Em um
planeta tomado por seres pensantes, um visitante de fora, de outra galáxia,
poderia concluir: o triunfo da razão. Entretanto, a ordem natural da humanidade
de crescer, multiplicar e aperfeiçoar seus meios trouxe consigo um encargo
muito grande, difícil demais para suportar: o sofrimento de uns e a alegria dos
outros. A capacidade de racionar, nesse sentido, é nossa bênção e nossa
maldição.
Há
maldade em um tigre que ataca uma gazela? Não, não creio nisso. Instinto de sobrevivência,
no máximo. E nós, seres evoluídos, protagonizamos milhares de guerras apenas no
último século. E elas seguem acontecendo. Conflitos raciais, étnicos e os mais
comuns: por dinheiro e poder. Aí há maldade, inequivocamente. Usar a força para
conquistar aquilo que as palavras foram incapazes. Não é uma boa luta.
No
início do ano, um jovem rapaz, ciente da vida que se esvaía de seu corpo,
arremessou o avião que pilotava contra os Alpes da França. Levou para a morte
150 passageiros. O único senso de justiça em um caso tão covarde quanto este? A
fé. Intervenção divina, quando a força dos homens falha. O piloto cruzou a
linha tênue que separa a razão da loucura. Resolveu sua depressão, afrontando a
vida de dezenas de outras pessoas.
O
tecido social da humanidade se fragmenta a cada capítulo como esse. Somos
capazes de coisas terríveis, a história mostra. Se o aprendizado fosse
hereditário... O mundo estaria mais equilibrado do que se apresenta hoje. Os
meios evoluíram, mas não a essência de ser humano. Vivemos uma gladiatura dos
novos tempos: suprima a concorrência para vencer. Sabotar o próximo é lição
aprendida nas escolas. A razão deveria ser mais inteligente que isso.
A
disputa agora é econômica. Vale até espionar nações aliadas, sob o argumento da
prevenção. A economia move bilhões. O cidadão comum sente os efeitos, mas
apenas tangencia valores monetários, não toca neles. A distribuição de renda é
desigual, em todos os países. Que razão há nisso? Os líderes eleitos advogam em
favor dos próprios anseios, quando, a bem da verdade, suas procurações são
públicas e deveriam focar no gosto da maioria.
A
humanidade também compõe a natureza, mas nossas selvas são desequilibradas. Em
vez de ciclo vicioso, o mundo merece um ciclo virtuoso, de alterações profundas
em sua concepção. Enquanto a mudança não acontece, as pessoas permanecerão
dizendo ter razão – sem razão alguma.
Gabriel Bocorny Guidotti.
Gabriel Bocorny Guidotti.
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