Você é uma pessoa saudável, mas toma remédio para controlar a pressão
alta. De repente, sem qualquer motivo aparente, sente uma pressão no peito e
formigamento no braço esquerdo, seguido de dor. Você, como a maior parte da
população, pensa que está sofrendo um ataque cardíaco e corre para o
pronto-socorro. Só então descobre que a angina não passa de gases, fica
constrangido e sente que desperdiçou um tempo precioso.
O caso é tão frequente que se tornou parte de uma bem humorada peça
publicitária sobre doação de órgãos, atualmente em exibição na TV brasileira.
Mas essa cena está com os dias contados. No futuro, você receberá uma mensagem
de texto ou ligação telefônica personalizada, explicativa e orientadora sobre
os sintomas e o medicamento correto para livrá-lo do problema. É a versão
virtual do antigo médico da família, que vai monitorá-lo 24 horas.
Informação em tempo real impacta diretamente na prevenção de doenças.
Principalmente para pessoas com problemas crônicos de saúde, que precisam estar
sempre atentas para não se transformarem em pacientes. Na gestão de saúde
atual, o indivíduo é visto apenas como doente ou saudável. Mas ele pode não
estar doente e estar desenvolvendo uma doença. Ninguém é 100% saudável. Estamos
bem, mas vamos perdendo a saúde ao longo da vida, nosso metabolismo e as
necessidades mudam conforme a idade. Vamos regredindo, ficamos 99% saudável,
98% e assim por diante, até surgirem os sintomas da doença.
De acordo com o recém-divulgado Relatório Sistêmico de Fiscalização da
Saúde do Tribunal de Contas da União (TCU), 87 hospitais, de um total de 105,
têm sua capacidade de ocupação ultrapassada em 100% e tornam-se um ambiente, no
mínimo, desequilibrado, como constatado pela própria equipe do TCU: em uma das
entidades visitadas no Amapá, um paciente que tinha sofrido um acidente
vascular cerebral (AVC) aguardava há cinco horas, deitado em um banco no
corredor, a chegada de um médico neurologista; em alguns hospitais da Paraíba,
havia dificuldade para transitar entre os leitos, e na recepção de um hospital
universitário, localizado em Santa Maria (RS), pacientes estavam em macas.
Histórias que vemos repetir mês após mês na mídia há anos.
Ainda segundo o estudo, “historicamente, a maioria da população
brasileira busca o hospital como a primeira e principal opção de atendimento
médico, o que configura o modelo de saúde denominado hospitalocêntrico. Assim,
não se busca a Atenção Básica, que deveria ser a porta de entrada preferencial
do sistema”. Fica evidente, então, esse mau direcionamento como principal causa
da superlotação hospitalar, que transforma “os prontos-socorros em um depósito
de problemas não resolvidos”, como apontado no relatório.
Diante desse panorama, fica fácil constatar que a adoção de sistemas
preventivos é um dos remédios que devem ser receitados para a melhora da saúde
do País. Caso exemplar dessa constatação parte do sistema privado brasileiro
com a orientação clínica por telefone para usuários de planos de saúde, também
utilizada pelos sistemas públicos de países como Reino Unido, Portugal e
Noruega.
Aproximadamente 30% da população brasileira sofre com uma ou mais
doenças crônicas e cerca de 10% necessita de monitoramento contínuo. Taxa de
glicemia, por exemplo, requer coleta e o feedback de um profissional. Alguém
precisa notificar o paciente de que está na hora de fazer o exame, analisar o
resultado e dar as orientações necessárias. Mobile e wearable vão revolucionar
a gestão de saúde populacional. Todos os dados sobre a saúde da pessoa serão
armazenados em uma central, como exames, dietas, medicamentos e cirurgias. Este
banco de dados será acessível e abastecido por todos, dos laboratórios aos
médicos.
A informação será das pessoas e não dos prestadores de serviço. A
prevenção dominará o cenário, não mais em consultórios médicos ou hospitais.
Não se trata de ficção científica, mas de uma realidade muito mais próxima do
que se imagina. Já temos smartphones de pulso, que permitem estarmos conectados
dia e noite. É preciso ligar os elos e desenvolver um sistema de conexão. Estamos
próximos dessa realidade, mas é necessária uma mudança estrutural do sistema de
saúde.
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