Em uma entrevista Woody Allen afirmou que gostaria de ser imortal. Não
no sentido figurado, mas literalmente. Eu também adoraria. A idéia de nossa
própria morte, é sem dúvida o imaginário mais traumático que temos que
conviver. Tanto é assim, que gastamos boa parte de nosso tempo nos defendendo.
Criamos uma série de rituais, que no fundo sabemos ilusório, mas nos que
permite pensar que estaremos protegidos contra ela – nossa morte!- mesmo
sabendo, racionalmente, que isto é impossível.
Lembro ainda, que tememos dois tipos de morte do nosso eu: a morte
tal como a conhecemos, aquela que somos enterrados ou cremados, e a outra
morte, em que não reconhecemos mais ninguém e nem somos
reconhecidos, naquilo que éramos, como por exemplo em estados demenciais
avançados. De onde podemos concluir, que todos queremos vida, no
sentido mais pleno do termo. Vida que seja possível ser vivida.
Mudo aparentemente de assunto: Em 2011 assisti Melancholia de Lars Von Trier. Gostei do
filme e passados 3 anos, ainda me lembro de seu final. O filme
circunscreve o tema da melancolia, através do drama de seus personagens,
particularmente das irmãs Justine (Kirsten Dunst )e Claire (Charlotte
Gainsbourg). Porém, existe um terceiro elemento que teve um impacto maior
para mim. Trata-se do planeta chamado de Melancholia que está se dirigindo
inexoravelmente para terra e vai destruí-la com o seu impacto. Sua rota é
imutável e não há como detê-lo.
Aquilo que não podemos deter e nos ameaça, é para nós o
horror. Assim é a morte, as doenças, as catástrofes naturais
(terremotos, tsunamis), ou ainda loucura alheia, como vimos
recentemente no caso do co-piloto Andreas Lubitz, responsável pela
morte de 150 pessoas.
Mas para além das tragédias de grande porte, existe uma outro desgosto
que nos consome a vida, posto que exaure a nossa aptidão de ter uma vida
mais apreciável para nós mesmos.
Por vida apreciável entendo uma vida, que quando chegar a hora de
nossa morte, possamos olhar para trás, no tocante ao quesitos que
consideramos importantes, seja amor, trabalho, corpo, hobbies,
atividades, família e etc, e possamos nos dizer: “-
eu vivi a vida que queria ter vivido”.
Mas voltemos ao que pode consumir nossa vida – os
vampiros- exaurindo a nossa aptidão para viver uma vida
apreciável. Pois bem, eles são tudo aquilo que sugam a nossa
alegria de viver, com algumas características a serem sublinhadas:
1) São crônicos- ou seja, estão sempre retornando iguais.
2) Temos dificuldades de assumi-los como problemas. Não nos encarregamos
deles. Esperamos passivamente que passem e que não retornem mais.
3) Temos vergonha de não conseguir resolvê-los, quando outros parecem fazê-lo
de forma tão fácil.
4) Sentimos o seu retorno, como um fracasso pessoal, quer
escondamos este fato de nós mesmos ou não.
Podem ser: os 5 Kilogramas a mais em nosso peso, o amor que já não é
mais o mesmo, o trabalho, a relação com o dinheiro, com a inveja, com o ciúmes,
com nossa sexualidade e por ai vai…
Importante é que estes vampiros se impõe para nós exatamente na mesma
relação simbólica com o planeta melancholia. Ficamos impotentes quando eles
reaparecem de tão fixos, sempre com a mesma rota, sem que nos pareça
possível detê-los.Por isso a tendência de não nos encarregamos mais,
achamos que é sem saída!
Mas, já que não podemos impedir a morte,esta sim sem saída,
podemos até o último instante assumir e trabalhar as nossas
“melancholias” – esse osso duro de roer- que impede a vida em vida.
Comente este artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário