Advogado cita Sérgio Buarque de Holanda para fazer
a ressalva: ” O fato de o brasileiro ser cordial, ou emocional, revela tão
somente aquilo que já sabíamos: somos (na média) um povo ignorante, tosco,
primitivo”
Premissas hipotéticas: quanto mais primitivo o
povo, mais violento e menos cordial e pacífico ele é; quanto mais imperialista
ou colonialista é o país, mais violento e menos cordial e pacífico ele é;
quanto mais fundamentalista (extremista, fascista, dogmatista, nacionalista,
nazista, discriminador, intolerante) é o país ou determinado agrupamento
humano, mais violento e menos cordial e pacífico ele é.
O Brasil não é um país colonialista ou imperialista
(ao contrário, até hoje continua com muitos traços de um país colonizado). O
que, então, explicaria a violência epidêmica no nosso território (recorde-se: o
Brasil é o 12º país mais violento do planeta, com 29 assassinatos para cada 100
mil pessoas)? Resposta: o primitivismo e seu filhote que é o ignorantismo (3/4
da população são analfabetos funcionais), assim como alguns rebentos
fundamentalistas.
Quanto mais indicadores estatísticos aparecem, mais
as premissas hipotéticas vão se confirmando. Relatório divulgado pela ONG
Visions of humanity, em 2015, que elabora o Índice Global da Paz, aponta o
Brasil na 103º posição, dentre 162 países.O Brasil, para além de ser um dos
países menos pacíficos do mundo, é um dos que mais gastam com o item segurança.
Bilhões são gastos (mais de 60 por ano), sem nenhuma melhora na diminuição da
violência (em termos nacionais).
Sérgio Buarque de Holanda (autor do clássico Raízes
do Brasil, 1936) jamais quis dizer que o povo brasileiro é cordial, pacífico,
apaziguador ou da paz[1]. O povo que extermina mais de 57 mil pessoas por ano
intencionalmente (29 para cada 100 mil pessoas), que massacra suas mulheres e
crianças (milhares de crianças lesadas e 15 homicídios de mulheres por dia),
que mata 43 mil por ano no trânsito, que conta com 19 das 50 cidades mais
violentas do mundo, que é campeão no item violência contra professor e que é o
12º mais violento do planeta, não pode mesmo ser tido como cordial ou pacífico
(muito menos, seguro). Somos um povo carnavalesco, mas isso não significa
cordialidade (porque até mesmo durante as festas muitas pessoas são
assassinadas).
Sérgio Buarque de Holanda, portanto, quis dizer
outra coisa: cordial (derivado de cor) relaciona-se com o coração. Ele
pretendeu afirmar que o brasileiro é movido pelos impulsos do coração, pela
emoção, pelos afetos. É uma criatura em geral bastante primitiva e, assim,
muito mais emocional que racional. É mais leal aos laços familiares e às
amizades do que qualquer outro tipo de associação (sociedade mercantil, clube,
vida coletiva ou comunitária). Os políticos, muitas vezes, revelam mais
preocupação com o acomodamento da família e das amizades (sobretudo
partidárias) do que com a comunidade.
As classes dominantes rapidamente assumiram a
cordialidade (a pacificidade) como característica do povo brasileiro porque
isso é muito conveniente para quem vive da ideologia da desigualdade extrema,
da exploração e da opressão.
A “cordialidade” referida por Sérgio Buarque não é
uma peculiaridade genuinamente brasileira. “Com um pouco de observação, notamos
que ela é comum a todos os países ou grupamentos humanos pouco desenvolvidos,
aqueles mais próximos ao estágio de organização social em torno de clãs
familiares. Quanto mais ignorância [quanto mais “bom selvagem”, de que falava
Rousseau), menos discernimento, mais impulsividade, mais barulho, mais efusão,
mais contam os laços sanguíneos e menos contam os laços não-sanguíneos”. Em
suma, quanto mais educação, menos emoção é exibida, e o fato de o brasileiro
ser cordial, ou emocional, revela tão somente aquilo que já sabíamos: somos (na
média) um povo ignorante, tosco, primitivo.
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