Uma das atividades mais
importantes do mundo revela que existem oportunidades e inúmeros desafios: é
preciso estudar muito, enfrentar extensas cargas horárias e se dedicar ao
paciente quando o Estado não oferece nem mesmo medicamento. Reportagem mostra
os bastidores desta profissão.
No passado, quem era
médico e tinha o título de “doutor” carregava prestígio e, de quebra, bons
salários. No presente, a profissão, uma das mais tradicionais do mundo,
continua sendo valorizada e é, dentre todas no Brasil, a que possui condições
mais interessantes para um futuro profissional quando são considerados salário,
jornada de trabalho, facilidade de conseguir emprego e cobertura da
previdência, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Mas,
apesar da boa empregabilidade na área e de o curso de Medicina ainda ser um dos
mais concorridos nos vestibulares, “nem tudo são flores” para os médicos
brasileiros.
Em dias não tão
conturbados, são cerca de 30 pacientes para um médico que assumiu uma posição
em um posto de saúde. Isso significa 15 minutos de atendimento para cada
paciente em um expediente de 8 horas ininterruptas de trabalho. Exagero? Não, é
apenas um dos desafios que os médicos enfrentam no dia a dia.
Segundo o presidente do
Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), Aldair Novato
Silva, o principal desafio do médico é fazer a residência e ingressar no
mercado de trabalho. “O número de vagas para residência é pequeno e não atende
a demanda. Então muito dos profissionais que estão se formando não encontram
vagas para fazer residência. Eles vão para as periferias, para as cidades
menores e ficam fazendo atendimento em programas de família até que consigam
passar em uma residência e poder ingressar no mercado de trabalho. O mercado de
trabalho é muito exigente. Então, com certeza, o maior desafio hoje é fazer a
residência e ingressar no mercado”, afirma o presidente.
Ainda assim, a Medicina
é uma carreira que tem se mantido firme no mercado, com um ingresso regular de
alunos nos quase 200 cursos de graduação em universidades brasileiras.
Nos dois últimos anos,
o Cremego emitiu cerca de 800 registros de CRM, boa parte desse número se deve
aos profissionais de fora, estudantes que fazem faculdade em outros Estados.
Dentre os motivos, que
fazem com que os jovens queiram exercer a profissão, estão o ideal de ajudar as
pessoas, salvar vidas e transformar o mundo por meio de descobertas inéditas.
O retorno às origens
Parece contraditório
que os desafios sejam tantos e que mesmo assim as pessoas continuem sonhando em
ser médicos. Contudo, a Medicina deixou de ser uma área técnica para ser também
relacional, já que boa parte das enfermidades da população está atrelada ao
comportamento e às emoções. Sendo assim, campos da Medicina, que até pouco
tempo eram secundários, voltam a despertar o interesse de novos profissionais.
É o caso da saúde da
família, em que, além de tratar o estado físico dos pacientes, é preciso
compreender e envolver os aspectos social e econômico. É outro desafio, amplo e
complexo, mas que atrai jovens médicos entusiasmados em participar da vida de
comunidades que estavam abandonadas pela saúde pública.
Aldair Novato Silva,
presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego):
“Número de vagas para residência é pequeno e não atende a demanda”
Aldair Novato Silva,
presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego):
“Número de vagas para residência é pequeno e não atende a demanda”
PRINCIPAIS DESAFIOS DA
PROFISSÃO
Primeiro plantão
Ao se formar, o médico
sai com muito conteúdo teórico, mas com pouca experiência prática e este é o
primeiro desafio: conseguir plantão em pronto-socorro e Cais sem ter tido a
parte prática sozinho.
Inserção na residência
A residência virou um
concurso como outros, é uma quantidade muito grande de pessoas querendo e com
poucas vagas.
Carga horária
A carga horária
excessiva, às vezes, se transforma em grande estresse para o residente, pois
ele começa a entender que agora o paciente só depende dele e não mais do
professor. Ele que terá que manejar o caso da maneira adequada.
Especialização
A especialização é um
desafio ainda mais difícil. Nem todos conseguem e ficam vários anos tentando, o
tempo de especialização e de estudo pós-formado é grande.
Inclusão no mercado de
trabalho
Inserir no mercado de
trabalho e ter um bom relacionamento com os colegas são primordiais porque, na
Medicina, sempre se precisa uns dos outros, de outras especialidades ou de
outros serviços que possam ajudar no manejo do paciente.
Baixo valor da bolsa
paga aos residentes
Passar pelo período de
especialização ganhando a bolsa que o governo oferece também é um grande
desafio, uma carga horária muito alta para um salário muito pequeno perto do
que ganhariam por um trabalho normal que não fosse a residência.
Incompreensão de
pacientes
Muitas vezes, os
médicos se deparam com casos clínicos que o diagnóstico não é simples. Isso vai
demandar muitos exames, leituras por parte do médico e, às vezes, o paciente
não entende que o diagnóstico não é feito sempre na hora. A Medicina não é uma
ciência exata, em alguns casos é preciso um exame minucioso pra conseguir o
resultado adequado para o paciente e muitas vezes isso não é entendido pelos familiares.
Pouca idade
Há relatos de casos em
que pacientes diante do médico mais jovem o encaram com preconceito. Hoje em
dia está cada vez mais comum e normal pedirem para o chefe do serviço reavaliar
o paciente e não só o residente.
Médico residente relata
rotina agitada
Frente a tantos
desafios, o médico tem ainda que cumprir rigoroso protocolo de acompanhamento,
onde deve relatar todo o histórico do paciente, prestar contas, gerir
consultório e, por vezes, uma clínica inteira – e ainda dar conta da vida
pessoal. Tanto trabalho pode hoje ser facilitado pela utilização de softwares
para gestão de consultórios e clínicas, preparados para atender as demandas
mais emergentes de qualquer profissional da área, agilizando a sua performance
e possibilitando um acompanhamento mais próximo de cada caso atendido.
Com simples exemplos,
podemos ter uma noção da abrangência que a carreira traz, da responsabilidade
de um médico recém-formado e da necessidade de adaptação de profissionais mais
experientes. Cada vez mais a Medicina vem se aproximando das ciências humanas
para compreender e atuar de forma diferenciada junto aos pacientes, visando a
uma nova visão da profissão, muito mais responsável e participativa.
Flavio Braga, residente
em clinica médica e aspirante a cardiologista, relata sua rotina: “Trabalho uma
média de dez horas por dia nos hospitais pela residência. Durante a manhã, faço
enfermaria e intercalo algumas tardes nas UTIs. Nos finais de semana, faço
plantões pra ganhar um dinheiro extra, trabalhando em média 24 a 36 horas por
fim de semana”.
Com essa rotina
agitada, sobra tempo para a família? Ele diz que sim: “Sempre arranjo um
tempinho para a família pelo menos duas noites da minha semana tiro para estar
com eles”.
Flavio Braga afirma que
a vontade de ser médico vem de família: “Tenho dois grandes exemplos, que são
meus tios Eisenhouwer e Eder, pessoas que tenho profunda admiração não só pela
profissão mas pelas pessoas que são. Morei com eles até os 12 anos e tenho neles
o meu espelho, meu norte. Conforme fui crescendo, achei que isso seria um
benefício não só pra mim como para as pessoas que eu poderia atender”.
Para ele, o maior
desafio da profissão é se inserir no meio profissional em meio a sua
especialização: “Hoje em dia, a gente forma e tem um longo caminho pela frente,
de residência, especialização e sub-especializações e nesse meio tempo você tem
que se inteirar, conseguir ter sua profissão, trabalho, remuneração e mesmo
assim fazendo a residência e especialização, esse é o principal desafio”.
PIOR
O médico residente diz
que o pior lado da medicina se baseia mais em gestão que na própria medicina.
Conforme Flávio, a medicina na prática é muito boa: “Nós conseguimos fazer uma
atuação muito boa no paciente, a gente tem um grande campo de terapêutica pra
ajudar o paciente, mas, infelizmente, a gente esbarra em alguns problemas de
gestão e problemas de estruturação de planos de saúde e hospitais públicos”.
Ele diz que, em geral,
isso acaba dificultando a fazer a medicina do jeito que gostaria. “Às vezes,
passamos por burocracias sem sentido e dificuldades que acabam postergando o
tratamento, acaba sendo prejudicial para o paciente pra fazer uso dessa
terapêutica”.
A profissão, explica o
médico, oferece momentos gratificantes e que marcam a personalidade. Ele
recorda os primeiros plantões em terapia intensiva, onde teve contatos com
pacientes graves: “Isso é uma coisa que marca muito a gente, ver pacientes tão
graves assim, tão debilitados e num estado tão difícil, você ajudar aquele
paciente é uma responsabilidade muito grande e é um choque emocional muito
grande se inserir nesse local”.
Ele diz que ser médico
no Brasil é um desafio: “Você não tem que só estudar e fazer sua profissão como
nos outros países. Tem que lutar pelo seu paciente: muitas vezes já sai pra
comprar remédios para os meus pacientes porque o plano não custeava e ele não
tinha condição. A gente se vira, faz o que pode com o que tem. A gente tem que
brigar e correr atrás de órgãos públicos pra conseguir medicação. Em outros
países, não vemos isso e não falo só na saúde pública, mas também na saúde
privada, a gente tem que comprar a briga pelo paciente”.
Flávio Braga explica
que a medicina, se tem dificuldades, pode também oferecer a realização pessoal
e fácil inserção no mercado de trabalho, além de boa remuneração. Todavia,
ressalta os negativos: carga horária excessiva e situações estressantes tanto
de pacientes desrespeitosos quanto do local de trabalh
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