A discussão sobre a diminuição da
maioridade penal tem terreno fértil em um momento temeroso para a sociedade. No
momento em que grupos esbravejam pela volta dos militares, exacerbam opiniões
preconceituosas contra minorias e municiam-se de discursos de ódio, a ideia de
que a redução da maioridade resolverá o problema da violência ganha eco e surfa
em uma onda conservadora há muito tempo não vista em nosso país.
Nos 54 países que reduziram a maioridade
não se verificou redução da violência. Inclusive a Espanha e a Alemanha
voltaram atrás na decisão de criminalizar menores de 18 anos. Além disso, o
Brasil é signatário de acordos internacionais, como o da Convenção dos Direitos
da Criança e do Adolescente da Organização das Nações Unidas e a Declaração
Internacional dos Direitos da Criança, que impedem esse retrocesso.
Outros números reforçam a negativa, como o
do Ministério da Justiça que diz que menores de 16 a 18 anos são responsáveis
por 0,9% dos crimes praticados no Brasil. Se considerarmos homicídios, esse
percentual cai para 0,5%. Já no relatório Vulnerabilidade Juvenil à Violência e
Desigualdade Racial aponta que um jovem negro tem, em média, 2,5 mais chances
de ser assassinado que uma pessoa branca.
Por isso é simplório apontar uma saída
dessas para um problema que está enraizado na formação cultural brasileira.
Sugerir cadeia ao invés de educação restringe ainda mais os direitos de
crianças e adolescentes pobres e isenta o Estado da responsabilidade.
É bom deixar claro também que já constam na
lei mecanismos punitivos para infratores dessa faixa etária. Transformar essa
punição existente para o encarceramento em nosso sistema penitenciário adulto
nada resolverá o problema da criminalidade no país.
Por: Juliano Roso, deputado estadual e presidente
da Comissão de Ética do Parlamento Gaúcho.
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