quinta-feira, 30 de julho de 2015

Encíclica Laudato si: a vida e o planeta Terra

A participação de Goiânia no workshop realizado pelo Vaticano para debater a relação entre o ser humano e o planeta Terra colocou a nossa capital em uma posição privilegiada. Foram escolhidas apenas 50 cidades em todo mundo para participar do evento. Todas com características sociais e econômicas diversas, mas que enfrentam na raiz o mesmo problema: a busca do desenvolvimento com dignidade humana e respeito ao meio ambiente. Uma tríade vital para a evolução da humanidade no aspecto mais amplo da expressão.
A decisão do papa Francisco de iniciar o debate de um tema desta envergadura foi extremamente acertada. A escolha da Santa Sé como anfitriã do seminário afastou a influência político-ideológica do centro das discussões e colocou a própria sobrevivência humana em foco. O reflexo pode ser notado em cada palestra: de Uganda a Nova York, passando por Estocolmo,
São Francisco e Goiânia, as semelhanças das dificuldades enfrentadas pela população e pelo poder público são muito maiores do que as diferenças culturais.
O papa Francisco traçou com clareza os três principais problemas contemporâneos do planeta. O primeiro é a escravidão moderna, que, mesmo sem a violência sanguinária de outros tempos, ainda agride de forma avassaladora a dignidade humana. O pontífice destacou os movimentos imigratórios de pessoas em situação de extrema pobreza e também de refugiados de guerras. Um contingente enorme de homens, mulheres e crianças que procuram abrigo em países desenvolvidos, muitas vezes se sujeitando a trabalhos degradantes e mal renumerados para conseguir colocar o pão na mesa da família. Uma situação social crítica, vista com mais clareza na Europa, onde desembarcam rotineiramente milhares de pessoas em containeres de carga.
Um problema que, não podemos nos enganar, também aflige Goiânia, ainda que em menor grau. Não é raro encontramos nas ruas da nossa capital refugiados do Haiti e de países da África e da Ásia buscando uma oportunidade de viver com decência. A maioria desembarca em nossa cidade sem recursos ou indicações. Contando apenas com a característica acolhedora da nossa população para iniciar uma nova vida. Grande parte obtém êxito e, assim como nós, considera Goiânia um lar – sem, é claro, esquecer ao olhar o horizonte da sua verdadeira casa e entes queridos para além das fronteiras. Entretanto, é preciso dar respaldo para aqueles que, para nossa vergonha, são tratados como mão de obra barata, sem os mínimos direitos assegurados ou até mesmo como mera mercadoria.
O papa, no entanto, vai além, e questiona se nós, que recebemos esses irmãos, nos preparamos humanamente para abrigá-los. Não faz muito tempo, as manchetes eram tomadas por notícias de trabalhadores bolivianos vivendo em regime de escravidão em São Paulo. Haitianos presos na burocracia, impedidos de ganhar o alimento com o próprio suor em diversos estados da Federação. Além disso, quantos goianienses que em tempos de crise não procuraram oportunidades em outros países e que também foram tratados como cidadãos de segunda classe? Também, aqui no Brasil, assistimos inertes centenas de milhares de migrantes, que assim como eu, deixaram o Nordeste para construir o progresso em outros Estados, como Goiás e São Paulo, e até hoje não são respeitados pela contribuição determinante que deram para o crescimento econômico dessas regiões. É, sem dúvidas, uma questão global que deve ser encarada como vital pelo poder público e sociedade. Precisamos de uma resposta que deve ser buscada em conjunto para, enfim, mitigar o sofrimento de quem precisa de apenas de uma mão estendida.
O segundo desafio é relacionado ao tráfico humano e de órgãos. Um problema que infelizmente também existe no nosso meio. Não foram poucos os casos de goianas enviadas para a prostituição no exterior. Muitas ainda adolescentes, que se viam presas em uma teia de crimes e violência em países que não conheciam e que muito menos sabiam falar a língua. Voltando ainda mais em um passado que não nos traz a menor nostalgia, todos nós chegamos a conhecer relatos de crianças raptadas para serem adotadas por famílias estrangeiras. Mães enganadas, ou que enxergavam na prática a única forma de garantir um futuro para os filhos.
O problema foi em grande parte superado graças a um importante trabalho econômico e social do governador Marconi Perillo. A educação evoluiu, empregos surgiram e agora as famílias têm a certeza de que seus filhos irão crescer e formar suas próprias famílias com dignidade. O reconhecimento de Goiás internacionalmente abriu portas para parcerias e quadrilhas internacionais foram desbaratadas com a ajuda das nossas polícias Civil e Militar. Avançamos muito, mas o progresso precisa ser contínuo e, infelizmente, ao lado do prefeito Paulo Garcia ouvi relatos de jovens que ainda vivem em situação de escravidão sexual no velho continente.
A terceira e última tarefa que cada um de nós precisa se dedicar é relacionada à preservação do planeta Terra para as próximas gerações. Esse objetivo só pode ser alcançado a partir do momento em que o ser humano for colocado em primeiro lugar nas decisões estratégicas, garantindo que a parcela mais frágil da sociedade seja protegida. Não se trata apenas de benefícios sociais, mas um plano de longo prazo visando que os meios essenciais para a manutenção da vida sejam preservados. Goiânia está no caminho certo, embora muito ainda precise ser feito. O prefeito Paulo Garcia priorizou a conclusão do projeto Macambira-Anicuns, que contará com um corredor de 23,5 km de área verde, elevando ainda mais a taxa de arborização pública da capital por m², que já é uma das maiores do planeta.
O governador Marconi Perillo, também preocupado com os desafios do futuro, construiu o reservatório do ribeirão João Leite, garantindo água potável para a população de Goiânia pelas próximas décadas. Sim, muito ainda precisa ser feito. O workshop realizado pelo Vaticano mostrou que prefeitos de todos os continentes estão dispostos a contribuir. Em Goiânia não será diferente e a Câmara Municipal está preparada para enfrentar os problemas de frente, debatendo com a sociedade os melhores caminhos para superá-los. Confiantes sempre, como o papa Francisco disse na encíclica Laudato si’, que “Deus, que nos chama a uma generosa entrega e a oferecer-Lhe tudo, também nos dá as forças e a luz de que necessitamos para prosseguir. No coração deste mundo, permanece presente o Senhor da vida que tanto nos ama. Não nos abandona, não nos deixa sozinhos, porque Se uniu definitivamente à nossa terra e o seu amor sempre nos leva a encontrar novos caminhos. Que Ele seja louvado!
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