Recentemente, uma notícia publicada no
jornal Folha de S. Paulo chamou atenção para um sério problema brasileiro: a
situação das mulheres encarceradas. Tratadas como homens, elas não têm qualquer
dignidade atrás das grades. Muitas não têm sequer acesso a absorventes quando
estão menstruadas. A maioria já é mãe, e seus filhos ficam desamparados. Na
coluna do dia 10 de julho, a jornalista Patrícia Campos Mello fala sobre esse
tema.
Ela aborda o trabalho da jornalista Nana
Queiroz, que passou cinco anos entrevistando essas mulheres, invisíveis aos
olhos da sociedade brasileira. O resultado da investigação é o livro Presos que
menstruam: a brutal vida das mulheres - tratadas como homens - nas prisões
brasileiras, da Editora Record. Muitas chegam à prisão grávidas, dão à luz
atrás das grades, amamentam seus bebês em celas imundas, se apaixonam por
outras presas e se enforcam nas barras de ferro.
Na obra, a jornalista conta a história de
mulheres como Safira, Júlia, Gardênia, Vera, Camila, Glicéria e Marcela, presas
por diferentes motivos: não tinha dinheiro para comprar comida e começou a
assaltar; o namorado usou uma casa em seu nome para um sequestro; assassinou a
amante do marido em uma briga; foi mula de drogas; era usuária e também traficava.
De acordo com dados citados no livro, 85% das mulheres encarceradas são mães.
"Quando detidas, os filhos são distribuídos entre parentes e instituições.
Só 19,5% dos pais assumem a guarda dos filhos. Os avós maternos cuidam das
crianças em 39,9% dos casos; 2,2% vão para orfanatos, 1,6% acabam presos e 0,9%
internos de reformatórios juvenis", relata a colunista Patrícia Campos
Mello.
"Para receber visitas, muitos parentes
das presas são submetidos à medieval revista íntima, em que precisam se despir e
agachar em cima de um espelho, para provar que não carregam drogas ou armas na
vagina ou no ânus", continua Patrícia em sua coluna. A população feminina
encarcerada aumentou 146% entre 2005 e 2012, mais que o dobro do crescimento
masculino. Em 2005, as mulheres representavam 4,35% do contingente preso no
Brasil. Em 2012, esse número subiu para 6,17%, o que representa 36 mil presas.
Em 2005, para cada mulher no sistema
prisional brasileiro, existiam 21 homens. Em 2012, essa proporção diminuiu para
15. Os dados são do Mapa do Encarceramento dos Jovens no Brasil, relatório da
Secretaria Nacional de Juventude em parceria com Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (Pnud). A maioria das prisões de mulheres está
relacionada com o tráfico de drogas e são poucos os casos de crimes com
violência. Dados do Ministério da Justiça mostram que o perfil das presas no
Brasil é formado por jovens, entre 18 e 34 anos, com baixa escolaridade.
A situação dessas mulheres deve merecer
mais atenção do Poder Público. Entre os principais problemas estão a falta de
assistência médica e de saúde mental; a ausência de cuidados com os filhos, o
risco de perda de guarda, questões relativas à gravidez e à amamentação; a
superlotação das unidades prisionais; a falta de um tratamento diferenciado
para elas; a existência de unidades mistas com homens e mulheres; além da falta
de acesso à justiça. É preciso mudar esse cenário, que revela grave violação
dos direitos femininos. É fundamental levar em consideração, nas políticas
públicas voltadas para a população carcerária, a vulnerabilidade de gênero e a
necessidade de assegurar a dignidade das mulheres presas, lançando um olhar
especial, protetor e cuidadoso para os seus filhos.
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