O clima no poder é
de barata voadora, cada um tentando se "descolar" do outro e se
esfalfando para salvar a própria pele. Aliás, esse é o verbo da moda em
Brasília: todo mundo tenta se "descolar" de todo mundo.
O PT se
"descola" da presidente Dilma Rousseff e se agarra ao ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de fugir de um pronunciamento pela TV no
Primeiro de Maio, Dia do Trabalho, a presidente foi empurrada para fora da
propaganda do seu próprio partido, terça-feira à noite. E a grande estrela foi,
ou era para ser, Lula. O que é muito estranho.
Afinal, Dilma já
bateu no fundo do poço, com seus míseros 13% de aprovação popular, e nem mesmo
fazendo muito esforço para errar será capaz de cair mais ainda. Já Lula está em
pleno processo de queda. Já perdeu 21 pontos, segundo as últimas pesquisas, e
muito possivelmente continua deslizando ladeira abaixo junto com o governo que
patrocinou e o partido que criou.
O PT, portanto,
parece viver aquela clássica situação: se ficar, o bicho Dilma come; se correr,
o bicho Lula pega. Ponha Dilma ou ponha Lula na TV, a sangria e os panelaços
continuam.
Se o PT tenta se
"descolar" de Dilma, a recíproca é verdadeira. Foi o ministro da
Comunicação Social, Edinho Silva - do PT, frise-se - quem declarou a repórteres
que é "um erro" misturar cotidianamente o governo ao partido e que
não cabe ao governo, mas ao partido, responder sobre o último panelaço (o de
terça, durante o programa petista).
Entre a presidente
e o PT, Lula fica com uma terceira entidade: ele mesmo. Tenta se
"descolar" das lambanças do PT e dos erros abundantes da sucessora,
mas precisa do PT, tanto quanto o PT precisa dele, e não pode bater de frente
com Dilma nem com um governo que ele critica há tempos, de manhã, à tarde e à noite.
Afinal, o partido é ele, e Dilma só virou o que virou por sua culpa, sua máxima
culpa.
O resultado de
tanto cola-descola é que o programa de TV do PT ficou sem pé nem cabeça, Lula
decidiu satanizar a terceirização da mão de obra e Dilma saiu da tela para
virar espectadora, enquanto o PMDB chamou o PT às falas, cobrando que suas
bancadas assumissem as restrições trabalhistas e previdenciárias determinadas
pela presidente. Ou seja: o PMDB obrigou o partido do governo a se comportar
como partido do governo.
E, afinal, contra
quem e contra o quê foram os panelaços? Será que o do Dia da Mulher, 8 de Maio,
foi só contra Dilma? Será que o da terça-feira, durante o programa do PT, foi
só contra o PT? E será que nenhum dos dois foi contra Lula? Ou será que os panelaços
passados, presentes e futuros foram, são e serão contra Dilma, Lula e o PT?
Por mais que Lula
tente se "descolar" de Dilma, Dilma tente se "descolar" do
PT e o PT tente se "descolar" de Dilma, eles estão todos colados,
senão para sempre, seguramente hoje, nestes tempos de crise. E não há remédio
para esse trio de siameses, a não ser uma cirurgia radical, como a que Marta
Suplicy fez e outros estão na fila para fazer.
É nesse clima que o
velho PT de guerra passa por situações nunca antes imaginadas, como
manifestações históricas, panelaços, buzinaços e o circo no plenário durante a
votação do ajuste fiscal, com a oposição batendo panela e as galerias jogando
uma chuva de dólares falsos, com as caras de Lula, Dilma e Vaccari. O petista
Weliton Prado, que votou contra, corre o risco de virar herói.
Se Lula acha que
radicalizar contra a terceirização será suficiente para reverter o clima e
reaproximar o PT das bases, dos sindicatos, das massas e da opinião pública em
geral, pode estar tremendamente enganado. Pois, se algo realmente se descolou
de algo, foi o PT que se descolou da maioria do eleitorado brasileiro.
FACHIN - É inacreditável que Dilma tenha levado nove meses para indicar o
novo ministro do Supremo e tenha escolhido um procurador que atuava simultaneamente
como advogado. É inconstitucional e o STF é justamente o garantidor da
Constituição.
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