Quem
tem um filho sabe, desde seu nascimento, que a tarefa de ser pai ou mãe
(leia-se função paterna e função materna, podendo ser exercida por qualquer
gênero) não é fácil. Embora nasçam pequenos “animaizinhos”, já nas primeiras
mamadas ingressam na cultura familiar e na de seu tempo histórico. Assim, uma
série de expectativas e demandas já recai sobre o bebê e cada família, toma a
seu encargo, a tarefa de capacitar esse pequeno ser para a sobrevivência e
convívio no laço social.
Para
além da troca de fraldas e mamadeiras, a primeira tarefa dos pais para
preservar a posição de sujeito de seu rebento será garantir que ao longo da
primeira infância, nenhum dos dois “se adone” de seu filho para seus fins. Por
exemplo, poderia ser uma mãe, que não tendo nenhum outro reconhecimento na vida
além da maternidade e não querendo buscá-lo de outra maneira, coloque seu filho
na posição de ser um eterno dependente dela para satisfazer o seu narcisismo.
Um pai poderia fazer o mesmo.
A
segunda tarefa será contemplar “o percurso do bebê até o final da primeira
infância”. Estimular a sua autonomia e intervir quando for necessário a fim de
barrar seus excessos. Este caminho para bebê também não será sem
percalços. Quererá por exemplo, ter seus pais ou um deles só para si e
vai lutar por isto. Se tudo der certo, será frustrado pelos pais nesta sua expectativa
e ficará estabelecido para ele, que isto não é possível. Se tiver irmãos vai
sentir as primeiras agulhadas dos ciúmes, da inveja, e da insegurança e
aprenderá a conviver com a intensidade destes sentimentos conflitantes. Essas
experiências são cruciais para a criança aprender nas vísceras que as
satisfações nunca são totais, são sempre parciais, assim como o sofrimento.
Começará a assimilar também, que terá que buscar no laço social, não só na
família, a fonte de suas satisfações. O núcleo desta primeira vivência fechará
seu ciclo ao redor dos seis anos, momento em que estas turbações se acalmam um
pouco, para voltarem com intensidade redobrada na adolescência.
Porém,
na adolescência acrescentam-se dois elementos fundamentais: os adolescentes já
podem biologicamente exercer sua sexualidade e começam a se preparar para o
mundo adulto. Logo, testar seus limites em todas as áreas,
inclusive na sedução, será sua nova verdade. Tanto melhor se ele puder fazer
isto no seu grupo, com os seus pares. Mas em geral, alguma coisa respinga
dentro de casa e novamente os pais vão ter que barrar os excessos, com algum
dispositivo, – sem aniquilar – a confiança do adolescente. Aliás, a grande
tarefa psíquica dos pais em relação aos seus filhos, sempre será estimular a criatividade
e a autonomia assim como barrar os excessos danosos.
Mudo de
cenário e intensifico o problema: Como fica quando os pais são divorciados ou
viúvos e entram em uma nova relação amorosa? Em geral, culpados e perdidos, não
sabem como se posicionar frente à problemática. Exemplifico uma das formas que
este enredo pode tomar: o pai casa novamente. O que ele tende a fazer com os
filhos de sua nova mulher? Assumir sua posição de cuidador para melhor
demonstrar sua virilidade para ela. Por sua vez, se ele tiver filhas estas
poderão competir arduamente com a nova mulher, que tenderá por sua vez a entrar
na competição e responder de igual para igual. Como todos se posicionarão
frente a este enredo, principalmente, os adultos, pode ser a diferença entre saírem
ganhando ou perdendo desta experiência.
Concluindo:
O mais virulento em termos de família, é que ainda hoje se espera que ela seja
somente um laço de amor. Que não brotem sentimentos como ódio, ciúmes, raiva,
inveja e ressentimentos. Como estas emoções não são bem vindas ficam difíceis
de serem reconhecidas. Assim, são abafadas e não encontram dispositivo para
drenagem. Logo, na melhor hipótese acabam em infelicidades desnecessárias ou na
pior, terminam em tragédias como nos casos Isabela e Bernardo.
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