Não sou do tipo de religioso
pegajoso de Deus. Não vivo de bruços ou de joelhos entornando a paciência
divina suplicando que Ele faça as coisas por mim ou mude o universo inteiro
para que eu me sinta feliz. Essas sandices as deixo para o pessoal da falsa
teologia da prosperidade e que os pietistas se fechem em altares alheios ao
sofrimento dos outros, pedido que Deus se vire para resolvê-los.
Nada disso. Me unirei a
trabalhadores, estudantes e outros seguimentos do movimento social para
mobilizar o povo para parar no dia 29 de maio aqui em Goiânia e no Brasil. A
partir das 5 horas “panfletearemos” e, com carro de som, conclamaremos os
usuários do ônibus da linha “Eixão” da empresa estatal Metrobus a não
transitarem naquele dia para o trabalho. Pararemos todas as linhas de ônibus na
madrugada de 29. O ponto para o qual fui designado para atuar é o chamado
Terminal da Praça da Bíblia, aqui entre o Setor Universitário e o Setor Leste
Vila Nova, onde moro.
Lutar contra a terceirização é
questão de consciência social, de consciência dos direitos humanos, de justiça
social trabalhista e de patriotismo.
O campo de lutas se deslocou
novamente para as ruas, como nos grandes momentos históricos marcados pela
oposição ao golpe militar, a favor das eleições diretas e contra o
neoliberalismo, nefasto aos trabalhadores, ao povo, à sociedade e ao País.
O contexto atual mostra que os
deputados federais e senadores, em sua grande maioria, são achacadores,
conservadores e servidores de propósitos atentatórios aos interesses dos
trabalhadores e do povo; que o ministério da economia e o Banco Central são
ocupados e manipulados por assaltantes da economia nacional e popular; que a
correlação de forças corrói a energia do governo eleito para avançar nas
transformações; que a apatia popular é fruto do golpe que desmobiliza o povo,
esvaziando sua consciência das lutas cidadãs.
Portanto, é necessário que se
vá onde a massa está e se a empurre para o alto da grandeza política.
O momento é de crueldade contra
todos nós. É de falta de coração e de desrespeito a toda a história do
trabalho, necessariamente feita de mobilizações e de solidificação da
consciência de classe.
Quem
expressou muito bem a crueldade contra os trabalhadores foi a “dona” Mônica
Baumgarten, economista doutorada pela London School of Economics e pesquisadora
do Peterson Institute for International Economics. Num artigo em sua coluna na Folha
de S.Paulo no dia 21 de maio, a falsa intelectual
afirma com arrogância, falta de respeito e tremendo vazio de compaixão que “a
realidade do mercado de trabalho brasileiro mudou; a choradeira dos sindicatos
é irrelevante”.
A “dona” Mônica, a serviço do
deus mercado, prevê que não há futuro fora de terceirização. “Empregos estáveis
e de tempo integral haverão de ceder cada vez mais espaço para os empregos em
tempo parcial, para o autoemprego ou outros arranjos compatíveis com as
necessidades do século 21 (…) só um em quatro trabalhadores no mundo desfruta,
hoje, de emprego estável.”
Para aquele anjo do mal, a
terceirização “reflete a expansão galopante das cadeias globais de valor, a
rede de empresas que caracteriza a produção moderna”.
Quer dizer, esse discurso
surrado e maléfico tenta enganar com dois polos, desculpe dizer, muito safados.
Um de que a “realidade”, uma realidade que a elite dominante inventou, fora de
toda e qualquer realidade objetiva que inclua os trabalhadores e as exigências
de justiça social, ao afirmar que o mercado é um valor universal imutável e
eterno em cujos pés todos têm que se ajoelhar.
O outro polo é de que a
terceirização é inevitável, mesmo que destrua salários, estabilidades,
dignidades e a consciência sindical de lutas como ferramentas de defesa dos
direitos dos trabalhadores.
A luta dos trabalhadores é
tomada estupidamente como choradeira. Pior, como choradeira irrelevante.
Para esse tipo de “raciocínio”,
ou como gosta de dizer o pessoal da academia, é uma lógica tão perversa do tipo
a dos escravocratas ao verem seus escravos gemendo de dor, destruídos pelas
chibatadas dos capitães, sangrando com os pulsos exangues e amarrados, muitos
morrendo de banzo (depressão pelas injustiças e matanças nas colônias e com
saudade de suas raízes na África) sem sentir a dor e o sonho libertário que
romperia os grilhões que os prendiam ao cepo.
Para essa gente os gemidos, os
sofrimentos e as destruições humanas dos trabalhadores são choradeiras
irrelevantes. O que importa são os lucros, é o assalto aos direitos e às
conquistas desenhadas e construídas com muita luta desde 1915 quando se
configurou no Brasil o direito do trabalho. O que importa são os luxos e
privilégios da classe dominante, usufruídos do sangue dos “irrelevantes”
trabalhadores.
É por causa do pensamento do
modelo “dona” Mônica que os trabalhadores são ameaçados e os negros são mortos
por policiais a serviço da brancura da elite que considera a subvida
irrelevante.
No entanto, no dia 29 temos que
nos levantar e tornar o pensamento de “dona” Mônica Baumgarten completamente
irrelevante porque ameaça a sociedade brasileira.
Os trabalhadores mobilizados
haverão de jogar no lixo a irrelevância de quem pensa, discursa e faz de tudo
na mídia, no parlamento, no governo e em seguimentos empresariais
daninhos à justiça social, buscando destruir os degraus da escada em que se
constituem em crescimento para a destruição do sistema que teima em
desrespeitar a dignidade de quem produz as riquezas e sem elas vive neste País.
Dia 29 de maio de 2015 será a
data para tornar irrelevante a terceirização defendida por energúmenos
desprezíveis como a “dona” Monica Baumgarten.
Dom Orvandil Moreira Barbosa.
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