Por todos os cantos, louva-se o avanço da
ciência. Inegável, diga-se de passagem. Há cenários, contudo, que permanecem
grotescos, desumanos, e colocam em xeque o progresso. De que tipo de progresso
estamos falando, afinal? Como entender que somos capazes de enviar sondas a
Marte mas incapazes de oferecer trabalho em condições de dignidade? É fato: os
números da escravidão no mundo são alarmantes.
De
acordo com a fundação internacional Walk Free, cerca de 35,8 milhões de pessoas
são mantidas em situação análoga à de escravidão no mundo. Ao falar à Agência
Brasil, a representante da Walk Free no país, Diana Maggiore, comentou que
cresceu 20% em 2014 o número de escravizados, em relação aos 29,8 milhões apontados
no The Global Slavery Index 2013, o primeiro relatório da organização.
No Brasil, conforme a Wal Free, 220 mil
pessoas trabalham como escravos. Diana Maggiore explicou que, em 2014, pela
primeira vez, o número de pessoas resgatadas de situações de escravidão no
setor urbano foi maior que no setor rural no país. Durante os eventos
esportivos registraram-se muitos casos na construção civil. Até as Olimpíadas,
a situação deve se repetir. "O Brasil está crescendo, daqui a alguns anos
pode ser diferente", afirmou Diana.
Tráfico de pessoas, trabalho infantil,
exploração sexual, recrutamento de pessoas para conflitos armados e trabalho
forçado em condições degradantes, com extensas jornadas, sob coerção,
violência, ameaça ou dívida fraudulenta enquadram-se entre as modernas formas
de escravidão. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em dados de 2012,
apontou que aproximadamente 21 milhões de crianças e adultos estavam presos em
regimes de escravidão no mundo. Ásia e região do Pacífico são os locais com mais
pessoas nessas condições: 11,7milhões. ¶
Há algum tempo, a brasiliense Sandra
Miranda recebeu uma encomenda do site chinês AliExpress com um pedido de
socorro: "I slave. Help me [Sou escravo, ajude-me]". A filha da
advogada, que se disse perplexa com a situação e chegou a pensar em
brincadeira, colocou a foto da mensagem nas redes sociais e já teve mais de 15
mil compartilhamentos. "A alegação feita contra um dos vendedores da
plataforma
AliExpress está sendo investigada",
respondeu a empresa do Grupo Alibaba à Agência Brasil. Sandra Miranda disse que
um representante da empresa entrou em contato e explicou que o site apenas
revende os produtos que já chegam embalados de diversas fábricas. Ele precisará
rastrear de qual vendedor veio o seu produto.
A escravidão é um mal antigo, mas
profundamente presente no mundo moderno. O Ministério Público do Trabalho (MPT)
tem desempenhado um importante papel na luta contra esse tipo de situação
degradante, desumanizadora. Com frequência, fazendas e empresas precisam se
ajustar em função da fiscalização promovida. Pena não haver maior efetivo de
promotores e técnicos para que mais casos viessem à tona. E fosse, como têm
sido os descobertos, resolvidos.
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