Enquanto imigrantes africanos morrem aos
milhares para entrar na Europa via Mediterrâneo e os brasileiros arrostam as
danosas consequências do lulismo retrógrado, enquanto o Reino Unido festeja o
nascimento da princesa Charlotte Elizabeth Diana, filha dos duques de Cambridge
e bisneta da rainha Elizabeth II, e o Nepal chora as vítimas do terremoto que
abalou o país asiático, uma pequena comunidade norte-americana repudia o
american way of life e vive sem energia elétrica, sem telefones, sem
automóveis: os amish. E isso no mais próspero país do dissonante planeta Terra!
Sua história reporta-se ao século 16,
quando os cristãos anabatistas surgem em território suíço. Puritanos e
pacifistas exacerbados, os anabatistas afastam-se dos credos vigentes. E pagam
a pena: são perseguidos. Mesmo assim o movimento cresce rapidamente. Do líder
Menno Simmons nasce a expressão menonita, que rebatiza a seita. No século 17,
quando os menonitas já se encontram esparzidos na Europa, eclode a primeira
cisão interna. Inconformado, Jacob Amman funda o seu próprio grupo: os amish.
Acossados, amish e menonitas buscam as esperanças da América e fundam colônias
nos Estados Unidos.
A hospitalidade é a marca registrada dos
amish que vivem em Lancaster, na Pensilvânia. Ali se localiza o principal
reduto da maior e mais conservadora facção de religiosos ortodoxos que os
americanos conhecem e denominam plain people. Vivem na mais pragmática e
utilitarista potência mundial como se vivessem em pleno século 17.
Com uma população de 100 mil indivíduos,
não logram motivo algum para deixar a comunidade na qual se inserem. Para
cumprir os desígnios da crença que abraçam carecem apenas de educação básica.
Por isso as crianças estudam oito anos em escolas construídas e mantidas pela
comunidade. Aprendem inglês e alemão. O idioma germânico é a língua dos livros
de oração; a Bíblia é uma versão luterana.
O projeto de vida dos amish é simples:
possuir um fazenda e criar a família dentro das paredes comunitárias. De
cotidiano saudável e singelo, desconsideram as atividades profissionais como a
medicina e a engenharia, orgulhando-se da faina campesina, da qual retiram o
sustento e encontram o sentido da vida.
O dinheiro que ganham é reinvestido nas
fazendas e na compra de terras herdadas pelos filhos à medida que se casam.
Hábeis agricultores, usam charretes - buggies - de capota preta tiradas por
elegantes cavalos trotadores. Não usam tratores, carros ou caminhões. Bons
negociantes, não desprezam o dinheiro, mas se negam ao uso de cheques ou
cartões de crédito. Pagam tudo em cash. É um modo de simplificar as relações
comerciais com bancos e organismos estatais. Como qualquer cidadão americano,
recolhem impostos, mas recusam-se a usufruir benefícios e não aceitam auxílio
do Estado. Pagamento de juros, nem pensar!
Salvo casos muito especiais, refutam
atendimento hospitalar: preferem resolver tudo sem sair de casa. Os partos são
domésticos, feitos por parteiras; e são muitas, uma vez que não adotam métodos
contraceptivos. Por óbvio, a taxa de natalidade é elevada: cada família tem em
média nove a dez filhos.
As refeições começam e terminam com
orações. Tudo é produzido no lar. Vestem-se com simplicidade quase franciscana.
Há séculos usam o mesmo modelo de vestimenta, sempre em tonalidades escuras,
por eles mesmos confeccionada. Os velhos usam longas barbas, mas raspam o
bigode. Manda-o a tradição. As mulheres, sobre a roupa escura, usam avental
preto ou branco. Preto, se casada; branco, se solteira. Botões, considerados
enfeites, jamais! Substituem-nos por alfinetes.
Os amish pararam no tempo para poder viver
em paz. De hábitos espartanos, educados nos rígidos cânones doutrinários
embasados em tradições centenárias, seu destino é traçado desde os primeiros
passos: os meninos preparam-se para o amanho da terra; as meninas para serem
boas esposas, mães e donas de casa.
O banimento do crente que se afasta do
Senhor é o supremo castigo. A vida explica-se pela Bíblia, de cuja
interpretação conservadora originam-se a falta de vaidade e o modo de vida.
Para registrar o inconformismo com um mundo que consideram cada vez mais
materialista, rejeitam toda e qualquer conquista tecnológica. Computadores,
celulares, TV e cinema são ameaças à família e à religião.
Aos domingos, os amish se agrupam para
danças ao ar livre e lautas refeições. É o momento em que celebram a união
comunitária e a fartura da colheita. Puritanos e pacíficos, como disse, assim
como os anabatistas apostam no trabalho comunitário. Promovem mutirões e são
capazes de erguer uma casa em poucas horas - impressionante solidariedade!
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