Zygmunt Bauman (1925), um sociólogo polonês,
escreveu Modernidade Líquida, no qual aborda a liquidez no mundo do trabalho de
uma forma muito esclarecedora. Por liquidez deve-se entender o que seja líquido
(não tem forma, molda-se conforme o recipiente, escorre, vaza, transborda,
flui). Portanto, o tempo líquido é escasso e deve ser vivido imediatamente, por
que escorre pelo meio dos dedos. Uma oportunidade perdida nunca mais volta.
Tudo flui, já preconizava Heráclito.
O
consumo do nosso tempo presta-se a planos de vida de curto prazo, podendo-se
depreender daí a noção de não haver razão para dedicação por anos a fio em
estudos, em um trabalho, em estratégias de futuro.
Saímos
de uma movimentação do estado sólido, quando planejávamos, trabalhávamos a vida
toda na mesma empresa, nos aposentávamos lá. Os empreendedores pensavam sua
empresa como firmemente fincada no chão. Isso tudo deu lugar a uma nova forma
de ver o trabalho, como algo em movimento curto, onde o sistema simplesmente
flui, escorre.
Segundo
Bauman, o indivíduo descobriu que o trabalho era fonte de riqueza, por isso
tinha que busca-lo, ser eficiente. O trabalhador ficava atrelado e subjugado às
ordens de outros e o tempo seria de longo prazo. Mas, no lugar há uma nova
mentalidade, na qual há flexibilidade, há o plano virtual onde a movimentação é
livre e cheia de incertezas. O resultado é a fragilidade que caracteriza as
relações de trabalho, onde não há engajamento, onde não se “veste a camisa”.
Nesta nova relação, a empresa é algo descolado do indivíduo.
Ao
invés de funcionários conta-se com colaboradores, sem laço com a empresa. Nada
fica muito claro nessa relação, por haver o temor de frustração e desconfiança
sobre a lealdade entre uns e outros e a projetos futuros. Não se planeja junto
e tende-se a adiar as ações, rompendo os limites de tempo.
Na
modernidade líquida há incertezas grandes demais, o que provoca um vazio de
futuro, por isso não há interesse por planejamentos. Não se sabe se aquele
trabalho que realizamos vai existir no futuro. Não há garantias de que a
empresa ainda exista no ano que vem. Assim o adiamento da satisfação pessoal
também é adiada provocando um problema social de inadequação pessoal.
O
mundo do trabalho condensa as incertezas quanto ao futuro e ao planejamento
dele, assim como estabelece insegurança nas relações , pela total falta de
garantias entre os atores laborais. Há uma flexibilidade quase que patológica,
na medida em que produz indivíduos cuja satisfação deve ser alcançada
instantaneamente. Não adiamos, portanto, por que, uma oportunidade não
aproveitada é uma oportunidade perdida.
Sufocamos
nossas insatisfações, nossas inseguranças com o único jeito que encontramos
como subterfúgio de encontrar uma vida boa. Compramos e não somos assombrados
pela falta de algum produto, mas pela multiplicidade de produtos que estão à
disposição.
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