intensa ansiedade, gerando resistências e dificultando a aderência ao processo de tratamento.
Normalmente, as abordagens terapêuticas mais indicadas para o TA envolvem a conduta medicamentosa e a psicoterapia. Pesquisas recentes demonstram a efetividade da abordagem de terapia cognitivo-comportamental (TCC), na qual o paciente é incentivado a avaliar e corrigir pensamentos, comportamentos e sentimentos disfuncionais: neste caso, o hábito de coletar e acumular objetos, proporcionando melhoras significativas na sua sintomatologia.
Diego Rafael Schmidt e Cristina Pilla DellaMéa.
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