Na sala de
audiências, onde recebe especialmente governadores e prefeitos de pires na mão
(de chapéu na mão ou de joelhos não importa, os que se dizem de esquerda só
aguçaram a humilhação imposta pelos que se dizem de direita) o Ministro da
Fazenda Joaquim Levy fixou um cartaz onde está escrito, em letras garrafais:
AGORA O BRASIL SÓ GASTA O QUE ARRECADA. Logo abaixo, em letras menores, está
posto: “Lei de Responsabilidade Fiscal”. Por ultimo, no rodapé, funcionando
como slogan se lê: “O Brasil avançando com responsabilidade”.
O Governador José Ivo Sartori esteve no Ministério
da Fazenda e foi recebido pelo Ministro Levy tendo tal cartaz como pano de
fundo. E, claro, que a resposta ao ocupante do Piratini foi um não, embora não
sendo culpado pela falência do Estado é responsável pela condução de seu
destino pelos próximos quatro anos.
São possíveis muitas ilações da peça publicitária.
A primeira, que se trata de cartaz sem firula de marqueteiro, de pobreza (mas
de eficiência) franciscana dizendo: com simplicidade e economia é possível dar
aviso curto e grosso. É recado forte: acabou o esbanjamento, acabou a
irresponsabilidade. Segunda ilação: esqueceram (será?) a logomarca do atual
governo federal: “Brasil, Pátria Educadora”. A terceira, decorrente da segunda:
o Ministro Levy, em voo solo, manda na economia? Ele realmente governa e a
meninada de esquerda reina? Como assim, o PT chamou a direita para governar?
Os atilados fissuraram no AGORA. Não é coisa pouca,
é AGORA, não é ontem, não será no amanhã, é AGORA. Captaram, é AGORA? A palavra
lembra, por exemplo, o professor chegando à sala de aula: AGORA acabou o
recreio. O pai, brabo: AGORA acabou a bagunça. O dono da empresa: AGORA chega
de amadorismo. Quer dizer, o AGORA do ministro tem essa conotação, ou seja, a
direita chega com autoridade no caos instalado pela esquerda e bota ordem?
Sacaram, AGORA é ordem na casa.
Ao dizer que o Brasil somente gastará o que
arrecadar o Ministro aponta o dedo para o que lhe dá suporte: Lei de
Responsabilidade Fiscal. Sim, a lei manda gastar o que tem, pois quem gasta o
que não têm – pessoa, família, município, estado, país – sempre acaba no buraco
do sofrimento. E o interlocutor fica sem ação, pois com sorriso franco de quem
sabe o que está fazendo (alguns dizem que às vezes o sorriso beira o sadismo,
mas de longe, assim, como ter certeza?) didaticamente Levy reforça a mensagem
do cartaz: “é o Brasil avançando com responsabilidade”.
Um parêntese longo: caso o escritor Saint Exupéry
tivesse vivo ele aplaudiria o Ministro da Fazenda e, tenho quase certeza,
enviaria mensagem a Brasília: “siga em frente Ministros, pois somos todos
responsáveis por quem cativamos”.
Bem, AGORA, não é hora de maldade, é covardia
tripudiar a meninada, mas, perdão, certa dose de malicia Macunaíma é permitida,
ou não? Vamos lá: não há nada, absolutamente nada, mais emblemático de tudo o
que a esquerda condena no mundo (isso é neoliberalismo) daquilo que está
embutido na frase que ostenta a visão do nosso Ministro da Economia: agora o
Brasil só gasta o que arrecada.
Essas coisas que nos deixam perplexos: a “direita”
tornou o Brasil responsável? Quando se trata dessas contradições tão latentes o
saco de maldade pode crescer indefinidamente e a “esquerda” vira direita e a
“direita” vira “esquerda”. Que mundo doido é este onde não se sabe mais o que é
direita ou o que é esquerda?
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