Veja, está sendo incrível de repente, não mais
do que de repente, uma pergunta percorre o Brasil sem parar: é verdade que
pegaram o Ali Babá caboclo?
Como assim, pegaram Ali Babá caboclo? Quem
pegou? Quando pegou? Por que pegou? Perguntas, só perguntas! Quem pode
responder? Esse Ali Babá se manifestou? Ele convocou uma coletiva de imprensa?
O que ele disse em sua defesa?
Como tudo neste nosso país de hoje, de um
lado grande euforia, aquela típica euforia juvenil que abarca quem já perdia a
esperança. Euforia que funciona como avalanche de otimismo sobre o futuro,
afinal, parece que nem tudo está perdido.
No lado oposto, entre os amigos e a turma
que gravita em torno de Ali Babá, três reações foram detectadas desde
sexta-feira. Entre alguns vigora o silêncio sepulcral, afinal o que dizer numa
hora dessas? Havia temor de que tal poderia ocorrer, mas era tido como algo
remoto, pois o Ali Babá daqui, a exemplo do Ali Babá da história registrada na
Pérsia, tornou-se muito poderoso (o daqui não chegou a casar com a filha do
rei, mas foi melhor do que isso) e temido. E, a exemplo do reinado da Pérsia,
tem bajuladoras em todos os recantos do reino que vão reagir forte para
desmentir tudo.
Entre os letrados que ocupam o andar de
cima, gente que no passado funcionaria como conselheiro do rei e hoje em alguns
casos são chamados de advogados, a reação foi gélida – nesse grupo ninguém vê
motivo para euforia ou para desespero. Simples é o raciocínio: ladrão que rouba
de ladrão tem cem anos de perdão. E já pensam numa ação por danos morais, pois
Ali Babá não pode passar por vexame.
Os advogados garantem que vai ser barbada
tirar nosso Ali Babá do atoleiro, pela acusação de ladroagem, pois a história
na Pérsia fez jurisprudência. O que ocorreu lá? As versões são muitas, mas é
tido como verdade por todos que o produto do crime dos 40 ladrões era
depositado numa caverna. O Ali Babá deles descobriu o código – Abre-te Sésamo –
entra na caverna e passa a saquear os saqueadores. Compreenderam? Ladrão que rouba
de ladrão...
Alguns promotores, entretanto (desses com
mania de achar que a lei deve ser aplicada a todos), são de opinião que a coisa
é mais complicada. Há quem diga, por exemplo, que Ali Babá cometeu o crime de
falsidade ideológica ao usar o código Abre-te Sésamo e de invasão de
propriedade privada ao ingressar na caverna às escondidas.
Quanto ao destino dos 40 ladrões depois de
terem descoberto o roubo nada há de sólido para avançar que possa se imputado
ao Ali Babá. O Ali Babá de lá, claro. As múltiplas versões do final do relato
impedem juízo claro. Uma versão diz que voltaram a ser pobres e a trabalhar
para ganhar a vida, outra que foram jogados num rio e nunca mais se soube
deles. Uma terceira versão diz que os 40 ladrões trataram de recuperar o que
era seu e invadiram a casa de Ali Babá escondidos em odres de óleo. Descobertos
antes de agirem os ladrões acabaram mortos por Ali Babá e sua bela escrava
amasiada. No julgamento na Pérsia o casal foi inocentado com a tese de legítima
a defesa.
Por ultimo tem o grupo de asseclas,
encarregados de um serviço mais cheio de poeira, por assim dizer, que vai
entrar em ação a mil por hora. Estão na mira desses denodados defensores do
nosso Ali Babá, custe o que custar, a mídia venal, as elites, os banqueiros, os
empreiteiros toda essa gente que não pode ver pobre ficar milionário, andar de
avião e viajar com a amante na cabine.
Como proliferam versões mundo a fora sobre
a história do Ali Babá e os 40 ladrões naa Pérsia é preciso ficar atentos sobre
o Ali Babá daqui, pois o enredo pode mudar a qualquer marola. Quanto aos
ladrões daqui, não demora e saberemos tudo sobre eles...
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