A participação de Goiânia no workshop
realizado pelo Vaticano para debater a relação entre o ser humano e o planeta
Terra colocou a nossa capital em uma posição privilegiada. Foram escolhidas
apenas 50 cidades em todo mundo para participar do evento. Todas com
características sociais e econômicas diversas, mas que enfrentam na raiz o
mesmo problema: a busca do desenvolvimento com dignidade humana e respeito ao
meio ambiente. Uma tríade vital para a evolução da humanidade no aspecto mais
amplo da expressão.
A decisão do papa Francisco de iniciar o
debate de um tema desta envergadura foi extremamente acertada. A escolha da
Santa Sé como anfitriã do seminário afastou a influência político-ideológica do
centro das discussões e colocou a própria sobrevivência humana em foco. O
reflexo pode ser notado em cada palestra: de Uganda a Nova York, passando por
Estocolmo,
São Francisco e Goiânia, as semelhanças das
dificuldades enfrentadas pela população e pelo poder público são muito maiores
do que as diferenças culturais.
O papa Francisco traçou com clareza os três
principais problemas contemporâneos do planeta. O primeiro é a escravidão
moderna, que, mesmo sem a violência sanguinária de outros tempos, ainda agride
de forma avassaladora a dignidade humana. O pontífice destacou os movimentos
imigratórios de pessoas em situação de extrema pobreza e também de refugiados
de guerras. Um contingente enorme de homens, mulheres e crianças que procuram
abrigo em países desenvolvidos, muitas vezes se sujeitando a trabalhos
degradantes e mal renumerados para conseguir colocar o pão na mesa da família.
Uma situação social crítica, vista com mais clareza na Europa, onde desembarcam
rotineiramente milhares de pessoas em containeres de carga.
Um problema que, não podemos nos enganar,
também aflige Goiânia, ainda que em menor grau. Não é raro encontramos nas ruas
da nossa capital refugiados do Haiti e de países da África e da Ásia buscando
uma oportunidade de viver com decência. A maioria desembarca em nossa cidade
sem recursos ou indicações. Contando apenas com a característica acolhedora da
nossa população para iniciar uma nova vida. Grande parte obtém êxito e, assim
como nós, considera Goiânia um lar – sem, é claro, esquecer ao olhar o
horizonte da sua verdadeira casa e entes queridos para além das fronteiras.
Entretanto, é preciso dar respaldo para aqueles que, para nossa vergonha, são
tratados como mão de obra barata, sem os mínimos direitos assegurados ou até
mesmo como mera mercadoria.
O papa, no entanto, vai além, e questiona
se nós, que recebemos esses irmãos, nos preparamos humanamente para abrigá-los.
Não faz muito tempo, as manchetes eram tomadas por notícias de trabalhadores
bolivianos vivendo em regime de escravidão em São Paulo. Haitianos presos na
burocracia, impedidos de ganhar o alimento com o próprio suor em diversos
estados da Federação. Além disso, quantos goianienses que em tempos de crise
não procuraram oportunidades em outros países e que também foram tratados como
cidadãos de segunda classe? Também, aqui no Brasil, assistimos inertes centenas
de milhares de migrantes, que assim como eu, deixaram o Nordeste para construir
o progresso em outros Estados, como Goiás e São Paulo, e até hoje não são
respeitados pela contribuição determinante que deram para o crescimento
econômico dessas regiões. É, sem dúvidas, uma questão global que deve ser
encarada como vital pelo poder público e sociedade. Precisamos de uma resposta
que deve ser buscada em conjunto para, enfim, mitigar o sofrimento de quem
precisa de apenas de uma mão estendida.
O segundo desafio é relacionado ao tráfico
humano e de órgãos. Um problema que infelizmente também existe no nosso meio.
Não foram poucos os casos de goianas enviadas para a prostituição no exterior.
Muitas ainda adolescentes, que se viam presas em uma teia de crimes e violência
em países que não conheciam e que muito menos sabiam falar a língua. Voltando
ainda mais em um passado que não nos traz a menor nostalgia, todos nós chegamos
a conhecer relatos de crianças raptadas para serem adotadas por famílias
estrangeiras. Mães enganadas, ou que enxergavam na prática a única forma de
garantir um futuro para os filhos.
O problema foi em grande parte superado
graças a um importante trabalho econômico e social do governador Marconi
Perillo. A educação evoluiu, empregos surgiram e agora as famílias têm a
certeza de que seus filhos irão crescer e formar suas próprias famílias com
dignidade. O reconhecimento de Goiás internacionalmente abriu portas para parcerias
e quadrilhas internacionais foram desbaratadas com a ajuda das nossas polícias
Civil e Militar. Avançamos muito, mas o progresso precisa ser contínuo e,
infelizmente, ao lado do prefeito Paulo Garcia ouvi relatos de jovens que ainda
vivem em situação de escravidão sexual no velho continente.
A terceira e última tarefa que cada um de
nós precisa se dedicar é relacionada à preservação do planeta Terra para as
próximas gerações. Esse objetivo só pode ser alcançado a partir do momento em
que o ser humano for colocado em primeiro lugar nas decisões estratégicas,
garantindo que a parcela mais frágil da sociedade seja protegida. Não se trata
apenas de benefícios sociais, mas um plano de longo prazo visando que os meios
essenciais para a manutenção da vida sejam preservados. Goiânia está no caminho
certo, embora muito ainda precise ser feito. O prefeito Paulo Garcia priorizou
a conclusão do projeto Macambira-Anicuns, que contará com um corredor de 23,5
km de área verde, elevando ainda mais a taxa de arborização pública da capital
por m², que já é uma das maiores do planeta.
O governador Marconi Perillo, também
preocupado com os desafios do futuro, construiu o reservatório do ribeirão João
Leite, garantindo água potável para a população de Goiânia pelas próximas décadas.
Sim, muito ainda precisa ser feito. O workshop realizado pelo Vaticano mostrou
que prefeitos de todos os continentes estão dispostos a contribuir. Em Goiânia
não será diferente e a Câmara Municipal está preparada para enfrentar os
problemas de frente, debatendo com a sociedade os melhores caminhos para
superá-los. Confiantes sempre, como o papa Francisco disse na encíclica Laudato
si’, que “Deus, que nos chama a uma generosa entrega e a oferecer-Lhe tudo,
também nos dá as forças e a luz de que necessitamos para prosseguir. No coração
deste mundo, permanece presente o Senhor da vida que tanto nos ama. Não nos
abandona, não nos deixa sozinhos, porque Se uniu definitivamente à nossa terra
e o seu amor sempre nos leva a encontrar novos caminhos. Que Ele seja louvado!
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