Há no Brasil, privativamente na cidade do
Rio de Janeiro, um tipo de terrorismo sazonal que não é político, não é
ideológico, não é religioso nem racial, nada parecido com essas manifestações
de violência radical praticadas cá e lá no nosso irrequieto mundo global. É um
terrorismo capaz de derrubar aviões de passageiros, explodir refinarias e
depósitos de combustíveis, incendiar matas, carbonizar a favela do pobre e a
mansão dos ricos, ferir e matar inocentes de todos os gêneros.
Refiro-me ao terrorismo dos baloeiros. Ele
ataca preferencialmente na temporada junina, que se aproxima, mas a cada ano
vai se tornando menos dependente do calendário e das motivações de sua prática
- outrora um costume folclórico que gozava da aceitação geral, dadas as suas
dimensões e respectivos riscos bastante limitados. Hoje os baloeiros conspiram
em associações clandestinas e máfias, operam na sombra como criminosos,
comprazem-se em desafiar a lei e a autoridade policial lançando no ar legítimos
artefatos de guerra.
Balões imensos, muitas vezes carregados de
fogos de artifício - e mesmo de explosivos! - entraram num campeonato de
periculosidade que parece desconhecer extremos. Paralelamente, a capacidade de
caçá-los e de prevenir as suas consequências danosas adquire dificuldade
progressiva. Policiais e bombeiros ficam às tontas no esforço de dominar uma
forma de ataque silencioso e traiçoeiro que parte de lugares escondidos e cuja
rota está ao sabor dos ventos e outros fatores aleatórios.
E quem se dedica, tão obsessiva e audaciosamente
ao exercício desse terrorismo? Não podemos sequer tachá-los genericamente de
facínoras, como dizemos dos incendiários convencionais, sequestradores,
traficantes e demais delinquentes pesados, porque embora atuem com os
instrumentos e as qualificações do crime, os baloeiros acabam sendo, quase
sempre, pessoas participantes do ordinário convívio urbano.
Não são incendiários de tempo integral, com
o veneno da predação nas veias, mas personagens contaminados por uma
irresponsabilidade destrutiva de hora marcada. Muitos deles chegam a pensar que
nada mais fazem do que exercitar um esporte apenas mais radical, interessados
em ganhar na competição e não na finalidade deletéria.
Pode ser até gente sem ânimo doloso, porém
de maneira nenhuma se trata de gente normal. Há quem contabilize 80 mil
baloeiros nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Oitenta mil que não
ignoram o cerco punitivo a que estão submetidos, sobretudo depois da vigência
da legislação contra os crimes ambientais. Temos, portanto, uma legião de
potenciais predadores da natureza e inimigos da segurança pública cultivando a
sua disfarçada anormalidade no meio social que os acolhe como cidadãos
insuspeitos.
O noticiário sobre os perigos disseminados
pelos baloeiros atinge agora uma tonalidade alarmante. Companhias aéreas
internacionais já ameaçam suspender suas escalas no Aeroporto Tom Jobim durante
o "São João do Terror". Há um clima de pânico nas áreas e instalações
onde as buchas acesas dos balões podem provocar tragédias, atingindo também os
moradores adjacentes. Brigadas anti-incendiárias colocam-se em estado de
plantão e alerta, órgãos e funcionários da Defesa Civil se mobilizam com
procedimentos próprios para situações de calamidade, as autoridades do meio
ambiente são acionadas, tudo isso custando trabalho extra e muito dinheiro
público.
Um país que queremos ver desenvolvido não
pode continuar a suportar esse espetáculo de gratuita e gaiata selvageria.
Não pode ser simplesmente inviável extinguir os focos de tamanha ameaça, submetendo exemplarmente os transgressores às sanções da lei e da condenação social. E é missão para o ano inteiro e não somente para as vésperas dos ataques incendiários.
Não pode ser simplesmente inviável extinguir os focos de tamanha ameaça, submetendo exemplarmente os transgressores às sanções da lei e da condenação social. E é missão para o ano inteiro e não somente para as vésperas dos ataques incendiários.
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