domingo, 17 de maio de 2015

Em Família

Quem tem um filho sabe, desde seu nascimento, que a tarefa de ser pai ou mãe (leia-se função paterna e função materna, podendo ser exercida por qualquer gênero) não é fácil. Embora nasçam pequenos “animaizinhos”, já nas primeiras mamadas ingressam na cultura familiar e na de seu tempo histórico. Assim, uma série de expectativas e demandas já recai sobre o bebê e cada família, toma a seu encargo, a tarefa de capacitar esse pequeno ser para a sobrevivência e convívio no laço social.
Para além da troca de fraldas e mamadeiras, a primeira tarefa dos pais para preservar a posição de sujeito de seu rebento será garantir que ao longo da primeira infância, nenhum dos dois “se adone” de seu filho para seus fins. Por exemplo, poderia ser uma mãe, que não tendo nenhum outro reconhecimento na vida além da maternidade e não querendo buscá-lo de outra maneira, coloque seu filho na posição de ser um eterno dependente dela para satisfazer o seu narcisismo. Um pai poderia fazer o mesmo.
A segunda tarefa será contemplar “o percurso do bebê até o final da primeira infância”. Estimular a sua autonomia e intervir quando for necessário a fim de barrar seus excessos. Este caminho para bebê também não será sem percalços.  Quererá por exemplo, ter seus pais ou um deles só para si e vai lutar por isto. Se tudo der certo, será frustrado pelos pais nesta sua expectativa e ficará estabelecido para ele, que isto não é possível. Se tiver irmãos vai sentir as primeiras agulhadas dos ciúmes, da inveja, e da insegurança e aprenderá a conviver com a intensidade destes sentimentos conflitantes. Essas experiências são cruciais para a criança aprender nas vísceras que as satisfações nunca são totais, são sempre parciais, assim como o sofrimento. Começará a assimilar também, que terá que buscar no laço social, não só na família, a fonte de suas satisfações. O núcleo desta primeira vivência fechará seu ciclo ao redor dos seis anos, momento em que estas turbações se acalmam um pouco, para voltarem com intensidade redobrada na adolescência.
Porém, na adolescência acrescentam-se dois elementos fundamentais: os adolescentes já podem biologicamente exercer sua sexualidade e começam a se preparar para o mundo adulto.   Logo, testar seus limites em todas as áreas, inclusive na sedução, será sua nova verdade. Tanto melhor se ele puder fazer isto no seu grupo, com os seus pares. Mas em geral, alguma coisa respinga dentro de casa e novamente os pais vão ter que barrar os excessos, com algum dispositivo, – sem aniquilar – a confiança do adolescente. Aliás, a grande tarefa psíquica dos pais em relação aos seus filhos, sempre será estimular a criatividade e a autonomia assim como barrar os excessos danosos.
Mudo de cenário e intensifico o problema: Como fica quando os pais são divorciados ou viúvos e entram em uma nova relação amorosa? Em geral, culpados e perdidos, não sabem como se posicionar frente à problemática. Exemplifico uma das formas que este enredo pode tomar: o pai casa novamente. O que ele tende a fazer com os filhos de sua nova mulher? Assumir sua posição de cuidador para melhor demonstrar sua virilidade para ela. Por sua vez, se ele tiver filhas estas poderão competir arduamente com a nova mulher, que tenderá por sua vez a entrar na competição e responder de igual para igual. Como todos se posicionarão frente a este enredo, principalmente, os adultos, pode ser a diferença entre saírem ganhando ou perdendo desta experiência.
Concluindo: O mais virulento em termos de família, é que ainda hoje se espera que ela seja somente um laço de amor. Que não brotem sentimentos como ódio, ciúmes, raiva, inveja e ressentimentos. Como estas emoções não são bem vindas ficam difíceis de serem reconhecidas. Assim, são abafadas e não encontram dispositivo para drenagem. Logo, na melhor hipótese acabam em infelicidades desnecessárias ou na pior, terminam em tragédias como nos casos Isabela e Bernardo.


Comente este artigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário